Ex-contadora de Youssef, Meire Poza é denunciada pela primeira vez
10 de novembro de 2016, 20h24
A contadora Meire Poza foi denunciada pela primeira vez na operação “lava jato”, dois anos depois de conceder entrevista à revista Veja revelando ter participado de esquemas para encobrir fraudes em contratos do governo federal. Segundo o Ministério Público Federal, ela participou do desvio de R$ 2,4 milhões da Caixa Econômica Federal, em conjunto com o ex-deputado André Vargas, o irmão dele, Leon Vargas, e o empresário Marcelo Simões.
A denúncia, protocolada nesta quinta-feira (10/11), afirma que houve irregularidades na contratação da IT7 Sistemas para fornecer softwares e suporte técnico à Caixa, em 2013, no valor de R$ 71 milhões. Parte desse dinheiro foi repassado a empresas de Meire Poza para serviços fictícios de consultoria, de acordo com o MPF.
O doleiro Alberto Youssef, um dos primeiros alvos e delatores da “lava jato”, disse que indicou sua ex-contadora para cumprir a tarefa.
André Vargas é acusado de ter utilizado seu cargo de deputado federal e vice-presidente da Câmara dos Deputados para interferir nas contratações da Caixa — ele tinha “relação estreita” com um ex-diretor de marketing da instituição, como já reconheceu o juiz federal Sergio Fernando Moro em outra sentença contra o ex-parlamentar.
Já Leon Vargas e Simões, dono da IT7, falsificaram documentos para encobrir os desvios, ainda segundo os procuradores da República que assinam a peça. Eles afirmam que o Tribunal de Contas da União viu problemas desde a licitação até na forma como foram definidos os serviços contratados.
O MPF afirma que o esquema de lavagem de dinheiro foi comprovado em planilhas apreendidas durantes as investigações. Cabe agora ao juiz Sergio Moro avaliar se abre a ação penal. Na quarta-feira (9/11), ele tornou réu o ex-secretário do PT Silvio Pereira apenas um dia depois de receber a acusação.
Duas vezes réu
O ex-deputado André Vargas está preso no Paraná e já foi alvo de outros dois processos. Em um deles, foi condenado a 14 anos e 4 meses de prisão, mais multa de R$ 779 mil, por ter facilitado a contratação de outra empresa com a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde: a agência de publicidade Borghi Lowe Propaganda.
Em troca, produtoras subcontratadas depositaram “comissão” a empresas de fachada controladas por Vargas e seus irmãos, conforme a sentença.
Ex-petista, ele teve o mandato cassado em dezembro de 2014 por quebra de decoro parlamentar, após ter aceitado convite de Alberto Youssef para viajar de avião com a família e ainda ter tentado favorecer empresa ligada ao doleiro em uma parceria com o Ministério da Saúde.
“Infiltrada”
A defesa de pelo menos um dos investigados na “lava jato” questionou, em fevereiro de 2015, por que a contadora Meire Poza não havia sido denunciada, como revelou a revista eletrônica Consultor Jurídico.
Em maio deste ano, ainda no governo Dilma Rousseff (PT), o Ministério da Justiça chegou a pedir que a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República investigassem como ela ajudou os investigadores da operação em Curitiba.
O então ministro Eugênio Aragão queria saber se a contadora foi usada como “agente infiltrada” dos investigadores para colher informações depois usadas nos inquéritos e indiciamentos.
Clique aqui para ler a denúncia.
Clique aqui para ler o resumo de 17 das 22 sentenças da "lava jato".
* Texto atualizado às 21h40 do dia 10/11/2016 para acréscimo de informações e às 13h30 do dia 11/11/2016 para incluir íntegra da denúncia.
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