Sem provas

Sydney Sanches se recusou a fazer parecer sobre impeachment de Dilma

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15 de maio de 2015, 19h38

No comando do Supremo Tribunal Federal na época do impeachment do então presidente da República Fernando Collor de Mello, em 1992, o hoje ministro aposentado Sydney Sanches conta que foi “convidado” a elaborar um parecer sobre a viabilidade um processo semelhante contra Dilma Rousseff (PT).

O convite foi confidenciado a jornalistas pelo ministro nesta sexta-feira (15/5), durante o lançamento do projeto a História Oral do Supremo Tribunal Federal, da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas. O evento aconteceu no Rio de Janeiro.

Sanches disse que rejeitou o convite. “Eu me recusei porque poderia parecer que estou querendo influenciar a opinião pública apenas porque participei de outro processo de impeachment e não só por causa do conhecimento jurídico que possam me atribuir, mas principalmente por causa dessa experiência que eu tive”, explicou.

TSE
Para Sydney Sanches, não há fatos
que provem responsabilidade de Dilma.
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Ele contou que o convite partiu de um advogado, mas ele não soube dizer se a mando de algum partido. “Claro que deveria ter alguém por trás. Percebi e por isso não entrei nessa. Não é por dinheiro que vou pôr o país em polvorosa. Não quero ser leviano”, afirmou.

Para o ministro, as manifestações contra a presidente até remetem ao clima de 1992, que culminou na cassação do mandato de Collor da presidência da República. Mas as situações são diferentes. O ministro aposentado pondera que ainda não foi imputada a ocorrência de caso concreto à presidente Dilma que caracterize a participação dela em crime de responsabilidade.

“O que há agora é um grande descontentamento com o governo e principalmente com relação à Petrobras. Isso vai ser apurado pela Justiça e se forem provados fatos concretos quanto à responsabilidade da presidente, aí sim, caberá o processo de impeachment. Mas não vejo o mesmo clima. Na época do Fernando Collor, houve o confisco da poupança e o povo todo ficou revoltado. E depois veio o depoimento do irmão dele à revista Veja, contando que ele recebia do tesoureiro da campanha dinheiro de origem desconhecida e que até chegou a comprar um carro e a fazer a reforma da casa da Dinda”, lembrou.

E acrescentou: “Havia, portanto, fatos concretos e a opinião pública se voltou contra ele. Quando ele pediu para a população usar verde e amarelo em apoio a ele, o povo usou luto e saiu às ruas. Ainda não vi nada muito parecido com isso. Sim, há as manifestações. Também há o Fora Dilma. Mas o impeachment é um pouco mais”.

Projeto
Sanches relatou sua experiência na presidência do processo de  impeachment de Collor ao projeto da FGV. De acordo com ele, foi o caso mais difícil da sua vida. A iniciativa faz um registro da história do STF após a promulgação da Constituição Federal a partir da visão de seus ocupantes. Os depoimentos podem ser conferidos no site historiaoraldosupremo.fgv.br.

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