Livro aberto

Os livros da vida do desembargador Geraldo Prado

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18 de maio de 2011, 12h30

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Quando era adolescente, o pai de Geraldo Prado comprou duas coleções da antiga José Olympio Editora, "extraordinárias" nas palavras do desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Uma era do brasileiro Jorge Amado e a outra, as obras completas de Dostoiévski. Por alguma razão, quando garoto, Prado devorou as coleções, mas deixou de lado o clássico do escritor russo Crime e Castigo. "É interessante porque só vim a ler Crime e Castigo já adulto, um livro que tem tudo a ver com a minha vida profissional."

Autor de pelo menos cinco livros jurídicos — o mais recente, Em Torno da Jurisdição,foi lançado no ano passado —, o desembargador, que atua na 5ª Câmara Criminal, já organizou e tem artigos publicados em mais de uma dezena de obras. Em seu blog, faz considerações sobre diversos assuntos. Geraldo Prado tem uma visão crítica do Direito Penal e atuação voltada para a garantia dos direitos humanos.

Como todo bom escritor, Geraldo Prado é viciado em leitura. Desde cedo, cultivou o hábito de ler. A família, conta, era de classe média baixa quando ele era criança. "Foi um período em que não tinha muita disponibilidade para comprar livro. Comprava em banca de jornal mesmo."

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Crime e castigo - Fiódor Dostoiévski - Divulgação

Quando ganhou as coleções dos dois escritores, logo leu quase todas as obras. "Dostoiévski é isso que todo mundo diz que ele é: universal. Ele escreve de uma Rússia do século XIX e dá a impressão que está abordando o Brasil do século XXI." Já Jorge Amado acabou sendo uma espécie de antecessor, em termos de formação, de outro tipo de leitura e de autores, que dizem muito sobre a visão de mundo que Geraldo Prado tem hoje.

Houve a ascensão da minha família, que passou a integrar a classe média alta, com o trabalho de todos. "Eu trabalho desde os 11 anos de idade. Estudava e trabalhava. Nas horas vagas, jogava bola. Por isso, na juventude, não tive nenhum tipo de participação política em nada. Não tinha tempo, era trabalhar, ganhar a vida e estudar."


Para ler o mundo

ConJur
Quarup, do Antônio Callado - ConJur"De repente, eu faço uma leitura que me coloca onde eu estava, em um Brasil da ditadura, em um país das violências", diz o desembargador. Foi nesse momento que Geraldo Prado leu Quarup, de Antônio Callado. Prado morava na Tijuca, no Rio de Janeiro, perto do Batalhão da Polícia do Exército, que serviu de centro de tortura durante a ditadura militar. "Eu comecei a me localizar politicamente no mundo." Quarup foi uma espécie de batismo no início da era adulta, analisa.


Livro jurídico

ConJur
Direito e Razao - ConJur Direito e razão — Teoria do Garantismo Penal, do italiano Luigi Ferrajoli impressionou o desembargador, que o considera muito importante para sua formação jurídica. Outro foi Introdução Crítica ao Direito Penal, do criminalista Nilo Batista. "É um livro simples, mas que a cada página, a cada capítulo, apresenta um universo novo. Considero leitura obrigatória." Para Geraldo Prado, Nilo Batista tem um dom: "É difícil saber se ele fala melhor do que escreve, se escreve melhor do que fala". Cita ainda Juarez Cirino dos Santos, Salo de Carvalho, Fauzi Choukr e Paulo Bonavides.


ConJur
Luiz Alfredo Garcia-Roza - ConJur

Horas vagas
Garcia-Roza é professor aposentado de Filosofia da UFRJ e tem uma coleção brasileira de livros policiais considerada genial por Geraldo Prado. "Não há uma pessoa que, lendo Garcia-Roza, não se apaixone pelos livros dele. E o principal personagem é o delegado Espinosa, que mora no bairro Peixoto, no início de Copacabana." O desembargador conta que as obras são tão envolventes e como se passa em cenários cariocas conhecidos fica-se com a impressão de que o delegado de fato existe. "É tipo House [série de TV], ficamos hipnotizados."


Companhia literária

Cem anos de Solidão, de Gabriel Garcia MarquezOutro livro citado por Geraldo Prado é Cem Anos de Solidão, do colombiano Gabriel García Márquez. "Foi o livro que fundou a minha vida com a minha mulher", disse. A primeira vez que leu o livro com Giselle Bondim foi na praia, em Trancoso, na Bahia, quando eles começaram a namorar. "Foi a primeira vez na minha vida que eu li um livro com uma outra pessoa. Eu lia um trecho, ela lia outro", conta. Vinte e dois anos depois, o desembargador e a juíza voltaram a ler o mesmo livro.


Leitura obrigatória
"Vou insistir no Quarup. Acho que está faltando memória às pessoas", responde de pronto Geraldo Prado ao ser questionado do livro que recomenda. Para o desembargador, falta conhecer e viver um pouco a realidade do país. Outro livro que recomenda é Incidente em Antares, de Érico Veríssimo.

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