Conversa no escuro

Amigo de Moro intermediou negociação de delação premiada com o MPF, diz advogado

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27 de agosto de 2017, 11h46

O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, acusa o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negociações paralelas dele com membros do Ministério Público Federal que trabalham na operação “lava jato”.

As conversas costumam ser sobre abrandamento de penas e diminuição da multa que o ex-advogado da empreiteira deveria pagar em um acordo de delação premiada, segundo reportagem da jornalista Mônica Bergamo publicada na edição deste domingo (27/8) do jornal Folha de S.Paulo.

Em troca, segundo Duran, Zucolotto seria pago por meio de caixa dois. O dinheiro serviria para "cuidar" das pessoas que o ajudariam na negociação, segundo correspondência entre os dois que o ex-advogado da Odebrecht diz ter guardado. Tacla Duran deve lançar um livro em outubro deste ano contando a história.

Segundo a narração de Duran, as negociações aconteceram pelo Wickr, aplicativo que criptografa o conteúdo da comunicação e destroi as mensagens enviadas. Zucolotto nega as acusações e afirma que nunca se encontrou nem conversou com Duran. Diz ainda que não utilizava o aplicativo.

A mulher do titular de Sergio Moro, Rosangela, já foi sócia do escritório de Zucolotto. O advogado defende também o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que faz parte da força-tarefa da "lava jato", em ação trabalhista que tramita no Superior Tribunal de Justiça.

Tacla Duran foi acusado de lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa pelo Ministério Público Federal. O advogado tentou fazer delação premiada, mas as negociações fracassaram, diz, porque ele se recusou a admitir crimes que não havia cometido. Atualmente, Duran mora na Espanha e é considerado foragido da Justiça. Moro decretou a prisão dele, que foi detido no país europeu em novembro de 2016, mas libertado em janeiro deste ano. O advogado tem dupla cidadania. O governo brasileiro já pediu a sua extradição, mas a Espanha negou.

O advogado afirma que tratou das investigações da “lava jato” com Zucolotto entre março e abril de 2016, de acordo com a reportagem da Folha. O escritório do advogado atuava havia dois anos como correspondente da banca Tacla Duran Advogados Associados, no acompanhamento de audiências trabalhistas e execuções fiscais.

Procurado pela reportagem do jornal, Moro defendeu, por meio de nota, o amigo. Ele disse ser "lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça".

"A alegação de Rodrigo Tacla Duran de que Carlos Zucolotto teria prestado alguma espécie de serviço junto à força-tarefa da Lava Jato ou qualquer serviço relacionado à advocacia criminal é falsa", disse o magistrado. "O sr. Carlos Zucolotto atua na área trabalhista e jamais advogou em matéria criminal", disse Moro.

Em nota ao site Antagonista, Moro disse que o relato de Duran é falso e que ele não apresentou quaisquer provas a respeito do que alega. "Lamenta-se o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido", escreveu o juiz.

Moro afirmou ainda que sua mulher, Rosangela, participou "de uma sociedade de advogados" com Zucolotto, mas "sem comunhão de trabalho ou de honorários".  Segundo ele, Rosangela "jamais trabalhou em processos do escritório do sr. Carlos Zucolotto e vice-versa".

Leia a nota do juiz Sergio Moro:

Sobre a matéria Advogado acusa amigo de Moro de intervir em acordo, escrita pela jornalista Mônica Bergamo e publica em 27/8/2017 pelo jornal Folha de S.Paulo, informo o que segue:

-O advogado Carlos Zuccoloto Jr é advogado sério e competente, atua na área trabalhista e não atua na área criminal;

-O relato de que o advogado em questão teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Duran sobre acordo de colaboração premiada é absolutamente falso;

-Nenhum dos membros do Ministério Público Federal da força tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque, de fato, não ocorreu qualquer contato;

-Rodrigo Tacla Duran não apresentou à jornalista responsável pela matéria qualquer prova de suas inverídicas afirmações e o seu relato não encontra apoio em nenhuma outra fonte;

-Rodrigo Tacla Duran é acusado de lavagem de dinheiro de milhões de dólares e teve a sua prisão preventiva decretada por este julgador, tendo se refugiado na Espanha para fugir da ação da Justiça;

-O advogado Carlos Zuccoloto Jr é meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me;

E

-Lamenta-se o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria.

Curitiba, 27 de agosto de 2017. Sergio Fernando Moro, juiz federal.

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