ACM na berlinda

ACM faz que briga com Temer, mas seu alvo é outro.

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15 de junho de 1999, 0h00

A troca de ofensas entre o presidente da Câmara, Michel Temer, e o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, provocou o cancelamento da sessão conjunta do Congresso Nacional nesta terça-feira (15/6).

A briga começou quando ACM – contrariado pelas mudanças que Temer fez no relatório do deputado Aloysio Nunes Ferreira – afirmou que o presidente da Câmara não deveria “intrometer-se na reforma do Judiciário, até porque é um advogado”.

Em resposta ao presidente do Senado, Temer afirmou que a reforma não é matéria para curioso e que ACM deve dar suas opiniões quando o relatório “chegar à Casa que preside”. O senador reagiu e começaram as ofensas pessoais.

ACM afirmou que o deputado está sabotando a reforma do Judiciário. Segundo o senador, Michel Temer não queria a CPI do Judiciário porque não quer que sejam descobertas imoralidades. “Aliás, preocupar-se com coisas morais nunca foi o forte do senhor Michel Temer”, disse.

O presidente da Câmara rebateu dizendo que “em matéria de moral eu dou de 10 a 0 nele (ACM)”. Temer afirmou que “desde a ditadura militar, o senador domina o setor elétrico. Prefiro acreditar que isso não aconteça por motivos inconfessáveis”.

Michel Temer recebeu manifestação de apoio da liderança do PT na Câmara. Em nota oficial, o partido repudiou a troca de ofensas entre os líderes das Casas. Para o líder do PT na Câmara, José Genoíno, as discussões estão beirando a quebra do decoro parlamentar.

A aparente cruzada de ACM contra irregularidades no Judiciário e o tiroteio com Temer escondem a verdadeira estratégia do senador.

O plano de estabilização econômica e as medidas para redução do déficit do governo têm encontrado nas decisões da Justiça enormes obstáculos. Uma consulta ao noticiário nas semanas que antecederam a criação da CPI do Senado mostra que a principal preocupação governamental era exatamente a anulação das suas medidas no Judiciário.

As acusações contra atos de magistrados e os escândalos apresentados são importantes – assim como a investigação de mazelas e mutretas em todos os demais setores da vida pública. Mas as principais intenções do senador baiano são outras.

Profissional que é, ele conseguiu empinar a mais eficiente campanha para a Presidência da República em curso, ao mesmo tempo em que tolheu um grande volume de decisões judiciais contra o governo.

Não são poucos os exemplos. Mas quem achar que ACM virou um paladino da moralidade pública e que sua briga é com Michel Temer estará perdendo os melhores lances desse jogo de xadrez.

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