Questão indígena

Justiça suspende leilão de hidrelétrica na Amazônia

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11 de dezembro de 2013, 16h36

A Justiça Federal em Mato Grosso suspendeu o leilão da usina de São Manoel, marcado para a próxima sexta-feira (13/12). A decisão liminar impede a concessão da obra até que seja julgado o mérito sobre a validade do processo de licenciamento da hidrelétrica, que integra um complexo de geração de energia planejado pelo governo federal no rio Teles Pires, entre Mato Grosso e Pará. A multa em caso de descumprimento é de R$ 500 mil, mas a União já recorreu.

O juiz federal Ilan Presser, da 1ª Vara Federal, disse que o adiamento do leilão é necessário diante de eventuais falhas na consulta a indígenas da região apresentadas pelo Ministério Público Federal. “Se o leilão ocorrer na sexta-feira”, diz Presser, “os investidores estarão arrematando um projeto com o risco palpável de que a licença prévia 473/2013 seja declarada nula pelo Poder Judiciário”. Nesse caso, “além da perda de credibilidade do governo com o mercado, a obra pode começar e o dano aos povos indígenas transmudar-se em irreversível”, segundo o juiz.

A licença prévia, primeira etapa no processo ambiental, foi emitida em 29 de novembro pelo Ibama (órgão do governo federal responsável por avaliar impactos socioambientais de obras). No dia 4/12, às vésperas do leilão, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) habilitou o projeto. De acordo com a procuradoria, os procedimentos ganharam “velocidade impressionante” após audiências públicas promovidas em municípios da região em setembro.

“No prazo exíguo de cerca de dois meses entre as audiências e a data do leilão, não verifico nos autos novos dados técnicos relevantes sobre as comunidades indígenas afetadas”, avaliou o juiz. Ele escreveu que, embora obras de infraestrutura sejam importantes para o crescimento do país, o Judiciário “não pode tolerar, sob o pretexto da necessidade de desenvolvimento célere, fazer tábula rasa do marco regulatório vigente à construção de usinas — mormente a Resolução 01/86 do Conama e o princípio da precaução — em que haja povos indígenas afetados”.

Vivem próximos à bacia do Teles Pires moradores dos povos caiabi, mundurucu e apiacá. Índios chegaram a fazer reféns funcionários que estiveram na região para fazer estudos da obra. A previsão é que São Manoel tenha capacidade para gerar no mínimo 700 MW. Já está em construção no mesmo rio a usina de Teles Pires, com 1.820 MW.

Clique aqui para ler a decisão.

0017765-29.2013.4.01.3600

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