Tempos de violência

Os doze assassinatos acontecidos em Paris não são atípicos

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8 de janeiro de 2015, 14h11

Jornais desta quinta-feira (8/1), noticiam a execução de 12 pessoas em Paris. Eram dois os atacantes praticantes da religião mulçumana. Morreram civis e policiais. Um terceiro comparsa se apresentou, mais tarde, aos órgãos de investigação. Cuidar-se-ia de morador de rua aparentemente aliciado pelos atiradores.

Vetusto órgão de imprensa paulista afirma, em determinada passagem do noticiário, que se trataria de comportamento atípico, porque dirigido a órgãos de imprensa e cartunistas famosos especializados em caricaturar líderes postos na origem da opção religiosa professada pelos atiradores. A atipicidade, acredita-se, se teria qualificado em razão das vítimas, pertencentes a órgãos franceses de divulgação. Vista assim, a ocorrência parece, verdadeiramente, ser extravagante, como anômala seria, também, a mortandade concretizada, repetidas vezes, contra escolas abrigando crianças e jovens, nos Estados Unidos e na Europa. Extravagante seria, igualmente, o atentado contra as torres gêmeas em Nova Iorque, tragédia fisicamente superada por novas edificações no local, mas permanentemente relembrada no mundo inteiro. É não esquecer das explosões que trucidaram gente durante maratona realizada em Boston ano e pouco atrás. Ainda inusitados seriam os homicídios concretizados no dia a dia das cidades grandes, num conflito psicótico entre mocinhos e bandidos, matando-se uns e outros ao menor descuido.

Insólitos se apresentariam, igualmente, os roubos e latrocínios concretizados, aqui e ali, nas metrópoles escurecidas pelo fim da noite. Não, os doze assassinatos acontecidos em Paris, convocando multidões às ruas em demonstração de revolta, não são atípicos. Colocam-se na rotina no tempo de violência inaugurado lá atrás, nas guerrilhas religiosas ou até mesmo em regiões citadinas envoltas na chamada civilidade pacificada. A tragédia acontecida em “Columbine” não se diferencia, intimamente, dos dois aviões que se chocaram contra os edifícios pontificando numa das maiores cidades do mundo. No fim das contas é a comunização da violência, comportamento psicótico comunicando-se aqui e ali, misturando-se curiosamente nas grandes tragédias provocadas pelas forças da natureza, com exemplo no “tsunami” indonésio. É sempre  provocação terrível, advinda ou não de mãos humanas, mas incrustada num pedaço de tempo aleatoriamente fixado em vinte anos. Acontece como se forças místicas surgissem concomitantemente, antes rodeadas por demonstrações de horror, agora examinadas quase com enfado no noticiário posto à porta das residências ou despertando o cidadão nos cenários da televisão. De outra parte, a imprensa suga tais ocorrências vampirescamente, pois a tragédia untada no sangue negro dos linotipos (hoje vazando dos computadores) produz bons resultados financeiros. Dentro do contexto há, realmente, bem examinado, um sistema universal de contágio do comportamento irascível, nunca esquecidos os insanos decepamentos de cabeças mostrados ao mundo reincidentemente.

Há, é claro, fatores subjacentes instilando tais condutas, sobrelevando fenômenos políticos e religiosos. No fundo, entretanto, existe veneno fundamental chamado rotinização da brutalidade. É síndrome a ser analisada psiquiatricamente. Os grupos, antes, se punham pequenos e espalhados aqui e ali. Agora funcionam como se fossem aquelas gotas de mercúrio a se atraírem, engordando cada vez mais numa concentração só. Deus nos perdoe.

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