Terceiro dia

Júri do caso Ceci Cunha deve terminar nesta quarta-feira

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18 de janeiro de 2012, 9h14

O segundo dia de júri popular do caso Ceci Cunha encerrou por volta das 20h10min, nesta terça-feira (17/1), com o interrogatório do ex-deputado Talvane Albuquerque, acusado de ser o mandante da chacina que vitimou a médica e deputada federal, seu marido e mais dois familiares, há 13 anos. Além de Talvane, foram interrogados os seus assessores Jadielson Barbosa da Silva, Alécio César Alves Vasco.

Nesta quarta-feira (18/1), terceiro dia de julgamento, os trabalhos foram abertos às 8h com os debates. Defesa e acusação terão três horas para expor suas teses, além de tempo para réplica e tréplica. A previsão é de encerramento após diligências finais, votação e leitura final da decisão.

O único acusado a ser reconhecido por uma sobrevivente do crime, Jadielson Barbosa da Silva, foi interrogado no segundo dia do julgamento. Ele foi apontado como um dos atiradores por Claudinete Santos Maranhão, irmã de Ceci, que estava no local da chacina e conseguiu escapar dos atiradores. Ela foi a primeira testemunha de acusação a prestar depoimento, na segunda-feira.

No depoimento, o acusado chorou, chamou Claudinete de "muito irresponsável" e, como outros dois acusados ouvidos na noite de segunda, negou ter participado do crime. Ele disse que, na hora da chacina, levava um filho do ex-deputado Talvane Albuquerque Neto, acusado de ser o mandante do crime, para Arapiraca, a 128 quilômetros de Maceió, e que ficou sabendo dos assassinatos pelo rádio.

Como trabalhava para Albuquerque, contou ter fugido para Brasília por medo de ser preso. "A Polícia chegou na minha casa, atrás de mim, e agrediu minha mãe, uma idosa já doente, e minha mulher", contou. "Fui transformado em monstro."

O depoimento de Silva chamou a atenção da acusação pela repetição de expressões como "não sei" e "não me lembro" nas respostas, especialmente depois de perguntas feitas pela promotoria.

“Se me condenarem, vão condenar um inocente. Quero que o Brasil todo saiba disso”, repetiu José Alexandre dos Santos, o Zé Piaba, primeiro réu interrogado no júri popular dos acusados pelas mortes da deputada Federal Ceci Cunha e de três familiares dela.

Segundo o Ministério Público Federal, Zé Piaba foi um dos quatro executores materiais da chacina ocorrida por volta das 19h30 de 16 de dezembro de 1998, supostamente encomendada por Talvane Albuquerque.

O réu alegou que não estava em Maceió no momento em que os assassinos invadiram a casa onde estavam Ceci e seus parentes, no birro de Gruta de Lourdes.

“Eu estava em Arapiraca, há várias testemunhas”, declarou o acusado, que hoje trabalha como mototaxista. “Jamais poderia estar aqui em Maceió. Jamais! De maneira alguma! Só se eu fosse duas pessoas ao mesmo tempo”, enfatizou. Zé Piaba também relatou que foi torturado para confessar sua participação no crime, em um depoimento filmado na cidade de Imperatriz (MA), por policiais que o prenderam em fevereiro de 1999.

“Fui espancado. Foi o pessoal da [Polícia] Federal”, acusou. Segundo Piaba, os policiais que o detiveram e coagiram mencionaram o nome do atual senador Renan Calheiros (PMDB), à época ministro da Justiça. “O pessoal da Federal disse: ‘Alguém tem que pagar por esse crime’. Me algemaram e disseram: ‘Bora, fale, fale. Quem tá mandando é o pessoal do Renan Calheiros’. Aí eu falava, com medo”, disse. “Havia pressão do Renan Calheiros para incriminar Talvane”, reforçou.

Irmã de Ceci Cunha e viúva de Iran Maranhão, uma das vítimas da chacina, a psicóloga Claudinete Santos Maranhão foi o primeiro nome arrolado pela acusação a falar. Ela é uma das duas pessoas sobreviventes ao atentado.

O juiz André Granja leu os depoimentos em que Claudinete afirmou, anteriormente, ter reconhecido Jadielson como um dos dois homens que invadiram a casa da Gruta e dispararam contra os presentes.

“A irmã de Ceci entrou em contradição. No primeiro depoimento, não sabia dizer sequer uma característica física dos acusados. No segundo, depois que a foto de Jadielson já tinha saído na imprensa, ela disse que o identificou pelos olhos. Pelo amor de Deus”, exclamou Welton Roberto, advogado de Talvane, em um intervalo do julgamento.

Na segunda-feira, Claudinete afirmou que reconheceu Jadielson porque o viu de frente e por inteiro, não apenas os olhos.

Em seu depoimento, o médico Talvane Albuquerque apenas confirmou a versão dada pelos seus assessores, de que a conversa mantida com Maurício Guedes, conhecido como Chapéu de Couro, tido no conceito de pistoleiro na cidade de Arapiraca (AL), teria sido para atender pedidos de Maurício, que seria filho de uma grande amiga sua. O ex-deputado disse que o teria ajudado com a mãe que estava doente, um filho que encontrava-se preso à época, assim como teria realizado o parto de uma filha de Chapéu de Couro.

“Por delicadeza perdi minha vida”, disse ao falar sobre uma gravação telefônica feita por Maurício Guedes, que supostamente trataria da contratação de seguranças ou pistoleiros, mas negada por Talvane. Segundo ele, o áudio teria sido editado e suprimidas informações.

Na “chacina da Gruta”, como ficou conhecido o crime, foram mortos: a deputada Ceci Cunha, seu marido Juvenal Cunha, Iran Carlos Maranhão e Ítala Maranhão.

O Tribunal do Júri é presidido pelo juiz federal André Luís Maia Tobias Granja, titular da 1ª Vara Federal. O Conselho de Sentença é formado por sete jurados, todos do sexo masculino. A defesa dos réus é exercida por seis advogados e a acusação por dois procuradores da República e dois advogados assistentes de acusação.

O site da Justiça Federal transmite o julgamento pela internet, em tempo real: http://www.jfal.jus.br. Com informações da Agência Brasil e da Comunicação da Justiça Federal de Alagoas

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