Preconceito inconsciente

Diversidade faz avanços lentos e graduais na advocacia americana

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31 de maio de 2015, 9h04

Nos Estados Unidos, a comunidade jurídica é, provavelmente, a classe que mais defende a diversidade no trabalho. Nem por isso está imune à falta de diversidade. De acordo com uma estatística do Departamento de Trabalho, 88,1% dos advogados americanos são brancos — contra 88,8% em 2000. Também são brancos 81% dos arquitetos e engenheiros, 78% dos contadores e 72% dos médicos e cirurgiões.

Nas últimas décadas, o combate ao preconceito contra as minorias fez progressos significativos nos EUA. Leis foram aprovadas para assegurar a igualdade no trabalho, no acesso à educação e à habitação, pessoas são condenadas por atitudes racistas. No entanto, a luta das minorias — mulheres, negros, índios, latinos, asiáticos, entre outros — ainda está longe de ser vencida. Há uma “doença” que a lei não previne: o preconceito inconsciente.

Um estudo, feito recentemente pela firma de consultoria Nextion, demonstrou exatamente isso. Dificilmente há “presunção de competência” para mulheres, negros e latinos nos escritórios de advocacia — ao contrário do que ocorre com os advogados brancos. Em vez disso, há um preconceito inconsciente e uma exclusão velada das redes informais de apoio. Obviamente, o mesmo acontece em outras profissões.

O estudo, divulgado pelo jornal da ABA (American Bar Association), por um blog da Forbes e pelo Above The Law, armou uma pequena armadilha para os advogados que concordaram em participar do que seria uma avaliação de competência para redigir um memorando. A firma preparou um memorando com 22 erros propositais: sete pequenos erros de grafia e gramática, seis erros técnicos substantivos de redação, cinco erros na descrição de fatos e quatro erros de análise dos fatos.

Um grupo de 60 advogados de diversas bancas foi convidado a participar de um suposto “estudo de análise de redação”. Metade deles recebeu o memorando com os 22 erros que teria sido escrito por um advogado chamado Thomas Meyer e que, entre outras informações, era afro-americano. A outra metade recebeu o mesmo memorando, também escrito por Thomas Meyer, mas que, entre outras informações, era caucasiano.

A firma pediu aos revisores que avaliassem a redação do memorando e dessem uma nota de 1 a 5. O grupo que avaliou a redação de Thomas Meyer branco lhe atribuiu a nota 4,1. O grupo que avaliou a redação de Thomas Meyer negro lhe atribuiu a nota 3,2.

Nas análises gerais, Thomas Meyer branco foi elogiado por seu potencial e suas boas qualidades analíticas. Thomas Meyer negro foi criticado por sua competência limitada, apenas média, com a observação de que deveria trabalhar muito em sua redação.

Os revisores encontram, em média, 2,9 erros de grafia e de gramática dos sete erros cometidos de propósito pela firma, no caso de Thomas Meyer branco. E 5,8 erros, em média, entre os sete erros cometidos, no caso de Thomas Meyer negro.

Menos erros técnicos de redação e erros factuais foram encontrados, mas também desta vez, favoreceram o suposto branco. Porém a disparidade foi menos acentuada nesses casos.

As disparidades em favor de Thomas Meyer branco levaram o premiado advogado e escritor Elie Mystal, editor do Above The Law, a traduzir o resultado do estudo sobre sua perspectiva de vida, na condição de homem negro que é: “Se você é negro, latino ou mulher, você precisa ser muito melhor do que seus colegas brancos para ser considerado um igual”.

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