História impressa

Das "Diretas Já" ao massacre do Carandiru, OAB-SP expõe jornais históricos

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20 de março de 2017, 20h43

Relembrando a explosão da carta-bomba, em 27 de agosto de 1980, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, o presidente da seccional paulista da OAB, Marcos da Costa, iniciou as comemorações dos 85 da entidade: Para prestigiar a classe, a seção São Paulo colocou em exposição as principais capas da história do Jornal do Advogado.

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Edição do Jornal do Advogado em exposição na OAB-SP.
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Os exemplares podem ser vistos no salão principal da OAB-SP, no prédio da Rua Maria Paula, até o dia 28 de abril. Depois, a exposição passará por diversas subseções da entidade em São Paulo. A primeira a receber o material será a de Santos.

“A vontade era de colocar todas as capas, pois todas são importantes, mas não era possível. Então selecionamos as que representaram momentos especiais", complementa, destacando a edição que tratou do massacre do Carandiru. "A primeira entidade a denunciar que houve uma chacina, o maior escândalo do Brasil, e a chegar no presídio foi a Ordem”, disse Marcos da Costa.

Criador do jornal, em 1974, o criminalista Paulo Sérgio Leite Fernandes, conta que o começo da publicação foi singelo, contando com apenas ele, seu colega Cid Vieira de Souza e alguns meninos internados na Febem ajudando no carregamento e organização. “Nós dobrávamos isso a mão, no segundo andar lá da Praça da Sé. Depois arrumamos um motorzinho de costura que dobrava em quatro. Eram 25 mil exemplares no máximo”, relembra o criminalista com um sorriso.

Leite Fernandes destaca também a edição censurada do Jornal do Advogado pela ditadura. A publicação contava os motivos da morte do jornalista Vladimir Herzog, torturado no DOI-CODI por agentes do regime militar. “'O Brasil o Antes e Depois de Herzog' era o título. Eu perdi a última edição que tinha ou a escondi o suficiente para não vê-la mais. Tenho até hoje o rolo de um filme retratando o defunto de Vladimir Herzog. Ninguém mais tem esse material, mas nunca o divulguei em respeito à família.”.

O advogado, que atua há 61 anos na área criminal, ressalta que o caso mudou os rumos do Brasil naquele momento tão obscuro. Em meio às memórias que se misturam à história do Brasil, Leite Fernandes também conta quando a seccional paulista foi alvo de uma falsa notícia de atentado. Segundo ele, à época, eram apenas 18 conselheiros na OAB-SP, e, em uma tarde, durante uma reunião do conselho, os presentes foram informados de que havia uma bomba no prédio.

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Ex-presidente da OAB-SP Paulo Leite Fernandes foi o criador do Jornal do Advogado.
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“Após a notícia ficamos decidindo o que faríamos. Dispensamos todos os funcionários e, quando chegou a hora de deixarmos o prédio, ninguém queria sair. Então decidimos que quem quisesse sair poderia, mas se a bomba não explodisse, teria que pagaria o jantar de todos os que ficassem. Ninguém saiu porque os jantares eram realmente muito caros, pois o pessoal comia e bebia muito bem”, brinca.

Para Luiz Flávio Borges D’Urso, ex-presidente da OAB-SP e conselheiro federal da entidade, a exposição é muito importante, porque mostra o que a OAB e a advocacia enfrentaram ao longo dessa história. “Por outro lado, mostra também que os problemas atuais são recorrentes, e isto serve de alerta, porque nós precisamos atuar permanentemente diante dos desafios que se apresentam à toda a sociedade.”

Gisele Fleury, secretária-geral adjunta da OAB-SP, classificou o momento como especial e reforçou que, mesmo após 85 anos de história, ainda são muitos os desafios. “Quando vemos essa história linda que a advocacia trouxe para o país, os bons trabalhos realizados por meio da Ordem e da advocacia nos dá muito orgulho.”

Confira algumas das capas do Jornal do Advogado expostas no salão da OAB-SP:

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