"Velho Oeste"

Imprensa dos EUA lembra assassinato de ativistas no PA

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28 de novembro de 2011, 14h57

“A equipe da CNN ficou intrigada com o jornalismo feito pela VICE, uma empresa independente de mídia sediada no Brooklyn, Nova York. As reportagens, produzidas exclusivamente pela VICE, refletem a adoção de uma abordagem extremamente transparente ao se fazer jornalismo, onde os espectadores são conduzidos passo a passo no processo de se reportar os fatos. Acreditamos que esse estilo singular de se fazer jornalismo vale a pena ser compartilhado com o público da CNN”.

Desta forma peculiar, reproduzindo a reportagem de uma empresa de comunicação de pequeno porte de Nova York, a rede CNN lembrou os seis meses do assassinato do casal de ativistas ambientais José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, ocorrido no Pará em maio deste ano.

O assunto ganhou destaque, na TV e no portal da CNN, durante todo o feriadão de Ação de Graças, que se prolongou pelo final de semana nos EUA. O canal de notícias por assinatura lembrou os seis meses da morte de José Cláudio e Maria, comparando o caso com outros crimes ligados à questão ambiental no Brasil – os quais as conclusões dos inquéritos e julgamentos também esbarram na morosidade da Justiça brasileira. A CNN comparou o crime a casos como o assassinato da irmã Dorothy Stang, ocorrido em 2005, do padre Josimo Tavares, em 1986, e de Chico Mendes em 1988.

“Nos últimos 15 anos, 212 líderes comunitários foram assassinados somente no Pará”, contou a reportagem da VICE reproduzida pela CNN com grande destaque. A emissora publicou ainda um texto sobre o caso em seu site, também produzido pela VICE.

Sediada no distrito do Brooklyn, cidade de Nova York, a empresa de mídia televisiva e internet VICE enviou um correspondente para o norte do Brasil para produzir a matéria sobre os seis meses do assassinato do casal de líderes comunitários. Em uma série de reportagens especiais, com uma hora de duração em média cada, a equipe da VICE mostrou ao espectador americano “uma parte do Brasil onde a lei e a Justiça não chegam” e onde os ambientalistas e a população local “vivem constantemente com a expectativa de levar uma bala na cabeça”.

A reportagem também abordou o constante conflito entre latifundiários, trabalhadores e ambientalistas na região norte do Brasil, destacando o debate em torno da aprovação do novo código florestal no país. O material produzido pela VICE sobre a morte de José Cláudio e Maria impressionou os editores da CNN, que resolveram reproduzir a telereportagem  e publicar o artigo escrito no próprio site da emissora.

Terra sem lei
Em maio, a morte do casal de líderes comunitários já havia repercutido nos EUA. De acordo com a comunidade local, ambos foram mortos por conta da luta contra grupos ilegais de madereiros, grandes proprietários de terra e consórcios do setor frigorífico, pecuário e carvoeiro. O crime ocorreu em 24 de maio de 2011.

A reportagem lembrou que Zé e Maria, que trabalhavam como extrativistas castanheiros, foram mortos ao serem surpreendidos numa emboscada feita por dois homens armados próximo a casa onde viviam. “Fora do Brasil, a luta por terras na Amazônia é vista principalmente como uma questão ideológica, mas por aqui é uma questão social", disse a reportagem especial produzida pelo repórter Thomas Morton, da VICE, em visita ao município de Marabá, estado do Pará, em julho de 2011.

“Marabala”, explicou o repórter o trocadilho, para em seguida mencionar que Marabá é uma das mais violentas cidades do Brasil “É como o ‘OK Corral’  (lendário confronto do Velho Oeste, um sangrento duelo de pistoleiros acontecido em 1881, em Tombstone, Arizona, e que durou apenas 30 segundos) só que na selva”, disse o jornalista americano.

A reportagem também mencionou o crescimento do consumo americano de carne brasileira vinda de fazendas da Amazônia. “Como os próprios fazendeiros e grupos que os apoiam explicam, a indústria da carne corresponde a uma grande parte da economia brasileira e é uma fonte cada vez mais importante da carne consumida pelos americanos”, diz a reportagem.

Em novembro, a família do casal de líderes comunitários assassinados enviou uma carta ao ministro da Justiça José Eduardo Cardoso. Na correspondência, os familiares do casal apresentaram reivindicações quanto a segurança de outros militantes e sobre ameaças sofridas por pessoas ouvidas no inquerito policial que apura o caso.

Clique aqui para assistir (em inglês) a reportagem especial sobre a morte dos ativistas.

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