Desenvolvimento sustentável

Conservação da natureza e redução da pobreza na Rio+20

Autor

12 de junho de 2012, 12h49

Ocorre agora em junho, na cidade do Rio de Janeiro, mais uma conferência promovida pelas Organização das Nações Unidas para se discutir temas relativos ao desenvolvimento e à sustentabilidade ambiental: a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável). Esse título sugestivo decorre do fato de que a cimeira se realiza 20 anos após a mais expressiva conferência mundial realizada na mesma cidade sobre o assunto. Os debates, negociações e acordos de alcance geral envolvem questões ambientais, sociais e econômicas. O entrelaçamento dessas questões é condição necessária para se enfrentar os desafios do chamado desenvolvimento sustentável.

Um dos principais produtos da Rio-92, foi a Agenda 21. Esse instrumento de planejamento para o desenvolvimento sustentável, adotado por diversos países, já enfatizou, há 20 anos, a importância da atuação local para atingir um nível global de sustentabilidade. A Agenda 21 reconhece a importância da cooperação entre governos, sociedade civil, empresas e populações locais para enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável.

Dentre vários assuntos tratados, a Agenda 21 aborda a necessidade de se lutar contra a pobreza e também de se conservar a diversidade biológica. Nitidamente, tais temas possuem relevância para serem reafirmados na Rio+20. Pensar e implementar políticas públicas que priorizem ações locais, que promovam a inclusão social e a conservação da natureza, apresentam-se urgentes e absolutamente inseridas na ordem do dia dos Estados participantes do evento de repercussões mundiais.

Uma das principais estratégias adotadas para proteger ambientes ricos em biodiversidade é a criação de áreas protegidas, chamadas unidades de conservação na legislação brasileira. No entanto, a fixação desses espaços, sem participação social e apoio das populações locais, pode gerar paradoxos tão recorrentes nas discussões referentes ao desafio do desenvolvimento sustentável, ou seja, a contraposição entre a necessidade de utilização de recursos naturais ea conservação da natureza.

Sabe-se que comunidades que habitam regiões circunvizinhas às áreas protegidas têm papel importante para no equacionamento dessa colisão de interesses. É impossível efetivar-se a conservação ignorando condições precárias de sobrevivência das populações locais e seu protagonismo enquanto beneficiários diretos e protetores das áreas protegidas[1]. Assim, é importante pensar formas de demonstrar a essas comunidades que áreas protegidas possuem peculiar potencial para desenvolvimento local sustentável. Uma das maneiras de se realizar essa demonstração seria mediante o fomento de atividades de produção e prestação de serviços de baixo impacto. Isto é, deve-se priorizar a atenção para com a utilização de mão-de-obra local na prestação de serviços, alavancando-se, assim, uma potencial criação de empregos verdes. Para isso é necessária a atuação do setor privado em parceria com o setor público.

Investimentos públicos e privados em conservação da biodiversidade tem potencial de fomentar a economia local, gerando emprego e renda para as populações do entorno das áreas protegidas. Empreendimentos prestadores de serviços de apoio à visitação em áreas naturais potencializam o incremento do turismo ecológico, alternativa de fomento à economia local em áreas rurais no interior do país.

Estudo realizado em 2010, fruto de uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Centro para Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC, sigla em inglês), com o apoio de outras três instituições[2] e sob coordenação de pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou que, se devidamente preparados para receber visitantes, 67 Parques Nacionais brasileiros têm potencial para gerar entre R$ 1,6 a 1,8 bilhão (entre US$ 800 e 900 milhões) por ano[3].

Nesse sentido, a mobilização de recursos para se pensar uma política de desenvolvimento em bases sustentáveis, que possa propor mecanismos de incentivo a esses investimentos coloca-se entre as prioridades da agenda propositiva do desenvolvimento sustentável. Incentivos ficais e extrafiscais para atrair investimentos privados em atividades de apoio ao turismo em unidades de conservação podem representar uma alternativa social e ambientalmente interessante para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Em contextos como os das áreas protegidas com objetivos de conservação da natureza, as parcerias entre governo, sociedade civil organizada, empresas e populações locais, poderiam ser medida eficaz para a redução da pobreza em nível local e regional. São desafios como esses que deveriam ser enfrentados nos dias da Rio+20, com importantes implicações para os anos vindouros, como a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) ou a própria Agenda 21, legados significativos da Rio-92.

* As opiniões aqui expressas são pessoais e não expressam, necessariamente, a posição do Ministério do Meio Ambiente.


 

[1] SCHERL, Lea M. et al. As áreas protegidas podem contribuir para a redução da pobreza? Oportunidades e limitações. IUCN: Gland, Suíca e Cambridge, Reino Unido, 2006, 66p.

[2] O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-Ipea, a Agencia de Cooperação da República Federal da Alemanha-GIZ (sigla em alemão) e o Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido- DEFRA (sigla em inglês).

[3] MEDEIROS, R; YOUNG, C.E.F; PAVESE, H.; ARAÚJO, F.F.S. 2011. Contribuição das unidades de conservação para a economia nacional: Sumário Executivo. Brasília: UNEP-WCMC, 44p. 

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!