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Os livros da vida do advogado Amaro Moraes

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23 de março de 2011, 19h10

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O advogado Amaro Moraes e Silva Neto é um sujeito irrequieto. Sua inquietação é tanta que dá a impressão de que todo o tempo do mundo não é suficiente para que ele possa aprender todas as coisas que despertam a sua curiosidade. "Sou um ignorante compulsivo, e sou muito bom nisso. Porque se já sei tudo, não posso ter a experiência de aprender e, sem isso, não posso me surpreender."

Desde pequeno, tem um fascínio inexplicável por máquinas. Em sua casa, coleciona dos mais variados objetos, que vão desde instrumentos musicais e vitrolas portáteis a cadeiras de barbeiro antigas. Para quem o questiona sobre qualquer um dos objetos, Amaro não só explica o que é e para quê serve, mas também como funciona. Não basta conhecer "mais ou menos", é preciso se aprofundar no conhecimento, explica.

No entanto, reviver o passado não significa estar desconectado do presente. Tanto que Amaro, especialista em tecnologia da informação, foi um dos primeiros advogados a estudar e escrever sobre a aplicação do Direto às novas tecnologias. Seu interesse oscila entre o que foi feito no passado e o que nos aguarda no futuro. "Sou fascinado por todo tipo de parafernália tecnológica. Tive meu primeiro microcomputador em 1980, época em que pouquíssima gente tinha esse equipamento."

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My Inventions - Nikola Tesla - Divulgação

Atualmente, Amaro relê o livro My Inventions: The Autobiography of Nikola Tesla, que o advogado traduziu há cerca de dez anos. Ele está negociando a publicação do título, que deve sair em alguns meses. Para ele, o livro é importante pois trata, antes de mais nada, da psicologia de um inventor. "Imagine o Thomas Edison tentando inventar a lâmpada e a mãe dele falando: ‘para quê perder tempo com isso? Acenda uma vela!’. A autobiografia do Tesla explica exatamente isso: o que pode ser o futuro, o que leva um homem do passado a pensar em parâmetros do futuro". Conhecido como o "homem que espalhou luz sobre a face da Terra", Tesla fez estudos revolucionários que contribuíram para o campo do eletromagnetismo no fim do século XIX e início do século XX.


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A Cartilha Sodré - Divulgação

O gosto pela leitura
Ao pensar em sua infância, Amaro lembra-se que os livros sempre foram muito presentes no seu cotidiano. "Papai sempre foi um leitor contumaz, não consigo imaginá-lo sem estar segurando um livro." Porém, destaca que de nada adianta ter uma vasta biblioteca se ela permanecer intocada por falta de interesse ou por não saber o que fazer com ela. "É a mesma coisa que ter uma coleção de nada." É por isso que, para o advogado, o livro mais importante de sua infância foi a Cartilha Sodré. "Se eu não tivesse lido a minha cartilha não teria lido nenhum outro livro depois."

Apesar de viver cercado de livros, considera que só se tornou um "rato de biblioteca" quando sofreu um acidente aos 24 anos, logo depois de fundar a Pindorama Air School, escola que ensinava a saltar de asa delta. Na época, havia poucos prédios na avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi em São Paulo, o que, segundo Amaro, criou um fluxo de ar perfeito para os saltos. Porém, logo nas primeiras tentativas, o advogado não teve muita sorte. Com o acidente, ele quebrou a segunda vértebra lombar e deixou de sentir o corpo do umbigo para baixo.

"Fiquei seis meses aleijado, todos os médicos falaram que eu passaria a vida numa cadeira de rodas. Você não imagina o medo que senti naquela idade. Porém, teve um médico, o Affonso Bianco, que garantiu que eu voltaria a andar. No dia em que ele me disse isso, fiquei em pé por três segundos. Foi a pior dor da minha vida, pior até mesmo do que o tombo que quebrou minha vértebra. Mas aquela dor me deu o prazer de pensar: ‘agora, é uma questão de tempo’".

Amaro manteve a perseverança de voltar a andar se agarrando na leitura, devorando pelo menos dois livros por semana. Dessa experiência, brinca ele, concluiu que é "mais saudável" dedicar-se à busca pelo conhecimento do que à prática dos esportes. "Conheço vários intelectuais que passaram dos 100 anos e poucos grandes campeões que chegaram aos 70."

