Ministros lamentam

Morre Anadyr Mendonça, ex-ministra que revolucionou a Advocacia-Geral da União

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6 de janeiro de 2016, 11h00

Morreu de complicações de um câncer, nesta quarta-feira (6/1), a procuradora Anadyr Mendonça Rodrigues, personagem importante na criação da Procuradoria-Geral Federal. Ela foi responsável pela coordenação dos Órgãos Vinculados da Advocacia-Geral da União, movimentação que deu origem à PGF. Além disso, Anadyr foi a primeira corregedora-geral da União no governo Fernando Henrique Cardoso, cargo que lhe dava status de ministra.

Em 1972, foi a única mulher aprovada no concurso da Justiça Federal de primeira instância. Mais tarde, tornou-se a primeira mulher no Ministério Público Federal e a pioneira também a assumir o cargo de advogada-geral da União interinamente. “Estou acostumada a quebrar tabus”, dizia.  

Mãe de três filhas e avó de uma menina, Anadyr foi casada com o procurador-geral do Distrito Federal, Ary Lopes Rodrigues. Ao assumir o posto de corregedora-geral da União em 2001, disse que estava estudando muito e esse tempo lhe fazia falta no convívio familiar: “Sinto falta de ter tempo para ficar com a família reunida na nossa chácara e de ir pescar com meu marido”.

Na mesma ocasião, contou como encarou o convite do presidente Fernando Henrique Cardoso para assumir o cargo que havia sido criado. “Senti naquele momento uma terrível preocupação pelo tamanho da responsabilidade, mas o convite era irrecusável.”

Pesar
O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes classificou-se como “admirador incondicional” e “eterno devedor” de Anadyr. “Um exemplo de caráter e de competência. Tudo que foi feito na AGU na minha gestão não teria sido possível sem a sua colaboração.”

Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, também lamentou a morte de Anadyr: “Era uma profissional enérgica e comprometida com o interesse público. No tempo que esteve na Advocacia-Geral da União, foi responsável pela coordenação dos Órgãos Vinculados, promovendo verdadeira revolução na defesa das autarquias e fundações públicas e permitindo a posterior criação da Procuradoria-Geral Federal”.

Dias Toffoli, ministro do STF, destaca a luta que Anadyr encampou por toda vida por ser uma mulher operadora do Direito: "Ela se formou em Direito no Largo de São Francisco em 1958, uma época em que a sociedade reservava a vida acadêmica para os homens. Recentemente, em um discurso na OAB-DF, desabafou sobre todas as discriminações que sofreu ao longo da carreira por ser mulher. Deixa um grande exemplo profissional e de vida". 

Em nota, a Controladoria-Geral da União diz que recebeu a notícia da morte “com imenso pesar”. “Aos familiares e amigos, a CGU externa seu profundo sentimento de solidariedade.” O órgão afirma que ela sempre teve postura competente e ilibada à frente de suas atribuições, seja enquanto ministra, advogada-geral da União e sub-procuradora-geral da República, “principalmente no propósito de combater a corrupção e promover a defesa do patrimônio público”.

A Advocacia-Geral da União externou profundo pesar pela morte da jurista. "Anadyr é apontada como uma das mais importantes figuras do mundo jurídico e também da advocacia pública. Na Advocacia-Geral, teve passagem rápida, porém marcante. Entre 2000 e 2001, ela ocupou o cargo de coordenadora dos Órgãos Vinculados, unidade responsável pela defesa das autarquias e fundações federais antes da estruturação da Procuradoria-Geral Federal, braço da AGU que atualmente exerce essa função", escreveu a entidade.

Otávio Luiz Rodrigues, professor de Direito na USP e colunista da ConJur, afirma que Anadyr foi umas das "construtoras da Advocacia-Geral da União" e também ressaltou a importância da atuação dela na "abertura simbólica de espaços para as mulheres na alta administração federal". 

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