Geração espontânea

Janot diz que acordo para delação da OAS não cita ministro Dias Toffoli

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23 de agosto de 2016, 21h09

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta terça-feira (23/8) que não saiu do Ministério Público a informação que o empresário Leo Pinheiro, presidente da OAS, se comprometeu a denunciar o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal. Em sessão no Conselho Nacional do Ministério Público, Janot afirmou que não houve qualquer menção a Toffoli nas negociações entre o empresário e a PGR para o acordo de delação premiada.

José Cruz/Agência Brasil
Depois de cancelar acordo de delação de Leo Pinheiro, Janot afirma que não houve menção a Toffoli em acordo com PGR.
José Cruz/Agência Brasil

“Ou se trata de um fato que o jornal ou meio de comunicação houve por bem publicar ou se trata de um fato que alguém vendeu como verdadeiro”,  disse o procurador-geral. Na opinião dele, não houve vazamento, houve a invenção de uma informação com o objetivo de forçar a assinatura do acordo de Leo Pinheiro.

“Reafirmo que não houve nas negociações ou pretensas negociações de colaboração com essa empreiteira nenhuma referência, nenhum anexo, nenhum fato enviado ao Ministério Público que envolvesse essa alta autoridade judiciária”, disse. “Posso afirmar peremptoriamente que esse fato não foi trazido ao conhecimento do Ministério Público. Esse pretenso anexo jamais ingressou em qualquer dependência do Ministério Público, portanto, de vazamento não se trata.”

A notícia de que Toffoli fora mencionado por Leo Pinheiro foi divulgada pela revista Veja no sábado (20/8) que estampou reportagem na capa sobre o assunto. Na segunda-feira (22/8), Janot informou a imprensa de que cancelara as negociações com Leo Pinheiro para uma delação premiada.

Não foi a primeira vez que informações pela metade e sem fonte foram divulgadas à imprensa com o objetivo de pressionar magistrados e tribunais a concordar com as teses acusatórias, conforme mostrou reportagem da ConJur publicada no sábado.

Em todos os episódios anteriores, o vazamento foi precedido de manifestações que desagradaram os procuradores da operação “lava jato”. No caso de Toffoli, a concessão de um Habeas Corpus ao ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo. Meses antes, o ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, do Superior Tribunal de Justiça, concedeu HC a executivos da Odebrecht. Dias depois, a revista IstoÉ publicava detalhes da delação do ex-senador Delcídio do Amaral que falava sobre como o ministro conversou com a presidente Dilma Rousseff sobre a vaga antes de ser indicado por ela.

Mas Janot garante que não houve vazamento no caso de Toffoli. O posicionamento causa desconfiança entre advogados que têm clientes envolvidos na “lava jato”. É que, se ele assumisse que a informação vazou, teria de abrir inquérito, quebrar sigilo etc., com risco de descobrir que o tal vazamento não partiu de empresários nem de defensores.

Abuso de autoridade
O episódio de Toffoli fez com que o ministro Gilmar Mendes saísse ao ataque da postura adotada pelo Ministério Público Federal na condução da “lava jato”. “Você não combate o crime cometendo crime. Ninguém pode se entusiasmar, se achar o ó do borogodó, porque vocês [jornalistas] dão atenção a eles. Cada um vai ter o seu tamanho no final da história. Então, um pouco mais de modéstia. Calcem as sandálias da humildade. O país é muito maior do que essas figuras eventuais e cada qual assume sua responsabilidade”, disse o ministro.

Segundo Mendes, "tudo indica" que as informações não foram vazadas pela defesa do empresário e que é preciso esclarecer a atuação dos integrantes do MPF no caso. “Houve manifestações críticas dos procuradores. Isso já mostra uma atitude deletéria, a autoridade não reage com o fígado, não sai usando informações à sua disposição. Quem faz isso está abusando da autoridade”, criticou.

O ministro também criticou a decisão de Janot de cancelar as negociações do acordo com Leo Pinheiro. Na opinião dele, a solução para o caso não é “prejudicar quem esteja disposto a contribuir com a Justiça”. “Eu acho que a investigação tem que ser em relação logo aos investigadores, porque esses vazamentos têm sido muito comuns, é uma prática bastante constante.” Com informações da Agência Brasil.

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