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Velhos Marinheiros - Jorge Amado - Divulgação

Foi durante sua recuperação que leu um dos livros que o ajudou a moldar seu pensamento. Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado, conta a história de Vasco Moscoso de Aragão, que, ao desembarcar em Periperi, no litoral baiano, chamou a atenção da população local por seu ar de aventureiro e suas histórias de marinheiro. Porém, é apontado como falsário pelo fiscal aposentado Chico Pacheco, que passa a investigar a vida do comandante. "Jorge Amado é fundamental porque é um autor brasileiro e ao mesmo tempo universal. Nesse livro, ele mostra como uma grande farsa pode se tornar uma grande verdade." 


Livros jurídicos
As Viagens de Gulliver, do escritor irlandês Jonathan Swift, é lembrado como um livro para criança. Para Amaro, entretanto, o título é um dos mais importantes para quem quer seguir a área do Direito. Segundo o advogado, a obra foi introduzida no Brasil por Ruy Barbosa, um dos juristas mais importantes do país. "Ruy Barbosa faz uma análise completa da obra no prefácio de 150 páginas e apresenta concepções muito importantes para o Direito."

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A Vida do Direito e a Inutilidade das Leis - Jean Cruet - Divulgação

Explica Amaro que, em Liliput, cidade dos "homenzinhos", havia a Deusa da Justiça com dois olhos na frente, dois olhos atrás e um em cada lado da cabeça, indicando a circunspeção. Ela também carregava uma cornucópia, de onde tirava recompensas para os habitantes que não cometiam delitos, e uma espada, que punia os que transgrediam a lei. O advogado afirma ter uma obsessão tão grande pelo título que coleciona cerca de 40 edições diferentes da obra.

Ele também indica A Vida do Direito e a Inutilidade das Leis, de Jean Cruet, advogado francês que faz uma análise do valor do Código Napoleônico depois de 100 anos de sua promulgação e das mudanças da aplicabilidade das leis, afirmando que "se vê todos os dias a sociedade reformar a lei, nunca se viu a lei reformar a sociedade". "Em 100 anos, muita coisa muda e o que era crime anteriormente pode ser direito agora", concluiu Amaro.


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Os Sete minutos - Irving Wallace - Divulgação

Literatura
Para quem quer saber mais sobre os mistérios que rodeiam as gerações passadas, o advogado indica Como Construir um Disco Voador, de T.B. Pawlicki. A obra trata de teses que permitiriam que muitas invenções "impossíveis" fossem realizadas. Sobre as pirâmides do Egito, por exemplo, Pawlicki mostra planos de guindastes que podem ter auxiliado os egípicos no transporte das pedras até Gizé. "Ele explica como foram feitas uma série de coisas que pareciam misteriosas e quais os elementos que foram usados para isso", conta Amaro.

Apesar de ser um romance, Os sete minutos, de Irving Wallace, trata de uma série de aspectos jurídicos: um livreiro é preso por vender exemplares de um livro chamado Os Sete Minutos, acusado de ter conteúdo obsceno. A venda do material seria crime e, por conta disso, é aberto um processo judicial. "Durante o julgamento, o defensor tem de explicar o que é pornográfico. É uma lição de argumentação."


Música e cinema
Amaro toca inúmeros instrumentos musicais, entre eles piano e violão, e também compõe. Por saudade do amigo Tico Terpins, ultimamente tem ouvido Joelho de Porco. Tico, que cantava e tocava guitarra na banda, morreu em 1998. "A perda do Tico foi muito triste, ele era um sábio, tinha muito senso de humor, era um dos últimos cafajestes. Hoje todo mundo que ser politicamente correto." Joelho de Porco foi uma das primeiras bandas de rock a utilizar o humor para criticar os hábitos da sociedade paulista da década de 70.

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Viagem à Lua - Georges Melies - Divulgação

No cinema, Amaro destaca, talvez, o primeiro filme de ficção científica, Viagem À Lua, de Georges Meliès — o que também tem tudo a ver com sua curiosidade por máquinas e invenções. Conta a história de um grupo de homens que viaja até a Lua para assistir ao nascer da Terra no horizonte. Os aventureiros são capturados por Selenitas, mas conseguem escapar. O filme, de acordo com Amaro, está disponível no YouTube.

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