Dossiê brasileiro

Com suas entrevistas, jornalista Geneton Moraes Neto deu memória ao país

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22 de agosto de 2016, 22h13

Dossiê é um conjunto de documentos importantes que revelam a vida de indivíduos, países ou instituições, explica o dicionário Houaiss. E não é por acaso que a palavra está no título das obras deixadas pelo jornalista Geneton Moraes Neto, que morreu nesta segunda-feira (22/8). Por meio do trabalho dele, é possível entender a história do país.

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Geneton Moraes Neto morreu nesta segunda-feira (22/8), aos 60 anos. Ele sofreu um aneurisma na artéria aorta e estava internado desde maio.
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De Dossiê Drummond, que disseca o poeta Carlos Drummond de Andrade, ao Dossiê Brasília – Os Segredos dos Presidentes, onde os entrevistados são os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o jornalista consegue contar bastidores que, muitas vezes, fogem aos olhos de quem corre apressado pelo noticiário.

A arte de Moraes Neto era fazer seus entrevistados falarem livremente. São as perguntas que muitos gostariam de fazer e poucos gostariam de responder — para ele, respondiam. De José Sarney, por exemplo, tirou a lapidar: "A Presidência é um cargo perigoso, porque expele os ocupantes — pela doença, pela incompetência, pela deposição ou pela renúncia". De Collor, arrancou a confissão de que ele se arrependia de ter convocado a população a sair às ruas de verde e amarelo.

A lista dos entrevistados é extensa e causa inveja a qualquer colega de profissão: seis presidentes da República, três astronautas que pisaram na lua, dois prêmios Nobel e o assassino de Martin Luther King, entre outras figuras que fizeram história em diferentes frentes, como Miguel Arraes, Ariano Suassuna e Millôr Fernandes.

Sua parceria com Joel Silveira, um dos maiores jornalistas brasileiros, rendeu livros-reportagem como Nitroglicerina Pura e Hitler/Stalin: O Pacto Maldito, além do documentário Garrafas ao Mar: A Víbora Manda Lembranças, feito por Moraes Neto sobre o colega e amigo.

Morto aos 60 anos (40 de jornalismo), no Rio de Janeiro, o repórter teve um aneurisma na artéria aorta e estava internado desde maio. Nascido em Recife, em 1956, o jornalista brincou, em entrevista à TV Globo, nas raras vezes que estava em frente às câmeras: “Nasci numa sexta-feira 13, num beco sem saída, numa cidade pobre da América do Sul. Tinha tudo para fracassar. Fracassei”. Sua obra jornalística prova a ironia da frase.

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