Legado histórico

O orgulho de ter o advogado Salim Salomão como mentor

Autor

  • Paulo César Salomão Filho

    é bacharel em Direito pela UFRJ; advogado; presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD do Futebol; especialista em Direito Eleitoral pela Escola Superior de Advocacia do Distrito Federal/UniCEUB; conselheiro titular do Conselho Jurídico e Estratégico da Associação Comercial do Rio de Janeiro; e conselheiro efetivo da OAB/RJ nos triênios 2013/2015 2016/2018 e 2019/2021.

2 de julho de 2015, 7h40

O advogado Salim Salomão, era assim que ele gostava de se definir, o advogado inscrito na OAB-RJ 8.703, uma das mais antigas inscrições em atividade. Aos 88 anos de idade, e 65 de profissão como advogado liberal, Salim Salomão se orgulhava muito de contar sua história. Trabalhou em seu escritório de advocacia até a véspera de sua morte, nesta terça-feira (30/6).

Filho mais velho de um comerciante que veio da Síria sem falar uma palavra em português, ainda muito jovem ajudou no sustento da casa como caminhoneiro. Em uma viagem seu caminhão tombou, ele ferido, viu pelo retrovisor a população se aproximando. Ficou estarrecido quando percebeu que os populares pararam antes de chegar à boleia. Corriam não para acudir o motorista, mas sim para saquear a carga. Este evento marcou sua vida, naquele dia prometeu para si que iria estudar para que seus filhos nunca passassem necessidades e não precisassem colocar os bens materiais à frente do ser humano.

Casou-se com sua companheira de toda a vida, Jamile Salomão.

Começou a fazer um curso noturno de contabilidade, tendo se formado na turma de 1949, mas já naquele ano atuava como rábula nos fóruns das cidades do interior de São Paulo, onde, mesmo sem ter a carteira da OAB, começou a obter sucesso.

Em 1950 resolveu tentar a sorte na capital federal, fez vestibular e começou a estudar direito na Universidade Federal Fluminense, na cidade de Niterói. Em dois meses, com dois filhos para criar, seus recursos já haviam acabado e para buscar clientela começou a frequentar os fervilhantes bares da praça Mauá, local onde acreditava poderia conseguir muitos clientes. Brincava que nunca foi advogado “de porta de cadeia”, mas sim de “porta de bar”, mas bares bons, frequentado por muitos artistas da extinta Rádio Nacional — que tinha sua sede também na Praça Mauá.

Um episódio marcou sua incipiente carreira, impetrou um habeas corpus e obteve a liberdade em favor de um conhecido e controvertido personagem da cena carioca daquele início dos anos 50, cujo apelido era “Zica”. Depois disso foi aumentando sua clientela até ser contratado como gerente jurídico do Banco da Bahia, conseguindo a estabilidade e segurança financeira. 

Ele tinha múltiplas faces, foi professor do curso de contabilidade, dava aulas nos cursos de administração de empresas e direito, além de ter sido eleito presidente do conhecido Botafogo de Ribeirão Preto, além de jornalista.

Após 3 anos de uma rápida e bem sucedida passagem como administrador de empresas em Salvador-Bahia, retornou ao Rio e foi contratado como chefe do departamento jurídico da Letra S/A e, em concomitância, retomou sua atividade no lendário edifício da Rua Erasmo Braga, 115, local onde por mais de 30 anos manteve seu escritório de advocacia e administração imobiliária. Adorava contar que um de seus clientes foi Pontes de Miranda.

O primeiro e obrigatório estágio de todos os juristas da família deveria ser no escritório do Dr. Salim Salomão, pois ele aliava a paciência e a didática, com sua vasta experiência e amplo conhecimento em diversos ramos do direito. Foi assim comigo, seu neto, e com os filhos: meu saudoso e falecido pai desembargador Paulo César Salomão, meu tio Ricardo Salomão — que também é engenheiro naval —, e meu tio ministro do Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão.

Seu poder de síntese era incrível, em poucas palavras conseguia resumir seus sentimentos fazendo acrósticos em todas as ocasiões especiais para as pessoas que amava. Petições deveriam ser curtas e objetivas — de até quatro laudas para que o juiz pudesse lê-las. E, assim, com este jeito simples, ganhava os corações e os processos.

Quem não o conhecia poderia considerá-lo rígido, mas bastava ver o amor com que tratava os filhos, netos, bisnetos, irmãos e noras para que essa impressão fosse imediatamente dissipada.

O maior orgulho do caminhoneiro pobre, filho de imigrantes que estudou por conta própria e se dedicou à advocacia por toda uma vida, era sua prole.

No entanto, onde estiver, Dr. Salim Salomão — o advogado, tenha certeza que são seus filhos, netos e bisnetos que devem se orgulhar de poder tê-lo como mentor.

O homem, quando caminha, tem o passado a sua frente. Tenho orgulho do seu passado e do seu legado.

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