Causa própria

Acusado atuará como advogado do caso Mércia Nakashima

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10 de março de 2013, 13h27

Com previsão para durar cinco dias, o julgamento do assassinato de Mércia Nikie Nakashima começa nesta segunda-feira (10/3). Será o primeiro Júri transmitido pela TV, internet e rádio em São Paulo e, os requintes de espetáculo devem ser ainda maiores, uma vez que o réu, Mizael Bispo de Souza, hoje com 42 anos, vai advogar em causa própria, podendo, por exemplo, fazer perguntas às testemunhas. As informações são do jornal O Dia. 

Mizael atuará como um dos estrategistas da tese que pretende absolvê-lo da acusação de matar sua ex-namorada no dia 23 de maio de 2010 em uma represa em Nazaré Paulista (SP). 

O promotor de Justiça Rodrigo Merli Antunes trata como certa a condenação do advogado, descrito por ele como um “psicopata” que não aceitou o término de um namoro de quatro anos e, “perturbado”, viu “aflorar um sentimento de vingança”. Para Antunes, esse é o perfil de um “assassino passional”. “Espero que ele receba uma pena de 20 a 25 anos de reclusão”, calcula.

Do outro lado, o defensor Samir Haddad Junior planeja surpreender o Júri, descartando a tradicional imagem do “réu amedrontado” e promovendo Mizael ao papel de injustiçado. “Mizael vai manter a postura de uma pessoa acusada, mas também atuará como advogado. Ele vai ficar sentado com a gente na bancada, de terno e gravata, e vai fazer sua própria defesa”, diz Haddad Junior. “Se ele se sentir à vontade, vai interrogar, perguntar o que for necessário às testemunhas.”

Para o promotor, essa postura “é um direito dele”: “Se quiser falar, que fale. Eu não quero ensinar a defesa a advogar, mas acho que o Mizael vai se comprometer”, avalia Antunes, que também desdenha de outra estratégia ventilada por Haddad Junior: a de apontar o vigia Evandro Bezerra Silva — acusado de auxiliar a fuga de Mizael — como o verdadeiro assassino.

O réu também pretende entregar aos sete membros do Júri o livro que ele escreveu na cadeia e um abaixo assinado com duas mil assinaturas pedindo sua absolvição. Antunes quer impedir a distribuição do livro porque ele não foi juntado ao processo no período estipulado por lei. “Ele tinha até quarta-feira passada para incluí-lo no processo.”

As testemunhas
Mizael e seus advogados também vão tentar provar que as investigações foram parciais e que a perícia foi mal conduzida pelo Instituto de Criminalística (IC). Para isso, eles convocaram como testemunhas o investigador do inquérito, Alexandre Simoni, o perito-chefe do processo, Renato Pattoli, e o perito do IC que refez o trajeto entre Nazaré Paulista e Guarulhos, Hélio Ramacciotti.

“A intenção é desconstruir o trabalho investigatório”, acredita o promotor, que espera o mesmo de outra testemunha arrolada pela defesa, o fotógrafo e físico Eduardo Zocchi. A quinta testemunha será uma amiga de Mizael, Rita Maria de Souza, que deve falar sobre a relação entre o réu e a vítima.

Já os acusadores chamaram para depor Antônio de Olim, delegado do caso, Eduardo Amato, engenheiro de telecomunicações, Arles Gonçalves Júnior, advogado que acompanhou o inquérito, e Carlos Eduardo Bicudo, o perito que descobriu vestígios de sangue, ossos e algas em um dos sapatos de Mizael.

A testemunha mais esperada, no entanto, será o irmão de Mércia, Márcio Nakashima, cujas declarações devem ser desvalorizadas por Haddad Júnior: “O Márcio ficou quatro anos sem falar com a irmã por causa do namoro”. Segundo o advogado, “Mizael era odiado pela família dela, que adorou que ele tenha sido apontado como suspeito porque eles não toleravam a presença do meu cliente”.

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