Processos nos EUA por corrupção no exterior terminam em acordos milionários
10 de novembro de 2014, 18h37
Como opera na bolsa de valores de Nova York, a Petrobras pode ser processada nos EUA por corrupção no exterior — isto é, no Brasil. Ainda não há informações oficiais de que o governo americano irá processar a estatal brasileira por conta de seu envolvimento com suspeitas de corrupção no Brasil. De qualquer forma, se isso acontecer, o fim da linha para a empresa deverá será um acordo milionário — de pelo menos US$ 80 milhões, segundo relatório anual do escritório Gibson Dunn Lawyers.
Isso é o que tem acontecido quando as empresas são processadas criminalmente pelo Departamento de Justiça (DOJ) e civilmente pela SEC (Securities and Exchange Comission, a Comissão de Valores Mobiliários americana). O governo americano tem sido bastante ativo — e bem-sucedido — nos últimos anos, nas investigações de denúncias de corrupção no estrangeiro e no fechamento de acordos, sob a ameaça de processo judicial, conforme demonstra o quadro abaixo.
Número de acordos | ||
---|---|---|
Departamento de Justiça | SEC | |
2004 | 2 | 3 |
2005 | 7 | 5 |
2006 | 7 | 8 |
2007 | 18 | 20 |
2008 | 20 | 13 |
2009 | 26 | 14 |
2010 | 48 | 26 |
2011 | 23 | 25 |
2012 | 11 | 12 |
2013 | 19 | 8 |
2014* | 13 | 2 |
*até 30/6/2014. Fonte: Gibson Dunn Lawyers |
Desde 2013, as multas, penalidades, confisco de bens adquiridos ilegalmente (disgorgement) e cobranças pré-judiciais, arrecadados pelo DOJ e pela SEC, ficaram acima de US$ 80 milhões — quase quatro vezes a mais do que em 2012. Mas podem chegar, por exemplo, a até US$ 800 milhões, como demonstra esse quadro dos dez maiores acordos feitos em 2013, apresentado pela Gibson Dunn Lawyers:
Maiores acordos nos EUA | ||||
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Empresa | Total do acordo | Componente DOJ | Componente SEC | Data |
1. Siemens AG | US$ 800 milhões | US$ 450 milhões | US$ 350 milhões | 15/12/2008 |
2. KBR/Halliburton | US$ 579 milhões | US$ 402 milhões | US$ 177 milhões | 11/02/2009 |
3. BAE Systems | US$ 400 milhões | US$ 400 milhões | — | 04/02/2010 |
4. Total, S.A. | US$ 398,2 milhões | US$ 245,2 milhões | US$ 153 milhões | 29/05/2013 |
5. Snamprogetti/ENI | US$ 365 milhões | US$ 240 milhões | US$ 125 milhões | 07/07/2010 |
6. Technip S.A. | US$ 338 milhões | US$ 240 milhões | US$ 98 milhões | 28/06/2010 |
7. JGC Corp. | US$ 218,8 milhões | US$ 218,8 milhões | — | 06/04/2011 |
8. Daimler AG | US$ 185 milhões | US$ 93,6 milhões | US$ 91,4 milhões | 01/04/2010 |
9. Weatherford | US$ 152,79 milhões | US$ 87,17 milhões | US$ 65,6 milhões | 26/11/2013 |
10. Alcatel-Lucent | US$ 137,3 milhões | US$ 92 milhões | US$ 45,3 milhões | 27/12/2010 |
Ainda não há dados organizados para 2014. Mas, até 30 de junho o DOJ já processou 13 corporações e a SEC duas. Entre elas, a Alcoa, que fechou acordos que totalizaram 384 milhões, a Hewlett-Packard, cujos acordos totalizaram US$ 108 milhões, a japonesa Marubeni Corporation, que pagou US$ 88 milhões; diretores da PetroTiger, que pagaram mais de US$ 330 mil em subornos para obter um contrato de serviços de petróleo de US$ 40 milhões, mas que ainda não fecharam acordo.
Lei anticorrupção no exterior
Se a Petrobras for investigada e processada, terá de responder por violações à lei contra a prática de corrupção no estrangeiro (FCPA – Foreign Corrupt Practices Act). Em vigor desde 1997, a lei proíbe, de maneira geral, o pagamento de suborno a autoridades estrangerias, com o fim de obter ou reter negócios, de acordo com os sites da SEC e do Departamento de Justiça
“A FCPA é aplicada para proibir condutas em qualquer lugar do mundo e se estende para empresas de capital aberto (com ações comercializadas em bolsas de valores americanas) e seus executivos, diretores, empregados, acionistas e agentes. Agentes podem incluir terceiros, consultores, distribuidoras, sócios de joint-ventures e outros”, dizem os sites.
Segundo o Center for American Progress, o processo judicial contra as corporações, com suas penalidades severas, nunca chega a tramitar nos tribunais, porque tudo acaba em acordo – a não ser por alguns “peixes pequenos”. As empresas preferem fazer acordos por algumas razões. Uma das mais importantes é a de que os custos, no final das contas, serão mais baixos do que os que poderiam resultar de investigações do DOJ e da SEC e de se defender na Justiça.
Estratégias
Além disso, haverá danos para a imagem da empresa, com consequências nas bolsas de valores. A corporação também ficará impedida de assinar contratos com o governo, podendo até perder sua licença. Os dados demonstram que, se as investigações do Departamento de Justiça e da SEC mostrarem que há fundamentos, as corporações serão processadas para executar a lei e combater a corrupção nas atividades no exterior. Paralelamente, os resultados finais representam uma grande fonte de renda para o governo.
Para evitar o processo judicial, a primeira providência das corporações é recorrer ao mecanismo de admissão de culpa (plead guilty). As corporações recorrem corriqueiramente a esse mecanismo, mas, em seguida, emitem um nota declarando que não o fizeram nada de errado e que só fecharam o acordo para evitar os custos de um processo judicial.
Além de desembolsar alguns milhões de dólares em favor do Departamento de Justiça e da SEC, as corporações devem prometer não recair no erro, desenvolver uma política anticorrupção interna e tomar medidas corretivas —como demitir funcionários envolvidos em operações de suborno, o que ocorre com frequência, para desestimular reincidências.
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