Goleiro acusado

Bruno admite, pela primeira vez, morte de Eliza Samudio

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7 de março de 2013, 12h22

O ex-jogador de futebol Bruno Fernandes admitiu nesta quarta-feira (6/3) que sua ex-amante Eliza Samudio, de 24 anos, foi assassinada e teve o corpo esquartejado e jogado para os cães pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Em seu depoimento, o jogador alegou que não tinha conhecimento prévio do crime e a execução da jovem foi tramada pelo seu braço direito e amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão. "Como mandante dos fatos, eu nego, mas, de certa forma, me sinto culpado", disse o goleiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e de O Globo.

Bruno assumiu que se beneficiou da morte e poderia até ter evitado que ocorresse. "Não sabia, não mandei, mas aceitei", disse o goleiro, referindo-se ao assassinato. Ele foi o primeiro dos nove acusados do caso a indicar nominalmente Bola pelo sumiço de Eliza, morta em 10 de junho de 2010, segundo relatou o réu nesta quarta-feira.

Bruno negou o sequestro, porém, e afirmou que a jovem se encontrava com ele para exigir dinheiro, a título de “pensão”, pelo fato de terem tido um filho. Eles conversaram sobre a pensão e a modelo teria acertado com Macarrão que receberia R$ 50 mil — o ex-atleta ainda teria admitido comprar um apartamento para ela e para o filho.

Mas o goleiro não teria o dinheiro "em espécie", quando ocorreu a negociação. "Eu disse a ela que teria R$ 30 mil, mas depositava (o restante) na segunda. Ela não aceitou e disse: ‘Eu sei que vocês têm dinheiro. Então eu vou com vocês para Minas Gerais para receber o dinheiro’."

No depoimento, o ex-atleta do Flamengo disse que recebeu Eliza normalmente em seu sítio e não teve nenhuma discussão com ela. Posteriormente, aos prantos, relatou ter ficado "desesperado" ao ser informado do crime por Macarrão — mas não sabia como ela havia morrido. "Eu cheguei perto do Jorge e perguntei como tinha acontecido. O Jorge falou comigo que o Macarrão foi até o Mineirão e conversou com uma pessoa no orelhão — e naquele momento começou a seguir um cara de moto até uma casa na região de Vespasiano e lá entregou Eliza para um rapaz chamado Neném (como era conhecido o ex-policial Bola)", afirmou Bruno.

"Depois um rapaz perguntou para Eliza se ela era usuária de drogas, pediu que Macarrão amarrasse as mãos dela para frente e deu uma gravata nela. E o Macarrão pegou e ainda chutou as pernas de Eliza. Foi o que o Jorge me falou. E que ainda tinha esquartejado o corpo dela, tinha jogado o corpo dela para os cachorros comerem. Depois, o rapaz foi até um porão e pegou um saco preto e perguntou se eles queriam ver o resto; eles pegaram e saíram desesperados."

Estratégia de defesa
Um dia antes do depoimento de Bruno, em entrevista coletiva, o advogado Lucio Adolfo, que defende Bruno, afirmou que o depoimento do goleiro teria como objetivo tentar diminuir a pena. “O Bruno pode ter mentido ou omitido algo. Acredito na redução de pena. O Macarrão ganhou a redução. O Bruno teve participação elementar. Ele reconhece que poderia ter feito algo. Nós vamos levar essa realidade para os jurados amanhã (quarta-feira). Caindo as qualificadoras, vamos trabalhar para ser condenado pelo homicídio simples, pena de 6 a 20 anos. Pode sair com um sexto da pena”. Em novembro, Macarrão já havia confessado que Eliza foi assassinada, mas afirmou que Bruno foi o mandante do crime.

O depoimento de Bruno durou oito horas (incluindo os intervalos) e só foi encerrado após 20h. O goleiro respondeu às perguntas feitas pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que preside o Tribunal do Júri no Fórum de Contagem e dos seus advogados — quando relatou ter evitado falar anteriormente sobre o caso por "medo" de Bola — , mas evitou responder às 40 perguntas da Promotoria e dos advogados de outros acusados — que chegaram a fazer perguntas para uma cadeira vazia.

Mesmo com o silêncio do réu, o promotor Henry Wagner Vasconcelos destacou contradições no depoimento do goleiro, como o fato de Bruno negar que Eliza tenha sido sequestrada, mas ter feito mais de dez ligações para Macarrão e Jorge pouco antes de a vítima ser retirada do hotel em que estava.

Em coletiva, após o depoimento de Bruno, o promotor disse que o goleiro delatou e não confessou o crime. “O réu não confessou. Após o regresso do Macarrão e o Jorge, sem Eliza, ele disse que se inteirou do que aconteceu e acolheu. Mas delatou o Bola claramente. Ele delatou e não confessou. A situação dele é totalmente diferente da do Macarrão, que confessou de forma tímida. Vou pedir a pena máxima por homicídio triplamente qualificado, sequestro e ocultação de cadáver”.

Pelo Código Penal, uma acusação de homicídio triplamente qualificado pode render até 30 anos de cadeia. O promotor adiantou que irá recorrer caso seja aplicada pena muito abaixo de 30 anos.

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