Repressão empresarial

Volkswagen contrata historiador para investigar papel da empresa na ditadura

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4 de novembro de 2016, 7h28

A montadora alemã Volkswagen anunciou nesta quinta-feira (3/11) que contratou um historiador para investigar o envolvimento da empresa com o governo durante a ditadura militar no Brasil. De acordo com nota divulgada pela companhia, o trabalho do historiador Christopher Kopper, da Universidade Biefeld, será “esclarecer o papel do Grupo Volkswagen na ditadura militar brasileira”.

O anúncio é uma consequência direta dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, montada pelo governo federal para investigar crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante a ditadura (1964-1985), e tomar depoimentos dos envolvidos. O trabalho revelou que presos políticos foram torturados em uma das fábricas da Volkswagen no Brasil e disse que várias subsidiárias brasileiras de empresas alemãs repassaram informações sobre seus funcionários ao Departamento de Ordem Política e Militar (Dops), órgão de repressão do governo militar, durante 1972.

Diante das informações colhidas pela Comissão da Verdade, um grupo de sindicatos enviou um ofício ao Ministério Público Federal pedindo que as informações fossem investigadas. De acordo com o documento, 12 ex-funcionários da Volkswagen foram presos e torturados dentro da fábrica da companhia em São Bernardo do Campo, em São Paulo, segundo informações da agência Deutsche Welle.

Ainda conforme as investigações da Comissão da Verdade, a partir de 1972 foi criado um “aparato repressivo militar-empresarial”, que monitorava as atividades de funcionários e repassava as informações ao Dops.

Em entrevista à BBC, o historiador contratado pela Volkswagen disse que "é importante checar novamente as críticas da comissão à Volkswagen, pois não se trata somente dos casos de repressão política que se tornaram públicos, mas também se a empresa, de forma geral, lucrou com a ditadura. Irei além do que os historiadores já pesquisaram sobre o tema".

De acordo com a executiva Christine Hohmann-Dennhardt, Kopper começará seu trabalho assim que possível e vai se mudar para o Brasil em breve. A companhia ainda anunciou que nomeará um novo diretor de comunicações históricas, cargo que ficou vago desde que o executivo anterior foi demitido por causa de seu trabalho em relação à ditadura brasileira.

Christine Hohmann-Dennhardt é membro do conselho de administração da montadora e responsável pela área de integridade e assuntos jurídicos. “Vamos esclarecer o papel da companhia durante a ditadura militar no Brasil com a mesma indispensável perseverança e consistência que usamos nos esclarecimentos em relação ao Nacional Socialismo e o uso de trabalho forçado”, declarou. "Queremos jogar luz sobre os anos de trevas da ditadura militar e explicar o comportamento dos responsáveis na época no Brasil e, se possível, na Alemanha."

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