Rede Globo

Matarazzo processa Globo por divulgar seqüestro sem autorização

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29 de maio de 2000, 13h24

A Rede Globo está sendo processada por ter divulgado, sem autorização, a notícia do seqüestro do filho do empresário Luiz Matarazzo. De acordo com o empresário, a emissora colocou a vida de seu filho em risco porque os seqüestradores não sabiam que ele pertencia à família Matarazzo, nome que remete a “poder e fortuna”.

Luiz Matarazzo e seu filho Gonçalo Matarazzo foram seqüestrados no dia 6 de março deste ano. Eles se identificaram aos seqüestradores como Luiz Lara e Gonçalo Lara, temendo que o sobrenome Matarazzo causasse o aumento do valor do resgate e da duração do seqüestro.

No dia 7 de março, o valor do resgate foi fixado em R$ 100.000,00. Ficou combinado que, no mesmo dia, o pai seria solto para providenciar o pagamento. Gonçalo permaneceria com os seqüestradores até a entrega do dinheiro.

Antes de voltar para casa, o empresário aconselhou o filho a continuar omitindo seu sobrenome.

No dia 8 de março, já solto, Luiz Matarazzo procurou os órgãos de imprensa para pedir que o seqüestro de Gonçalo fosse mantido em sigilo, até a libertação.

Todas as emissoras de televisão acolheram o apelo do empresário, com exceção da Rede Globo, que veiculou a notícia no Jornal Hoje, das 13:00 horas. Na ocasião, além de revelar o verdadeiro nome dos seqüestrados, a rede de TV lembrou que Luiz “é primo do senador Eduardo Suplicy e do secretário de Comunicações do Governo, Andrea Matarazzo”.

Diante da atitude da TV, o empresário recorreu a amigos influentes, como a deputada Martha Suplicy e Jaime Monjardin, para que pedissem à emissora que o seqüestro não fosse mais divulgado.

Contudo, o chefe de jornalismo da Globo, Evandro Carlos de Andrade, não atendeu ao apelo.

Assim, Luiz procurou o repórter Roberto Cabrini, que informou que a notícia envolvendo o filho do empresário não só seria veiculada no Jornal Nacional, como seria chamada introdutória.

De acordo com o advogado da família Matarazzo, Manuel Alceu Affonso Ferreira, para minorar os riscos da notícia, Luiz concedeu entrevista ao jornal, que não desistira em hipótese alguma da matéria. Na entrevista, o empresário fez um apelo aos seqüestradores para que não atentassem contra seu filho.

Na noite em que o Jornal Nacional deu a notícia do seqüestro, os criminosos torturaram Gonçalo para que confessasse ser um Matarazzo. Seguindo as indicações do pai, o menino afirmou que seu sobrenome era Lara. Por isso, passou uma noite inteira sem água e alimentação, até dizer a verdade.

Apesar de terem descoberto a mentira, os seqüestradores libertaram o menino depois de receber o dinheiro do resgate.

Segundo o advogado dos Matarazzo, a libertação de Gonçalo também foi noticiada no Jornal Nacional, que acusou a família de tentar se aproveitar da posição social para restringir o dever de informação da emissora. Consta da notícia também, que o empresário utilizou o programa para se comunicar com os bandidos.

Na ação de indenização, o advogado Manuel Alceu alegou que o principal valor protegido na Constituição Federal é a vida. Segundo ele, a liberdade de imprensa também deve ser resguardada, mas nunca em detrimento da vida.

“Tudo cabia, inclusive o desdém à sobrevivência de um menino de 12 anos, para que os jornais da TV Globo mantivessem a liderança da audiência e, destarte, o polpudo lucro comercial de seus patrocinadores. Em nome do ‘furo’, tudo valia”, argumentou o advogado.

Procurado pela revista Consultor Jurídico, o advogado da Globo, Luiz de Camargo Aranha Neto, disse que não poderia comentar o caso porque ainda não foi citado.

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