A advocacia sem fronteiras

Advogados se preparam para a globalização da advocacia

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29 de julho de 1997, 0h00

Na madrugada de 1º de julho de 1997, o iate real Britannia deixou o porto de Hong Kong, simbolizando a retirada do controle inglês sobre o território, agora devolvido à China. Mas outro representante da tradição britânica permanece firme na ilha: o escritório local da Wilde Sapte.

Uma secular law firm sediada em Londres, a Wilde Sapte foi fundada em 1785, e mantém escritórios também em outros centros do capital mundial, como Nova York, Paris, Bruxelas e Tóquio.

“O profissionalismo de escritórios desse tipo é uma escola indispensável no atual quadro de internacionalização da economia brasileira”, avalia o advogado paulista Eduardo Boccuzzi, doutorando em Direito Tributário pela Universidade de São Paulo e sócio de Boccuzzi e Duarte Advogados Associados, escritório paulista especializado na assessoria jurídica a empresas nacionais e estrangeiras. Eduardo Boccuzzi trabalhou um ano na Wilde Sapte, como advogado visitante. “Existe rapidez, especialização e atuação internacional”, assegura.

Essa vocação internacionalista é natural para um escritório que tem no seu portfólio de clientes mais de uma centena de instituições financeiras e aprendeu a operar em escala global. Sua principal especialidade alcança o Direito Bancário e o mercado internacional de capitais. Com cerca de 300 advogados na sua equipe, um quarto deles na condição de sócios, e um total de mais de 600 funcionários, a Wilde Sapte atua em uma ampla gama de especialidades da área comercial: bancos, transportes, fusões e aquisições, seguros, propriedades e falências.

Detalhes da infra-estrutura da sede do escritório em Londres dão uma idéia do nível de profissionalização: serviços de apoio administrativo, como digitação, cozinha e restaurante, funcionam 24 horas. O advogado está envolvido num caso urgente, com prazos exíguos? Dormitórios com salas de banho poupam o tempo e o trabalho de ir para casa e voltar.

“Torna-se cada vez mais necessário que o advogado com atuação voltada ao setor empresarial tenha uma vivência no exterior”, acredita Boccuzzi. “Entre outras mudanças, a tendência de formação de blocos econômicos, como o Mercosul e a Alca – Área de Livre Comércio das Américas -, e a abertura do sistema bancário à competição estrangeira, marcada pela compra do Bamerindus pelo Hong Kong Shangai Banking Corporation, permitem vislumbrar uma demanda crescente por assessoria jurídica especializada e de visão internacional”, avalia.

Durante o período em que esteve na Wilde Sapte, ele trabalhou no Departamento Bancário, e foi convidado a atuar em todas as operações que envolviam o Brasil – emissão de eurobônus de empresas brasileiras, leasing de aeronaves para companhias aéreas brasileiras, estruturação de operações financeiras internacionais e abertura de escritórios de empresas brasileiras em Londres.

Além de aprimorar seu inglês jurídico, Boccuzzi também pôde aproveitar as aulas de Direito Bancário que sócios mais experientes da Wilde Sapte ministravam para os advogados visitantes. As palestras eram gravadas e passavam a integrar a videoteca de treinamento do escritório.

“Sem familiaridade com o Direito inglês, eu era obrigado a passar horas à noite estudando na biblioteca do Wilde Sapte, para que meu desempenho pudesse ser satisfatório”, revela o advogado. Esforço e dedicação que nada mais são que rotina no Wilde Sapte – e uma pista para se descobrir como um escritório de advocacia pode se perpetuar através dos séculos.

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