Último adeus

Amigos e colegas se despedem de Teori Zavascki em velório em Porto Alegre

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22 de janeiro de 2017, 11h13

‘‘É uma perda lamentável. O país precisa, cada vez mais, de homens com a competência moral e profissional como a do ministro Teori Zavascki. Que Deus o conserve na memória dos brasileiros como exemplo a ser seguido’’, afirmou o presidente Michel Temer, ao se somar às homenagens póstumas ao ministro, que foi velado no sábado (21/1) em Porto Alegre, na sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Teori, por capricho do destino, inaugurou o tribunal ao fim do seu mandato como presidente da corte (2001-2003).

O corpo do ministro Teori chegou por volta das 8h15 ao prédio do TRF-4 e seguiu para o local do velório reservado apenas aos familiares, que se estendeu até as 11h, quando o local foi aberto ao público, menos à visitação de jornalistas. Calcula-se que o evento, que durou até as 16h, tenha recebido a cobertura de quase 100 profissionais de imprensa e cerca de dois mil visitantes. O corpo foi enterrado pela família em cerimônia reservada no Cemitério Jardim da Paz.

Junto com  Temer, que chegou por volta as 13h30, vieram os ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil; Osmar Terra, do Desenvolvimento Social e Agrário; Alexandre Moraes, da Justiça; e José Serra, das Relações Exteriores. Temer também estava acompanhado do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e dos governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); e do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB). 

A presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, chegou na sexta-feira (20/1) e se manteve ao lado da família, oferecendo conforto, e voltou para Brasília na tarde de sábado (21/1). Todos, em manifestações privadas ou aos jornalistas, estavam no mesmo tom: perplexidade pela perda e elogios à conduta e à obra do ministro Teori.

O depoimento mais emocionado foi o do ministro Dias Toffoli, vice-presidente do Supremo. Para ele, a morte de Teori Zavascki é uma perda para a nação brasileira, para o Poder Judiciário, para o Supremo Tribunal Federal e para o Tribunal Superior Eleitoral. "A serenidade, a simplicidade e a humildade dele marcarão para sempre a Justiça brasileira. É uma perda pessoal que nos abala. Estamos sofrendo muito com esta passagem do ministro. E eu não poderia deixar de vir aqui e dar um beijo neste grande amigo", declarou, com a voz embargada.

O vice-presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores, disse que Teori, com quem conviveu por 14 anos, será sucedido, jamais substituído, tal o vazio deixado por sua morte na magistratura brasileira. Ele via o amigo como um homem muito estudioso, que cultivava a discrição, a serenidade e a cordialidade. "Para um magistrado de tribunal, de um órgão colegiado, a cordialidade tem de ser o registro principal de sua personalidade. Afinal, um magistrado precisa convencer e persuadir os seus colegas, jamais intimidá-los ou atemorizá-los."

Thompson Flores lembrou que Teori gostava, mesmo, era de processo civil, matéria sobre a qual era chamado frequentemente a opinar. Na metade da década de 90, quando foram feitas as primeiras reformas no Código de Processo Civil, o ministro participou da comissão que elaborou as proposta. A comissão era coordenada pelo ministro Athos Gusmão Carneiro, do Superior Tribunal de Justiça, morto em 2014.

Amigos, colegas e dirigentes lamentam a perda
Segundo o desembargador do TRF-4 Luís Alberto d’Azevedo Aurvalle, Teori era homem de várias facetas, todas brilhantes. Aurvalle, que conheceu Teori na década de 80, disse que o ministro foi um magistrado de cultura jurídica invejável, um autor talentoso e um administrador com grande capacidade gerencial.

O desembargador Paulo Afonso Brum Vaz conheceu Teori em 1996. "Tive a honra de julgar com ele e conheci sua capacidade. Posso dizer que foi uma espécie de guru para mim. Sempre me espelhei na conduta dele como magistrado, acadêmico e ser humano", declarou Brum Vaz, que teve um de seus livros sobre Direito Processual Civil prefaciado pelo ministro.

Os servidores do tribunal também lembram do ministro com carinho e admiração. Regaldo Amaral Milbradt, que foi diretor judiciário quando Teori presidiu o TRF-4, definiu o ex-chefe como um sábio, que falava apenas o essencial. Ele sempre decidiu da melhor maneira possível. "Era um homem prático e com um poder de síntese espetacular", resumiu.

Além de dirigentes e colegas das duas cortes, Teori Zavascki deixa muitos amigos e admiradores no meio da advocacia. Embora as restrições de acesso ao velório para jornalistas, a reportagem conseguiu o depoimento de alguns profissionais que militam em Porto Alegre.

Veja o que disseram amigos, colegas e autoridades sobre o ministro Teori:

Ricardo Breier, presidente da OAB-RS
Para nós gaúchos, e acho que para a nação jurídica nacional, a morte do ministro Teori  Zavascki representa uma perda sem precedentes. Um ministro com o espírito de advogado, com inscrição inicial na OAB-RS e que representou a advocacia na sua plenitude ao chegar à magistratura por meio do Quinto Constitucional da Advocacia. Uma pessoa culta, equilibrada, capacitada e, acima de tudo, com coerência e saber jurídico, como poucos.

