Antonio Evaristo

Em livro, registramos produção de um grande advogado

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4 de dezembro de 2013, 16h52

Antonio Evaristo de Moraes Filho faleceu em 28/3/1997, aos 63 anos de idade, vítima de enfermidade incurável, que manteve oculta de parte da família e dos amigos, por dez anos.

Em 2001, sensíveis à ideia de Ricardo Pereira Lira e Luís Guilherme Vieira, muitos amigos prestaram-lhe homenagem póstuma com o lançamento do livro Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos[1], que fugiu à tradição de publicar estudos jurídicos, inovando-se a partir de testemunhos pessoais que traçaram muito bem o perfil do homenageado[2].

À família muito sensibilizou a iniciativa do padrinho Ricardo Pereira Lira e do afilhado Luís Guilherme Vieira, que contou com a adesão de personagens expoentes da história política, cultural e, principalmente, jurídica, a desnudar outra firme amostragem de que nosso pai excetuou a máxima do também amigo, só que de jornalismo[3] e Maracanã[4], Nelson Rodrigues, de que “toda a unanimidade é burra”.

Para nós, Evaristinho[5] deixou quinhão único, mas inestimável: o legado da amizade. Até hoje – e lá se vão 16 anos –, em todo lugar, seja tribunal, rua, restaurante ou bar, uma palavra amiga, um elogio, uma lembrança, um gesto terno nos é dirigido, quando a ele se referem.

No peito, de um lado levamos a dor da perda[6] e de outro a alegria de termos convivido com tão imensa pessoa. Como todo homem, tinha defeitos e virtudes; erros e acertos; dúvidas e certezas. Difícil, em um vocábulo, identificar o que tanto o distinguiu, pois se tratava de um conjunto de predicados. Talvez, o bom senso refinado o diferenciasse; a razoabilidade em respeitar o “círculo de giz”[7] do próximo; a simplicidade de ouvir e ser ouvido. Elio Gaspari, nos parece, foi muito mais feliz na definição:

“Abundavam-lhe generosidade e competência. São qualidades escassas, mas não se pode dizer que sejam raras. Abundavam-lhe também a modéstia e a capacidade de oferecer aos amigos o sentido de fraternidade. Esses, acima de tudo, fizeram de Evaristo uma pessoa rara, daquelas que enquanto se passa pela vida percebe-se que há pessoas capazes de torná-la mais bela. Capazes de transformar horas difíceis em momentos inesquecíveis. Inesquecíveis para os outros, porque Evaristo era capaz de se esquecer daquilo que ia além de seus gestos de advogado e amigo. Ou melhor, ele não esquecia. Simplesmente não exercitava a lembrança”[8].

No livro Antonio Evaristo de Moraes Filho, 80 anos – Saudade, que será lançado no dia 5/12 próximo, na seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil, a partir das 18h, deixamos registrada parte da extensa produção intelectual de Antonio Evaristo de Moraes Filho para que possam revisitar o estilo e a opinião crítica, mas sempre afável, daquele que, de acordo com Márcio Thomaz Bastos, foi “o mais importante advogado criminal da segunda metade do século”[9].

Valemo-nos, ainda, da pena de René Ariel Dotti[10], no escrito “Antonio Evaristo que eu conheci”, acerca da saudade[11]:

“Ao recordar a figura amiga, fraterna, imensa de Antonio Evaristo, ao lembrar as suas palavras feitas com alegria e inteligência e ao revisitar parte de sua gloriosa carreira, eu me sinto como Carlos Drummond de Andrade: ‘Do lado esquerdo carrego meus mortos/Por isso caminho um pouco de banda’”.

Falar sobre Evaristo, convém repetir o que já se discorreu em Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos[12], é falar sobre nós, nossa família. A saudade, mencionada pelo professor Dotti, pode resumir o nosso sentimento. Saudade de uma sensação que outrora, quando vivo, já era cotidiana. Porém, sua ausência fez palpitar, fez-nos recriminar os segundos perdidos, as palavras não ditas, os beijos adiados.

Volver ao nosso pai, amigo, companheiro, irmão, professor, mestre e conselheiro, conquanto sempre doloroso, pelas reminiscências de tempos que não regressarão, representa oportunidade, sem igual, de exaltá-lo e revivê-lo, em plena intelectualidade.


[1] Vieira, Luís Guilherme e Lira, Ricardo Pereira. Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos. RJ: Renovar, 2001.

[2] Outra homenagem, a merecer registro, diz com a entronização de seu busto, no “Salão dos Passos Perdidos” do I Tribunal do Júri/RJ, evento organizado por Antonio Carlos Barandier, George Tavares e Luís Guilherme Vieira, além do apoio de vários colegas e pessoas jurídicas, como, por exemplo, a Confederação Brasileira de Futebol, que, por seu ex-presidente, Ricardo Terra Teixeira, contribuiu decisivamente para a concretização da homenagem.

[3] Evaristo integrou, desde a fundação em junho de 1951, a equipe do jornal “Última Hora”, onde trabalhou até dezembro de 1957, tendo exercido, sucessivamente, as funções de repórter forense, colunista, redator e copy-desk.

[4] Nelson Rodrigues e Evaristo torciam, e ainda torcem, seguramente, pelo Fluminense Football Club.

[5] Evandro Lins e Silva, com fina ironia, atribuía à falta de criatividade do genitor a problemática existência de tantos Evaristos, explicando, certa feita, sobre o diminutivo: “O nosso Evaristinho, como o tratamos, com carinho e afeto, e para distingui-lo do pai e do irmão, seus homônimos, não teve a ventura de um convívio mais demorado com o pai, que morreu quando ele tinha seis anos de idade” (Vieira, Luís Guilherme e Lira, Ricardo Pereira. Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos. RJ: Renovar, 2001, p. 4).

[6] De fato, traduz uma verdade o poema do dramaturgo inglês Robert Browning: “Caminhei com o Prazer por uma légua, Ele tagarelou sem trégua; Mas mesmo com toda a sua lábia, Ele não me deixou mais sábia. Caminhei com o Sofrimento o mesmo tanto, Ele entrou mudo e saiu calado. Mas, oh! Não escondo meu encanto/Por tudo que aprendi andando ao seu lado” (Kravitz, Lee. Assuntos inacabados. RJ: Ed. Globo, 2010, p. 27, trad. livre).

[7] Título do inesquecível livro de Leo Vitor (RJ: Lia Editora, 1973).

[8] Vieira, Luís Guilherme e Lira, Ricardo Pereira. Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos. “Lembranças de Evaristo”, RJ: Renovar, 2001, pp. 131/132.

[9] Vieira, Luís Guilherme e Lira, Ricardo Pereira. Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos. “Lembranças”, RJ: Renovar, 2001, p. 258.

[10] René Ariel Dotti, grande referência na advocacia e no magistério, ao lançar a 2ª edição revista, atualizada e ampliada de seu “Curso de Direito Penal”, em 2004, dedicou-o, para nossa emoção, “à memória de Antonio Evaristo de Moraes”. Obrigado pela lembrança, professor Dotti.

[11] Vieira, Luís Guilherme e Lira, Ricardo Pereira. Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos. RJ: Renovar, 2001, p. 286.

[12] Em Antonio Evaristo de Moraes Filho, por Seus Amigos, nós, os filhos, representados por Eduardo de Moraes, também o homenageamos, no artigo “Evaristo e algumas de suas paixões”. Ob. cit., ps. 111/125.

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