Dia do Advogado

51 anos depois, texto de Adilson Dallari sobre a ditadura militar ainda é atual

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11 de agosto de 2017, 9h01

Pouco mais de dois anos após o golpe de 1964, que derrubou o então presidente João Goulart, Adilson Dallari lia, no meio do pátio da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, um contundente texto contra os abusos e censuras cometidos pelo regime militar que governava o Brasil. Passados 51 anos, as mensagens daquele 11 de agosto de 1966 se encaixam perfeitamente no contexto atual e passam lições que ainda não foram totalmente aprendidas.

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Adilson Dallari destacou em seu texto a necessidade de liberdades e de responsabilidade sobre atos que afetem a sociedade.
Felipe Lampe

“O que é o inverno senão o período de incubação da primavera que necessariamente há de se seguir”, questionava o jurista, então presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito, sem saber que aquele período triste da história brasileira duraria mais 19 anos.

Os diretórios acadêmicos foram impostos pela ditadura com o objetivo de substituir e extinguir os centros acadêmicos em geral. “Mas nós, estudantes do Largo de São Francisco, fizemos o contrário: usamos o diretório acadêmico para manter o centro acadêmico, que era corajosamente presidido pelo colega Sérgio Lazzarini”, conta Dallari.

Em seu discurso, feito 11 anos antes da famosa Carta aos Brasileiros, lida pelo professor Goffredo da Silva Telles Júnior na mesma instituição, Dallari já defendia posicionamentos que merecem ser lembrados: “Já não há mais lugar para nacionalismo xenófobos e autárquicos”.

Anunciando que os tempos trariam um “limiar de uma nova ordem”, Dallari dizia que o futuro seria “caracterizado pela libertação das energias diversas das nações livres e dos homens livres”. Também profetizou: “O progresso tecnológico por si só não pode trazer felicidade ao homem e perderá qualquer sentido se não for acompanhado e disciplinado pela evolução da ordem jurídica”.

Quase que prevendo o que estaria por vir, o advogado destacou a “enorme responsabilidade” daquela geração e pedia pelo fim de mitos e preconceitos, destacando também que grandes problemas não são resolvidos por “fórmulas mágicas ou panaceias nem salvadores messiânicos”.

“A semente plantada em 11 de agosto de 1827 ainda não floresceu nesta geração acadêmica, mas, se este chão do largo São Francisco ainda é o mesmo chão livre e generoso que recebeu a semente, se esta Escola é ainda um templo ao Direito, se ainda dentre suas muitas tradições, conserva a de estar na vanguarda da evolução histórica, se seus mestres ainda são expoentes da cultura jurídica nacional, não poderão os alunos se furtarem à fatalidade de seu destino”, finalizou.

Clique aqui para ler a carta.

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