Ladeira abaixo

Maioria das faculdades de Direito nos EUA está em crise

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19 de dezembro de 2013, 8h07

O volume de matrículas de novos estudantes em Faculdades de Direito dos EUA, para o ano escolar iniciado em agosto de 2013, caiu 11% em comparação com 2012. Foram feitas 39.675 matrículas, 4.806 a menos do que no ano anterior, de acordo com um relatório da American Bar Association (ABA), divulgado nesta terça-feira (17/12).

Em comparação com 2010, o ano que teve o maior número de matrículas historicamente, a queda ainda é mais expressiva: foi de 24%. Em 2010, foram matriculados 52.488 novos estudantes. O baixo número de matrículas em 2013 foi equivalente ao de 1975, registrado como o pior ano em volume de matrículas em Faculdades de Direito nos EUA, nas últimas décadas. Porém, em 1975, havia 163 faculdades de Direito acreditadas pela ABA no país. Hoje, são 202 faculdades.

A situação é mais grave, segundo a ABA, para aproximadamente dois terços das faculdades de Direito, porque 63 faculdades mantiveram ou aumentaram seu volume normal de matrículas. Isso significa que a queda foi maior do que a média de 11% para 139 faculdades. “Hoje em dia, o sucesso é definido como não se sair tão mal como as demais faculdades”, disse o professor de Direito Jerome Organ da Universidade de St. Thomas ao The National Law Journal.

Entre as faculdades que conseguiram aumentar o número de matrículas, em um momento de baixa, estão as de grande prestígio no país, como as Faculdades de Direito de Yale, Harvard e Stanford, de acordo com o The Wall Street Journal. Foram 27 as faculdades que conseguiram aumentar o número de matrículas.

Estratégias
Boa parte da estratégia das faculdades que se mantiveram ou melhoraram seu desempenho se deve, em boa medida, a uma estratégia: aumentar o número de cursos oferecidos e o número de interessados. Algumas faculdades ampliaram seus cursos de mestrados para bacharéis em Direito e, além disso, passaram a oferecer cursos específicos de Direito a não advogados e cursos online, desde que o volume de matrículas começou a cair, consistentemente, desde 2010.

Em 2013, 9.401 advogados se matricularam em cursos de mestrado; 1.738 não advogados se matricularam em cursos de faculdades de Direito, para melhorar seu valor no mercado de trabalho; 48 das 202 faculdades de Direito do país ofereceram cursos para não advogados; 21 ofereceram cursos online não relacionados com o programa J.D. (júris doctor, o bacharelado nos EUA). Mais de 1.500 alunos se inscreveram nesses cursos pela internet.

Entre as faculdades que perderam matrículas, as situações variam. Algumas estão demitindo professores e pessoal administrativo e cortando despesas, em um processo de enxugamento familiar a qualquer empresa em épocas de contenção. Outras estão à beira de fechar as portas. Muitas preferiram relaxar seus padrões de admissão, que eram mais estritos, para poder aceitar mais candidatos.

Algumas preferiram, simplesmente, reduzir a quantidade de “vagas” oferecidas a novos estudantes e, assim, preenchê-las de qualquer forma, mantendo seus padrões elevados, como se considera no país, para aceitar novos alunos. Essas faculdades preferem manter, aconteça o que acontecer, uma alta posição nos rankings das Faculdades de Direito do país. Isso também gera matrículas, principalmente de estudantes estrangeiros.

Mesmo entre as faculdades de Direito que perderam volume de matrículas ou mal se mantiveram em um nível habitual, as que têm maior possibilidade de sobrevivência são, obviamente, as que fazem parte de uma grande universidade. Outros cursos se beneficiam da desistência de estudantes pela advocacia, o que não ajuda as faculdades independentes.

Fatores
A desistência dos cursos de Direito se deve a uma combinação de fatores, todos envolvendo dinheiro. Os altos custos do bacharelado é o primeiro na pauta: os estudantes temem terminar o curso com uma dívida que pode chegar a US$ 150 mil (os mais baixos estão em torno de US$ 50 mil).

Essa preocupação deságua no segundo fator: a alta probabilidade de não conseguir um emprego, logo depois do bacharelado. As notícias são ruins. Nos últimos anos, devido a um terceiro fator, as dificuldades econômicas do país, muitas bancas de grande e médio porte têm demitido advogados, principalmente os novatos.

Por causa de uma economia desacelerada, as bancas passaram a cortar custos, para enfrentar seus problemas financeiros. E, além disso, seus clientes, também lutando com dificuldades econômicas, passaram a exigir redução dos honorários, o que tiveram de aceitar. Além disso, muitos clientes começaram a procurar escritórios menores ou advogados autônomos, que pudessem prestar os mesmos serviços a menores custos.

“Há sinais de que a economia está melhorando e de que as bancas voltaram a contratar. Mas essa é uma notícia da qual os estudantes ainda desconfiam”, disse o professor James Silkenat à Bloomberg.

Por causa do medo do desemprego que aflige os estudantes, algumas faculdades encontraram uma maneira menos ortodoxa de atrai-los. Passaram a oferecer cursos de Direito que se concentram basicamente em aprendizado prático da profissão de advogado, em detrimento das tradicionais disciplinas teóricas. As probabilidades desses estudantes conseguirem emprego, depois do bacharelado, é tida como muito maior.

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