'Cobras criadas'

Livro de Maklouf conta a história de David Nasser e O Cruzeiro

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9 de novembro de 2001, 18h53

A vida do principal repórter de O Cruzeiro, David Nasser, é retratada no livro do jornalista Luiz Maklouf Carvalho, um dos jornalistas polêmicos e que mais sucesso fez no país. "Cobras Criadas — David Nasser e o Cruzeiro" é resultado de uma série de entrevistas e detalhado estudo feito por Maklouf.

No livro, o jornalista conta as peripécias profissionais de Nasser e do fotógrafo francês Jean Manzon. O francês acompanhava Nasser em suas reportagens feitas para O Cruzeiro. As reportagens da dupla eram assunto obrigatório de conversa em todo o Brasil. O Cruzeiro foi, por muitos anos, o carro-chefe dos Diários Associados, o império criado pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand.

David Nasser não achava importante que as reportagens correspondessem aos fatos. Era comum inventar situações, personagens ou entrevistas. Como não conseguia ser recebido pelo médium Chico Xavier, Nasser passou-se certa vez por estrangeiro, o que lhe possibilitou ridicularizar o "entrevistado". Em outra ocasião, forjou reportagem sobre a morte do fotógrafo que com ele fazia parceria, Jean Manzón. Em um texto em que ensinava como distinguir um japonês de um chinês, Nasser afirmou que um nipônico pode ser identificado pelo seu "aspecto repulsivo, míope, insignificante". Certa vez, tendo encontrado com Leonel Brizola no aeroporto, logo depois de escrever sobre o político, levou uma surra histórica do ex-governador. O biografado de Maklouf apoiou o golpe militar de 1964 e, usando seus contatos militares, perseguiu seus inimigos de forma implacável.

Ainda assim, entre 1943 e 1951, Nasser e Manzon fizeram reportagens que entraram para a história do jornalismo brasileiro. A mais conhecida é a que mostra o deputado federal Barreto Pinto em fraque e cuecas, que lhe custou a cassação do mandato. Outra que repercutiu até no exterior foi a reportagem sobre os índios xavantes, então fotografados pela primeira vez. Ao todo, Nasser assinou mais de 600 reportagens pela revista. Após o fechamento da publicação, passou a escrever para a Manchete.

Maklouf apresenta, na obra, revelações surpreendentes e chocantes sobre o verdadeiro "ninho de cobras" em que se ambientava a atuação de Nasser, do fotógrafo e da maior revista semanal brasileira da época. A revista chegou a ter uma edição de 720 mil exemplares com a cobertura do suicídio de Getúlio Vargas.

O livro é da Editora Senac São Paulo, tem 600 páginas e custa R$ 45,00.

O autor

Luiz Maklouf Carvalho, nascido em Belém em 1953, é bacharel em direito pela Universidade Federal do Pará e jornalista desde 1974. Trabalhou nos jornais O Liberal, A Província do Pará e Diário do Pará, ganhando neste, em 1977, o prêmio Esso Regional Norte de Jornalismo. Foi editor do jornal Resistência, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, distinguindo-se com quatro prêmios Vladimir Herzog, e correspondente de Movimento, no Pará.

Morando em São Paulo desde 1983, foi repórter especial do Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo. Publicou os livros: Pedro Pomar (co-autor, Editora Brasil Debates, 1981), A Igreja dos Oprimidos (co-autor, Editora Brasil Debates, 1983), Contido à Bala: A Vida e a Morte de Paulo Fonteles, Advogado de Posseiros no Sul do Pará (Editora Cejup, 1994) e Mulheres que Foram à Luta Armada (Editora Globo, 1998), vencedor do prêmio Jabuti de livro-reportagem em 1999.

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