Angústias Repetitivas

Lesões por Esforços Repetitivos têm nova concepção

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26 de outubro de 1997, 23h00

Um número enorme, e crescente, de trabalhadores é acometido das chamadas Lesões por Esforços Repetitivos (LER). A ocorrência desses distúrbios, que tem impedido muitos profissionais de prosseguirem em suas atividades, invariavelmente desagua no Judiciário.

A conceituação original das LER,contudo, foi revista. O próprio nome do problema acaba de ser alterado para “Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho” (DORT). Para explicar a mudança, a Consultor Jurídico encomendou ao especialista dr. Sérgio Gama (ortopedista e traumatologista) o estudo que se segue:

DEFINIÇÃO:

“Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho” (DORT) é a nova terminologia usada para substituir as “Lesões por Esforços Repetitivos” (LER), por evitar que na própria denominação já se apontem causas e efeitos definidos (ex: “repetitivo” ou “lesões”).

As DORT representam um grupo heterogêneo de quadros clínicos bem definidos ou difusos. Segundo BARREIRA, T.H.C., as então, lesões por esforços repetitivos seriam um conjunto de disfunções músculo-esqueléticas que acometem os membros superiores e a região cervical e estão relacionados ao trabalho.

INTRODUÇÃO:

Segundo Ramazzini, médico italiano que viveu no século XVII e escreveu sobre as doenças ocupacionais, 200 anos antes da Revolução Industrial : “A natureza impõe ao ser humano a necessidade de prover a vida diária através do trabalho.

Dessa necessidade, surgiram todas as artes como as mecânicas e as liberais, que não são desprovidas de perigos, como, aliás, todas as coisas humanas. É forçoso confessar que ocasionam não poucos danos aos artesãos, certos ofícios que eles desempenham. Onde esperavam obter recursos para sua própria manutenção e a da família, encontram graves doenças e passam a amaldiçoar a arte à qual se haviam dedicado”.

O mesmo autor escreveu sobre aqueles que trabalhavam sentados: “aqueles que levam uma vida sedentária e assim chamados de artesãos de cadeira, como os sapateiros, alfaiates e os notários, sofrem doenças especiais, decorrentes de posições viciosas e da falta de exercícios”.

Sobre o tratamento das doenças ocupacionais, Ramazzini aconselhava: “em primeiro lugar, que se empenhem em corrigir os males provocados pela vida sedentária, com exercícios corporais moderados e fricções. Que usem proteção das mãos contra o frio, como as luvas …, convém adequar a alimentação …, para a cabeça, purgatórios, e mastigatórios como o fumo, usado moderadamente…”.

Dentre os vários conceitos (que como vimos não são tão atuais!) destacamos os dos sociólogos e psicólogos, que acreditam ser as DORT, manifestação somática das angústias do nosso tempo, desencadeada pela organização do trabalho moderno, em pessoas com perfil susceptível; ou dos médicos, principalmente os ortopedistas, que acreditam ser um processo inflamatório acometendo tendões, que se atritam uns com os outros e todos contra proeminências ósseas ou estruturas ligamentares, durante os movimentos repetitivos.

EPIDEMIOLOGIA:

1)Faixa etária:

  • masculino = 20%

  • feminino = 80%

    2)Sexo :

  • 20 – 35 anos = 40%

  • 36 – 45 “ = 27%

    3)Atividade Profissional :

  • bancários = 31%

  • metalurgicos = 29%

  • comércio = 4%

  • outros = 26%

    4)Função :

  • montador = 35%

  • digitador = 21%

  • operador de caixa = 13%

  • outros = 31%

    5)Região afetada :

  • punho = 27%

  • antebraço = 19%

  • mão = 11%

  • coluna cervical = 10%

  • ombro = 7%

  • outros = 26%

    *(Dados / HC – FMUSP – 1996)

    PATOLOGIA:

    A origem dos distúrbios devem-se a uma combinação ou não dos seguintes fatores:

    a)uso repetitivo dos grupos musculares

    b)uso forçado dos grupos musculares

    c)postura inadequada.

    Alguns autores subdividem as lesões causadas por esforço repetitivo em:

  • patologias bem definidas e de fácil diagnóstico (ex: tendinites e tenossinovites, epicondilites, síndrome do túnel do carpo, fibromialgia, cistos sinoviais…)

  • síndromes dolorosas multifatoriais e de difícil diagnóstico

    TRATAMENTO:

    É importante ressaltar a importância de um tratamento multi-disciplinar, com a participação de ortopedistas, fisiatras, médicos do trabalho, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros.

    Como em qualquer área da medicina, deve-se partir do princípio que o homem é um “conjunto” indivisível de corpo e mente, interagindo com o meio ambiente, e visa:

    • correção dos fatores ergonômicos e biomecânicos
    • repouso do membro afetado na fase aguda (orteses ou gesso)
    • reabilitação precoce (fisioterapia)
    • medicamentos (analgésicos, antiinflamatórios e relaxantes musculares)
    • cirurgias (raro)
    • avaliação psicológica
    • outros (acupuntura)

    Em geral as patologias bem definidas ou regionais apresentam melhores resultados terapêuticos, ao contrário dos casos crônicos e difusos, com poucos achados no exame físico e nos exames complementares.

    PREVENÇÃO:

    As medidas de prevenção iniciam-se através da identificação dos fatores de risco na situação de trabalho:

  • Adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão

  • Frio, vibrações e pressões locais sobre os tecidos

  • Posturas inadequadas (ex: movimentos contra a gravidade)

  • Carga osteomuscular (ex: força, repetitividade, duração da carga, tipo de preensão, postura do punho e método de trabalho)

  • Carga estática (ex: membro mantido em posição contra a gravidade)

    Segue-se uma abordagem individualizada, e que deverá contar com a participação dos diferentes profissionais da empresa, adequando o posto de trabalho, equipamentos e ferramentas, condições ambientais e organização do trabalho, no sentido de evitar as lesões ou progressão das mesmas.

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