Carreira em evolução

Pinheiro Neto foca ensino em prática profissional e conceitos de administração

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8 de janeiro de 2017, 8h38

*Esta é terceira reportagem da série que mostra como grandes escritórios do Brasil fazem para aprimorar o conhecimento de seus advogados. Leia a primeira e a segunda parte. 

Apontado como escritório mais tradicional do Brasil, o Pinheiro Neto quer que seu advogado saiba mais que apenas Direito. A Escola de Formação, nome do sistema interno de ensino da banca, fundado em 2012, possui três pilares, sendo dois deles, Direito e Prática Profissional, diretamente relacionados ao ensino jurídico. Porém o outro elemento é Negócios, na qual o profissional aprende conceitos sobre administração de empresas, matemática financeira, finanças, contabilidade e avaliação de demonstrações financeiras.

Divulgação/Pinheiro Neto
Pinheiro Neto molda seus cursos para cada estágio da carreira do advogado: quando sócio, é importante aprender sobre gestão de pessoas.Divulgação/Pinheiro Neto

Tendo apenas empresas entre seus clientes, a banca desenvolve o estudo de administração para que os advogados tenham uma noção maior da realidade de quem contrata seus serviços, o que ajuda a desenvolver a relação com eles.

“Temos um curso de empresas que trabalha desde a formação de uma empresa, investimentos feitos, até chegar num processo de abertura de capital. Fazemos toda a demonstração”, afirma Renê Medrado, um dos sócios responsáveis pela formação no Pinheiro Neto, em entrevista à ConJur.

Sócios e professores
Já o pilar de Direito não se pretende uma reposição de aulas de faculdade, mas um modo do advogado se reciclar e se inteirar de como é aplicado na prática o conceito aprendido em sala de aula. As aulas podem ser dadas por sócios ou professores e especialistas de fora. Em 2016, por exemplo, o curso do novo Código de Processo Civil foi ministrado pela Associação dos Advogados de São Paulo (AASP).

Começamos a enviar os advogados para estudar no exterior no início dos anos 1990, quando o Brasil estava saindo de uma economia muito mais fechada do que é hoje. E o contato com o exterior, o interesse do exterior pelo Brasil era pequeno. A gente percebeu que sem que tenhamos pessoas treinadas para atender os clientes estrangeiros no mesmo nível deles, o escritório não iria crescer como queríamos — Raphael de Cunto

“Alguns cursos internos são feitos pelo sócios com o objetivo de passar o conhecimento da firma, sócios ou consultores, para quem está começando. Em relação a Direito Tributário, por exemplo, nós temos na grade um curso sobre processo tributário, que é dado inteiramente pelos sócios da área. Tivemos também um curso do contencioso, que foi dado pelos sócios do contencioso, indo desde a petição inicial até recursos”, detalha Medrado.

Fonoaudióloga para sustentação oral
Uma mostra de como as aulas práticas são desenvolvidas é o curso de sustentação oral inaugurado neste ano. Os sócios prepararam um case real do Supremo Tribunal Federal e os mostrou para dez advogados entre o nível pleno e sênior. Os profissionais tiveram aula com o sócio sênior do contencioso, Celso Mori, e também com uma fonoaudióloga especializada em comunicação para ajudar a melhorar tanto a parte verbal quanto também o não-verbal do advogado na hora de fazer a sustentação oral.

Existe um contrato meio implícito entre advogado e o escritório, que é assim: o advogado vem para o escritório e vai devotar toda a sua inteligência, tempo, energia e o escritório, nesse contrato implícito, vai dizer, ‘tá bom, vou te ensinar’, em termos de como ser um advogado, como cuidar de um caso, como cuidar de cliente, como se portar. Este é o treinamento on the job — Renê Medrado

"Os advogados faziam a apresentação de sustentação oral, sendo filmados e recebendo o feedback na hora da banca. Depois, receberam um relatório também, para terem tudo registrado”, relembra o sócio Rapahel de Cunto, um dos idealizadores da Escola de Formação.

Cada um em seu tempo
Segundo os sócios, a escola vai se adequando ao momento de amadurecimento do advogado. Quando são juniores, recebem uma carga maior de conceitos básicos de Direito, negócios e prática profissional. Já na fase de plenos, as aulas abordam uma certa diversificação no tipo de de matérias, mas com menos gasto de tempo, porque é o momento em que eles se especializam em mestrados e pós.

“E aí quando chegam a sêniores, já tendo passado por alguma especialização, são advogados já com 30 anos, é normal, então, que se busque dar atenção à questões de gestão de liderança, gestão de pessoas, gestão do tempo, já que nessa fase eles têm estagiários e lideram equipes de advogados”, conta Medrado.

Bolsas e pós 
Ao longo o tempo, o escritório foi desenvolvendo um sistema de bolsas de mestrado e pós-graduações. Hoje, os projetos são submetidos a uma comissão,  analisados pela área, que verifica a adequação do curso ao objetivo de especialização do associado.

No início, os mestrados e especializações fora do país se destinavam a quem trabalhava na área empresarial, que em geral fazia um MBA em mercado de capitais. Com a gradual abertura econômica após anos 1990, outras áreas passaram a ser contempladas com as bolsas.

“Essa política de incentivo começou a fazer sentido para outras áreas, então começamos a falar de antitruste, de arbitragem, planejamento tributário… Hoje nós temos em torno de 14 associados fora do país”, contabiliza Medrado.  

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