Encontro de gerações

Almoço de ex-alunos da USP une saudosismo, trovas e elogios a Temer

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11 de agosto de 2016, 21h21

Várias gerações de franciscanos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo encontraram-se nesta quinta-feira na tradicional comemoração de 11 de Agosto, Dia do Advogado, em almoço promovido pela associação de ex-alunos da instituição. Um ano depois de sediar manifesto pela renúncia da presidente Dilma Rousseff (PT), o evento rendeu elogios contidos ao presidente interino Michel Temer (PMDB) — também bacharel pela USP — e comentários sobre o período dele como estudante.

O ministro aposentado Flávio Flores Bierrenbach, ex-integrante do Superior Tribunal Militar, afirmou que foi de seu discurso do ano passado que teve início um movimento concreto em apoio ao processo de impeachment de Dilma. Ele disse ter sido porta-voz de um grupo preocupado com “o flagelo ético” do país, que inspirou o pedido protocolado na Câmara dos Deputados pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior e pela advogada Janaina Paschoal.

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Flávio Bierrenbach pediu renúncia de Dilma na edição do evento de 2015.
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“Esse pronunciamento gerou algo irresistível no Brasil. Não sabemos o que vai acontecer, sabemos que aconteceu por nossa causa. Sabemos que hoje temos no exercício da Presidência da República um presidente colega nosso — interino, é verdade, mas com a mesma legitimidade de votos, os mesmo 54 milhões de votos [registrados pela chapa PT-PMDB nas eleições de 2014]”, afirmou Bierrenbach.

Um pequeno grupo de participantes do evento respondeu com gritos de “Fora, Temer”. O ministro aposentado disse que em nenhum momento quis chegar a uma posição unânime no Largo de São Francisco, “onde sempre se cultivou a divergência, onde a síntese dos opostos transformou problemas em soluções”. Para Bierrenbach, o importante é que franciscanos nunca se calem em momentos dramáticos.

O ex-deputado federal Almino Álvares Afonso, ministro do Trabalho no governo João Goulart (1963), também defendeu o direito de divergência em questões políticas, exceto sobre ideias contrárias ao regime democrático. “Só quem não sabe o que é ditadura pode pedir a volta dos militares ao poder”, afirmou. Ele também declarou que a Petrobras está “arrebentada” e que precisa de apoio da comunidade jurídica para garantir “o amanhã deste país”.

O constitucionalista José Afonso da Silva, antigo professor da USP, disse à imprensa não ver fundamentação jurídica no pedido de impeachment, apesar de se declarar contrário ao governo Dilma. Para ele, o Supremo Tribunal Federal errou ao fixar o rito do processo, pois a corte não poderia ser tratada como órgão de consulta, para estabelecer diretrizes para outros órgãos. “Quem deve fazer isso é o legislador”, afirmou.

O presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito, José Carlos Madia de Souza, disse à revista Consultor Jurídico que o espaço de debate é livre entre seus integrantes, mas avalia que a comemoração do 11 de Agosto deveria se concentrar em manifestações sobre amizade entre os participantes, lema da entidade, e não em análises sobre o cenário político.

Temer, que já participou de edições antigas do encontro, enviou mensagem com “votos de cumprimento a todos os participantes de nosso tradicional evento que marca a história da data de início dos cursos jurídicos do Brasil” — em São Paulo e Olinda (PE), em 1827. Bicudo e Janaina Paschoal também não compareceram, enquanto Reale Júnior abraçou antigos colegas.

Memórias
O almoço foi promovido no Circolo Italiano, no edifício Itália, no centro da capital paulista. Nas rodas de conversa, o ministro aposentado Massami Uyeda, do Superior Tribunal de Justiça, comentou que Michel Temer confidenciou a ele que seria presidente da República ainda na década de 1960, quando atuou no centro acadêmico 11 de Agosto.

Já o advogado Francisco Parra Jr., presidente do Lions Clube Tucuruvi, aponta que faltava carisma a Temer quando se candidatou a presidente do centro acadêmico e perdeu a disputa, na mesma época. Ele era colega de turma do jovem Michel e integrou a chapa derrotada.

“Chamada” e trovas
Além das conversas políticas, o evento contou com uma chamada de todas as turmas da Faculdade de Direito da USP desde 1953 até 2015. Nem todas tiveram representantes.

Os participantes ainda entoaram, em coro, as tradicionais trocas acadêmicas do Largo de São Francisco, como a que celebra a data com uma tentativa de “pendurar” a conta na data: “Garçom tira a conta da mesa/ E põe um sorriso no rosto/ Seria muita avareza/ Cobrar no 11 de Agosto”. Não há, porém, registro de “calote” no almoço desta quarta (no valor de R$ 130 para não associados).

O presidente da Associação dos Antigos Alunos, José Carlos Madia de Souza, afirmou que, para o próximo ano, planeja promover o evento dentro da Faculdade de Direito da USP, com apoio do diretor José Rogério Cruz e Tucci. Durante o encontro desta quarta, ele declarou ainda que a entidade apoiará todos os candidatos às eleições de 2016 formados nas Arcadas.

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