Tapa na Cara

Tapa na cara irrita parlamentares que protestam em Brasília

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22 de fevereiro de 2001, 15h04

As músicas “Tapinha”, cantada por MC Bela & MC Naldinho, e “Tapa na Cara”, do Pagod’art, levaram deputadas e senadoras de vários partidos até o secretário Nacional de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Gilberto Saboya. Elas consideram as músicas uma apologia à violência contra a mulher.

Como essas músicas estão a toda hora sendo tocadas em rádios, em programas de TV e, certamente, irão popularizar-se ainda mais durante o carnaval, as deputadas querem a realização de uma grande campanha na mídia pregando a “integridade física das mulheres”.

O secretário demonstrou solidariedade com a preocupação das deputadas, mas não acenou de imediato com qualquer solução. “Eu não posso censurar essas músicas”, ponderou o embaixador que, no entanto, manifestou o seu repúdio às letras relatadas pelas deputadas.

“Se te bota maluquinha, um tapinha eu vou te dar porque dói, um tapinha não dói”, diz uma das letras. A outra música conta que a mulher pede ao amante um tapa na cara e o rapaz demonstra, de início, até uma certa relutância porque não tem o hábito de bater em mulher, mas acaba concluindo: “com amor, se você quiser…eu vou te dar”.

A deputada Iara Bernardi (PT-SP) comentou que as músicas estão sendo tocadas até a saturação em programas de domingo nas TVs, incluindo no Xuxa Park destinado a crianças e adolescentes. E teme retrocessos no trabalho de combate à violência contra a mulher a partir da “banalização” de um tapa na cara que seria promovida pelas músicas. “Se o tapa é natural, o que será depois disso: o estupro?”, protesta a deputada.

Opinião dos leitores

A redação da revista Consultor Jurídico recebeu várias mensagens de manifestação sobre as atitudes das parlamentares e as músicas polêmicas.

Segundo os psiquiatras Henrique Bon e Márcia Salomone, “as letras de algumas músicas banalizam a violência e são veiculadas com exaustão em programas de televisão”.

“A mídia tem a capacidade de vender comportamento, banalizando atitudes francamente preconceituosas, explicitamente violentas, por vezes tangenciando a psicopatia, superficializando em geral as conseqüências”, comentaram os psiquiatras.

De acordo Bon e Márcia, é necessário pensar em medidas democráticas e legais que possam ser tomadas contra músicas do gênero, “sem ranço de censura ou retorno a tempos sombrios”.

Alguns leitores, que não se identificaram, discordam da posição das deputadas e senadoras. Segundo um leitor, elas deveriam se preocupar com outros fatos que acontecem no Brasil. “Como a rebelião que ocorreu no último fim de semana em São Paulo”, exemplificou.

Outro leitor considerou que as parlamentares deveriam estar empenhadas em “amenizar a fome das crianças pobres em vez de se preocupar com músicas”.

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