Colaboração informal

Governo investigará se contadora de Youssef foi "agente infiltrada" na "lava jato"

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2 de maio de 2016, 18h45

O Ministério da Justiça pediu para que a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República investiguem como a contadora Meire Poza ajudou os investigadores da operação “lava jato” em Curitiba. O ministro Eugênio Aragão quer saber se ela foi usada como “agente infiltrada” dos investigadores para colher informações que depois foram usadas nos inquéritos e indiciamentos.

Wilson Dias/ABr
Meire Poza colaborou com investigações sem formalizar acordo de delação premiada e, agora, busca proteção.
Wilson Dias/ABr

Segundo os investigadores, Meire Poza era a contadora de todas as empresas do doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da operação. Ela se apresentou à “lava jato” no dia 29 de abril de 2014, logo depois da prisão de seu ex-cliente, já para apresentar uma série de documentos à força-tarefa, que depois serviram de base para os inquéritos e indiciamentos.

Ela pretendia ser uma colaboradora das apurações, em troca de algum benefício. Segundo seu advogado, Haroldo Náter, ela estava na expectativa de algum tipo de perdão por parte da PF e do Ministério Público. Mas agora a contadora está diante da possibilidade de ser denunciada, já que efetivamente participou de muitas dos fatos que ela mesma denunciou.

Segundo Náter, ela pedirá à PGR e ao Ministério da Justiça algum tipo de proteção, e perdão judicial ao Supremo Tribunal Federal. O entendimento é o de que ela foi fundamental para as investigações e muito do que se descobriu na “lava jato” teve início com as colaborações dela.

Mas, segundo reportagem da revista Carta Capital, Meire não foi simples colaboradora. Diz o texto que ela foi usada como uma "agente infiltrada" pela PF, que aproveitou os documentos e informações dados à força-tarefa para forjar diligências e até para grampear parlamentares sem autorização do Supremo. E é isso o que o ministro da Justiça quer que seja investigado.

Os investigadores que atuam “lava jato” não pretendem se manifestar sobre o caso. Apenas garantem que a reportagem da Carta Capital distorce os fatos. O próprio advogado diz não conhecer a maioria das informações trazidas pela revista. Segundo ele, Meire o procurou preocupada com o que poderia acontecer com ela, já que poderia ser tornar ré confessa. “Mas a Carta Capital diz coisas muito mais sérias do que ela me contou”, diz o advogado.

Haroldo Náter afirma que sua cliente fez uma “colaboração informal” com a PF, na expectativa de ter algum tipo de perdão dos investigadores. “Mas foi tudo na informalidade”, conta. “Como a colaboração não foi posta em papel, não houve um termo de colaboração, o alcance desse perdão não ficou definido. Tudo ficou na base da conversa.”

Essa versão dos fatos é controversa. Gente que participou dessa fase das investigações disse que ela jamais pediu perdão, e nem os investigadores ofereceram. E garantem que foi ela quem recusou fazer um acordo de delação premiada.

O que Meire pediu, segundo pessoas que acompanham o caso de perto, foi que a contribuição dela fosse levada em conta mais para frente. O problema foi que a autoproclamada força-tarefa da “lava jato” nunca chegou a um consenso sobre o que fazer. Alguns integrantes eram a favor de não denunciá-la e outros, contra. Afirmam que, por lei, o MP, diante do cometimento de um crime e da prova da autoria, é obrigado a denunciar.

“Ela agora teme pela segurança dela e da filha dela”, afirma Náter. Ele conta que já houve um incêndio no escritório de contabilidade da cliente, e “há muitos indícios de que foi um incêndio criminoso”. “O que se pretende é, em razão da extensão e da importância da colaboração dela, pedir o perdão judicial.”

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