Sons da crise

Ouça conversa de Michel Temer com presidente da JBS e delator da "lava jato"

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18 de maio de 2017, 18h53

O Supremo Tribunal Federal divulgou a gravação da conversa do presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista, donod o frigorífico JBS. O arquivo foi encaminhado nesta quinta-feira (18/5) para o Palácio do Planalto, que havia solicitado à corte o conteúdo da delação premiada que envolve o chefe do Executivo.

Marcos Corrêa/PR
Temer é acusado de incentivar o pagamento de R$ 500 mil para comprar silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.
Marcos Corrêa/PR

Temer é acusado, em delação premiada homologada pelo ministro Luiz Edson Fachin, de incentivar o pagamento de R$ 500 mil ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que ele não fizesse acordo de delação. A Procuradoria-Geral da República investigará crime de corrupção passiva e obstrução a investigações.

Na conversa, Joesley conta para Temer como tem feito para "dar conta" dos processos que correm contra ele na Justiça Federal. Em determinado momento, conta ao presidente como fez para "segurar" os dois juízes substitutos, e diz que há um procurador que "passa informação". Conta que está negociando com "um procurador lá da força-tarefa".

O procurador da República seria Ângelo Goulart Villela foi preso sob a suspeita de receber dinheiro para repassar informações a Joesley. O empresário diz a Temer que paga R$ 50 mil por mês a um procurador para que ele o mantenha atualizado sobre o andamento das ações.

Depois ele pergunta como ele pode fazer para tratar "desses assuntos". Temer diz que está disponível, mas Joesley recusa: "Não vou incomodar o senhor…" E o presidente sugere "o Rodrigo", que seria de confiança. Nesta quinta, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) foi afastado de seu mandato pelo ministro Fachin.

Joesley Batista é investigado nas operações "lava jato", que apura corrupção na Petrobras; greenfield, que trata de fraudes com fundos de pensão; e num inquérito que apura irregularidades em empréstimos do BNDES. 

No diálogo, o empresário reclama do “espetáculo” que o Ministério Público faz durante as investigações. Ele conta que já disse para um procurador, sem identificar o servidor, que não tem problema investigar, mas reclama do modo como os casos são conduzidos. “Doutor procurador, pode investigar, não tem problema. Mas não fica dando solavanco, fazendo medidas escancaradas. Divulgando para imprensa. Eu posso estar certinho, mas vou chegar morto no final do processo de tanto solavanco”, disse. Ele conta ainda que pediu “favor” ao procurador para denunciá-lo. O procurador teria respondido que não havia nada contra o empresário. “Inventa. Se o senhor ficar desse jeito vai me quebrar”.

O país
A primeira reclamação de Joesley a Temer é sobre a taxa de juros. O empresário acredita que ela precisa cair para atrair investimentos ao Brasil. Temer responde que "vai cair".

Os dois também conversam sobre a gestão de Temer. "Assumi faz dez meses! Parece que foi ontem", comenta o presidente. "Dez, não, porque teve aquele período ali antes de concretizar", lembra Joesley. "Mas modéstia à parte", diz Temer, antes de começar a falar sobre indicadores econômicos: "Em 2018 vamos comemorar".

Joesley também pergunta sobre o andamento da ação em trâmite no Tribunal Superior Eleitoral que investiga se a chapa Dilma-Temer cometeu crime eleitoral na campanha de 2014. "O TSE não me cassa porque tem consciência política", explica Temer. O presidente diz na conversa que pretende recorrer ao STF caso o TSE casse o seu mandato.

Os dois conversam sobre uma estratégia para pressionar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em questões de interesse do frigorífico. “Se ele escorregar eu digo: ‘consulta o presidente. Consulta e me fala”, combinam. Temer concorda e o empresário conclui. “Era só isso, eu queria ter esse alinhamento para ele perceber que nós estamos…”, afirma.

Em um trecho do diálogo, Joesley diz a Temer que não responde a processo na Justiça. “De tudo o que aconteceu conosco tem só um PIC, um procedimento investigativo criminal. Não tem uma prova, um dinheiro meu no exterior”, argumenta.

Ele também diz não acreditar que as investigações estejam perto do fim. “Esses meninos não têm juízo. Eles não param. Vão ficar. Um delata um, que delata outro, que delata outro”, reclama. 

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