Conselho aos industriais

Ex-executivo da Fiat fala na Fiesp sobre flexibilização na relação de trabalho

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29 de janeiro de 2016, 11h30

Em um auditório da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), no último andar do icônico edifício da Avenida Paulista, o empresário italiano Paolo Rebaudengo fala que o momento que vivia era quase único. Após passar meses costurando acordos entre a Fiat e os sindicatos na Itália, era uma das primeiras entrevistas que ele concedia. “Não falei com jornalistas durante todo aquele tempo. Tinha receio das minhas palavras serem colocadas fora de contexto”, disse, ressaltando que se tratava de algo exclusivo.

Adri Felden/CNI
Adri Felden/CNI

Rebaudengo (foto), alto executivo da Fiat por anos, foi fazer uma palestra aos industriais paulistas sobre flexibilização das relações de trabalho. O evento foi fechado e ele atendeu a imprensa somente após a exposição em que contou sua experiência. Ainda assim, a postura defensiva o impediu de soltar alguma declaração mais incisiva.

Perguntado se estava familiarizado com a queixa brasileira da Justiça do Trabalho ser tendenciosa em favor do trabalhador e que isso afasta empresas do país, Paolo foi evasivo. “A empresa é importante para a sociedade e tem o direito legítimo de exercer sua atividade. E é bom para todos que ela cresça e se desenvolva e a entidades patronais tem o dever de passar esse conceito aos empregados”, disse.

Sobre se a atual crise econômica que o Brasil enfrenta é um momento bom ou ruim para propor flexibilização nas relações de trabalho, ele adotou um meio-termo. “Sempre que se propõem mudanças de qualquer natureza dizem que não é o momento. Isso é uma questão comportamental do ser humano. Mas as mudanças são bem-vindas e devem ir em mais de uma direção. Isso quer dizer, olhando para o trabalhador, para a empresa e para o sindicato, não mudanças que olham apenas para um lado”.

Como se quisesse resumir um mantra, ele afirmou que o “crescimento das empresas produz mais empregos”. Há um limite para essa flexibilização? Por exemplo, pode-se reduzir até qual porcentagem o salário? Cortar benefícios de alimentação? “Flexibilidade é algo que vai muito além da relação com o trabalhador. É superar as dificuldades que a empresa passa. E, além disso, existe a questão industrial e a questão social. Essa última deve ser muito observada na esfera estatal”, afirmou Paolo.

Flexibilização à italiana
Enquanto no Brasil a palavra flexibilização sofre ampla oposição dos sindicatos, na Itália, ela não passa de uma aproximação do que já acontece por aqui. Isso porque a legislação italiana é muito mais protetiva ao trabalhador.

Para se ter uma ideia, no dia 7 de janeiro deste ano entrou em vigor na Itália o Ato Trabalhista, série de medidas propostas pelo primeiro-ministro Matteo Renzi. O principal ponto é dar às empresas garantias para poder demitir. Até então, um trabalhador demitido sem justa causa obtinha na Justiça o direito de ser recontratado no mesmo posto e recebia indenização.

Com a nova lei, a empresa deve pagar uma indenização ao empregado conforme o tempo que ele trabalhou. “Foi um passo necessário e importante, mas não é suficiente. Temos que avançar mais”, opinou um insatisfeito Paolo.  

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