João Pedro Silvestrin, vice-presidente do TRT-RS, no exercício da Presidência
O ministro Teori Zavascki foi um grande magistrado, exemplo de juiz, uma pessoa extremamente centrada, possuidora de elevado e invejável conhecimento jurídico. Com a sua morte, todos perdem. Pessoalmente, tive o privilégio de compartilhar com o ministro inúmeras viagens entre Porto Alegre e Brasília, no período em que estive convocado no Tribunal Superior do Trabalho. O ministro estava sempre munido de um bom livro para leitura.  

Luiz Felipe Silveira Difini, presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
Perdemos um excelente juiz e um grande brasileiro que, em seu trabalho, se notabilizou pela honestidade, competência, discrição e seriedade. Estamos todos consternados com esta tragédia. Foi uma perda extremamente significativa para a vida jurídica e para a própria vida brasileira. Quero registrar também minhas condolências e solidariedade à família enlutada e amigos.

Paulo de Tarso Sanseverino, ministro do STJ
Perdemos um grande magistrado e um grande amigo, pois era meu companheiro de viagem de Brasília para Porto Alegre. Perdemos um juiz que teve a capacidade de atuar com grande discrição mas, também, com grande profundidade e atenção a todos os processos. É exemplo de como deve proceder um magistrado, especialmente nas altas funções da República.

Roberto Veloso, presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe)
A sua função no STF, como relator da Lava Jato, nos dava a tranquilidade para saber que o processo corria normalmente, sem qualquer sobressalto. O ministro era um homem culto, sério, honesto, cumpridor de seus devedores, muito trabalhador, muito preparado e conduzia esse processo como nenhum outro.

Gerson Fischmann, advogado
Sempre que tive o privilégio de encontrar o ministro Teori, recebi dele a atenção que dedicava a todos: humildade, seriedade e companheirismo. Não era preocupado com honrarias, com agrados ou desagrados. Era um magistrado com espírito de advogado. Sempre lembrava sua origem do quinto da advocacia. Jamais o vi negar um pedido para alguma palestra, para alguma palavra, para alguma aula, salvo quando impossível. Uma perda irreparável para o País. Oxalá, seu exemplo sirva de ensinamento e inspiração a todos nós, em momento tão necessário da vida nacional. Assumiu a relatoria da “Lava Jato” com a simplicidade de quem tinha absoluta segurança de estar fazendo justiça. Nunca precisou de aplausos. Jamais abriu mão do cumprimento exato de suas funções. Tinha a clara noção da importância do momento sem que isso tivesse alterado um milímetro de sua personalidade de homem integro, honesto e com grande espírito de humanidade.  Perdemos um homem que se fez grande nas pequenas coisas do dia a dia. Que nosso dia a dia possa ser iluminado pelas lições de Teori Albino Zavascki, lições de vida, de caráter, de postura e de justiça.

Léo Iolovitch, advogado
Conheci o Teori quando ingressamos juntos na Faculdade de Direito da UFRGS, em Porto Alegre, no ano de 1968. Quando da formatura, foi escolhido o orador da turma. Fez um belo discurso. Como juiz, sempre foi sério, competente e discreto. Chegou naturalmente à presidência do TRF-4, mantendo seus predicados. Destacou-se também pelo estudo e conhecimento de Processo Civil e publicou obras sobre o tema. Tinha enorme apreço e admiração por Paulo Brossard, que também gostava dele. Foi escolhido ministro do STJ e depois do STF. No Supremo, manteve sempre suas características de sempre, nunca mudou. Quando nos encontrávamos, lembrava os amigos da Faculdade, insistia para visitá-lo quando fosse a Brasília e lamentou não poder comparecer na última comemoração de aniversário de formatura. Sempre foi sério e discreto. Avesso a pressões e  independente. Foi sempre um juiz, como deve ser um juiz.

César Augusto da Silva Peres, advogado
Consternados, assistimos apagar-se a luz de Teori Zavascki, ministro do STF, ministro do STJ, desembargador do TRF-4, processualista exemplar, referência para o grupo de ministros. A invejável bagagem jurídica e os longos anos de ilibada magistratura o projetaram como ministro-guia. Equilibrado e neutro, angariou a admiração e a confiança dos pares. Nunca expôs a instituição. Indevassável, jamais vergou-se à opinião pública. Comportamento que deve ser seguido nas demais nomeações ao órgão guardião do direito brasileiro. Diante de tal legado institucional, não perde a lava-jato, perde o Brasil, perdemos todos.

Jader Marques, advogado
Um ministro com postura e comportamento de ministro, com conhecimento jurídico e sensibilidade de ministro, com envergadura moral de ministro, um jurista completo que reuniu todas as condições para ocupar o mais alto cargo da Corte Máxima do País. Teori Albino Zavascki, professor, mestre e doutor, presidente do TRF da 4ª. Região, ministro do Superior Tribunal de Justiça e, finalmente, ministro da Suprema Corte, nunca deixou de ser o homem educado, amável, amigo dos seus amigos, apaixonado pelo seu Grêmio, enfim, pessoa que mostrava a todos com quem convivia a grandeza da sua simplicidade. O Supremo Tribunal Federal perde um dos melhores juízes de toda a sua história. O País perde um notável brasileiro. Os familiares e amigos perdem um notável homem simples que será sempre motivo de honra, lembranças e saudade. Descanse em paz, ministro Teori.

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