Confissão com limites

Delator da “lava jato”, Youssef discorda dos rumos das acusações

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22 de dezembro de 2014, 5h51

Alvo número 1 da operação “lava jato”, o doleiro Alberto Youssef aceitou relatar sua participação em irregularidades envolvendo a Petrobras em troca de benefícios, mas isso não quer dizer que concorde com todas as acusações que passou a responder na Justiça Federal. Desde abril, ele já virou réu em 10 Ações Penais abertas na 13ª Vara Federal de Curitiba. Sua defesa, porém, afirma existirem problemas nas denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal.

“Não é porque ele decidiu colaborar que vamos concordar com tudo. Se alguém pensa assim, está enganado. Tem muita impropriedade nas afirmações do MPF”, afirma o advogado Antonio Figueiredo Basto, que o representa. Para o advogado, por exemplo, não faz sentido a denúncia que incluiu Youssef entre os responsáveis por desviar dinheiro da Petrobras através de contratos de um navio sonda para perfurar águas profundas, em 2006.

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O doleiro (foto) foi colocado no mesmo grupo que o ex-diretor da estatal Nestor Cerveró, responsável pela contratação; o empresário Julio Camargo, cuja empresa firmou o contrato; e Fernando Baiano, que intermediou a conversa. Segundo Figueiredo Basto, o cliente nunca atuou com negócios internacionais da Petrobras, tendo assumido apenas relação com Paulo Roberto Costa, que comandava o setor de Abastecimento. Mesmo assim, a denúncia foi aceita na última quarta-feira (17/12) pelo juiz Sergio Fernando Moro.

O advogado de Costa, João Mestieri, também planeja rebater acusações, sem entrar em detalhes. Afirma que ainda analisa as “adequações fáticas” nas sete Ações Penais em que seu cliente é réu. Mas reconhece ser difícil ver o nome dele fora das denúncias, já que o ex-diretor aponta irregularidades das quais participou. A colaboração premiada não impede que os envolvidos virem réus, tendo efeitos apenas no momento da sentença, como já explicou Moro.

Papel menor
Youssef discorda, principalmente, de ser colocado como um dos chefes de um esquema criminoso. Ele classifica-se como operador financeiro do grupo — o mesmo papel desempenhado por Marcos Valério no chamado “mensalão”, para vias de comparação. Já o MPF avalia que, “não fosse a figura dele, o esquema sequer existiria ou pelo menos não existiria com a magnitude que se viu”.

Quando foi preso, em março, o foco das investigações ainda eram empresas de fachada que seriam comandadas por ele com o intuito de lavar dinheiro e enviar recursos para o exterior, como um posto de Brasília que originou o nome da operação. A Polícia Federal acabou apontando relação entre ele e Paulo Roberto Costa, o que levou a novos rumos da apuração e respingou na Petrobras.

Youssef está preso hoje na carceragem da PF em Curitiba, depois de ficar nove dias internado no Hospital Santa Cruz, onde chegou com “sinais de desidratação e de emagrecimento importante”, conforme boletim médico da entidade.

Um dia antes de ter o acordo de delação reconhecido pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, foi visitado por um juiz auxiliar da corte, na última quarta-feira (17/12). A ConJur acompanhou a movimentação na entrada do hospital, mas funcionários da unidade e servidores da Justiça Federal disseram que não poderiam passar informações.

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