Não há democracia sem imprensa atuante
e livre, diz Alexandre Fidalgo
29 de setembro de 2015, 18h36
"Não encontramos isso na América do Sul, como na Argentina. A morte do promotor, que o Estado está divulgando, é uma questão nebulosa que a imprensa não pode acompanhar a investigação. Na Venezuela, a imprensa também é tolhida. Outro exemplo, o Equador possui uma proposta no parlamento de transformar os veículos de comunicação sendo o Estado titular. Esses elementos na América do Sul não permitem uma afirmação de que estamos numa democracia. Ainda que lá existam eleições recorrentes", afirma Fidalgo.
Na visão do advogado, a relação da liberdade de imprensa com a democracia reside no fato de uma das funções da imprensa ser uma segunda opinião à opinião do Estado. "Para isso, é necessário que o Estado assegure uma imprensa livre e plena, permitindo críticas. Que a imprensa seja via alternativa para a voz do Estado", explica. "Não há um regime democrático sem imprensa atuante e livre."
Imprensa no Brasil
Ao comentar a situação da liberdade de imprensa no Brasil, Fidalgo afirma que o país está um passo a frente dos vizinhos. No entanto, ainda assim há inúmeros casos de atitudes contra a imprensa que se assemelham a uma tentativa de policiar, de restringir.
"Nós temos pedidos na Justiça de adequação do material jornalístico, simplesmente numa ideia de que a internet permite isso. Tivemos um candidato no ano passado, um ex-governador do Ceará, recolhendo uma revista inteira porque foi noticiado que ele tinha sido mencionado na operação 'lava jato'. Então temos diversos episódios no Brasil que colocam a imprensa ainda sob um risco de ser tutelada, no sentido de censurar", exemplifica.
Sobre o projeto de regulamentação da mídia discutido pelo governo, Fidalgo considera a medida desnecessária. De acordo com ele, qualquer projeto que tente regular o conteúdo é inquestionavelmente inconstitucional. Sobre a possibilidade de regular os veículos de comunicação, ele aponta que a Constituição já veda o monopólio ou oligopólio, garantindo que exista no Brasil uma alternância de opiniões. Portanto, conclui o advogado, "qualquer regulamentação será desproporcional e, de alguma forma, tentativa de controle".
Ouça a entrevista:
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