Justiça no mundo

Chile é líder em efetividade da Justiça na América Latina

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30 de dezembro de 2011, 7h22

A percepção sobre efetividade da Justiça e respeito ao Estado de Direito na América Latina e no Caribe apresenta contrastes acentuados. Apesar dos recentes movimentos em favor da abertura e das liberdades políticas, que vêm posicionando vários países na linha de frente da proteção aos direitos e liberdades básicas dos cidadãos, as instituições públicas continuam frágeis na região. Corrupção e ausência de mecanismos de controle do governo ainda são prevalecentes. Por isso, a percepção de impunidade permanece predominante.

Os dados estão no relatório Índice do Estado de Direito (Rule of Law Index) 2011, da organização The World Justice Project (WJP), que busca fazer uma radiografia da Justiça no mundo. Em sua quarta edição, o relatório comparou a percepção do respeito ao Estado de Direito em 66 países de todas as regiões do planeta (clique aqui para ler texto sobre o relatório completo).

Na Argentina e no México, por exemplo, apenas 15% da população acredita que as instituições irão agir com eficiência em casos de corrupção. Além disso, as instituições públicas na América Latina não são tão eficientes como as de países em outras regiões e as forças policiais têm dificuldades para garantir à população proteção contra o crime ou para punir os criminosos. Atualmente, a América Latina apresenta a maior taxa de criminalidade do mundo e os sistemas de investigação criminal e de julgamento estão entre os piores do planeta. O WPJ incluiu 11 países da América Latina e um do Caribe (Jamaica) em seu estudo.

O Brasil aparece em segundo lugar como o país onde há maior percepção de respeito ao Estado de direito. O primeiro colocado é o Chile, que fica no top 20 do ranking geral. Ainda no levantamento completo, o Brasil se classifica na mais alta posição entre os países que compõem o chamado grupo dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). De acordo com os dados, o sistema de Justiça Civil é acessível (24º lugar no mundo e segundo lugar na região). Mas a execução das decisões judiciais é difícil (54º lugar no mundo).

Confira os resultados obtidos a partir do levantamento na América Latina e Caribe:

Chile
O país lidera a região em todas as dimensões do Estado de Direito. E está posicionado entre os 20 melhores, entre os 66 países pesquisados, em seis categorias. Há mecanismos de controle do governo e os tribunais são transparentes e eficientes. Embora as taxas de criminalidade no Chile sejam relativamente altas, em comparação com outros países de renda média, o sistema de justiça criminal é eficaz e geralmente adere ao devido processo legal. Entre as áreas que requerem maior atenção das autoridades públicas e da sociedade estão a discriminação da polícia contra estrangeiros e minorias étnicas, as más condições do sistema correcional e a reincidência criminal.

 

Brasil
O país vem na esteira do Chile, como o segundo melhor da região em matéria de respeito ao Estado de Direito. E se classifica na mais alta posição entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O Brasil conta com um bom sistema de controle mútuo entre as instituições públicas, embora a cultura percebida de impunidade entre as autoridades governamentais cause algumas de preocupações. Os direitos fundamentais são respeitados, de uma maneira geral, classificando o país em quarto lugar entre os 19 países do mundo com renda média e terceiro lugar entre os 12 países da América Latina pesquisados. Os órgãos de regulamentação são percebidos como relativamente independentes, mas ineficientes. O sistema de justiça civil é acessível (24º lugar no mundo e segundo lugar na região). Mas a execução das decisões judiciais é difícil (54º lugar no mundo). É ruim também a classificação do Brasil na área de ordem e segurança, em que o país fica em 51º lugar entre os 66 países pesquisados do mundo. Os abusos policiais e as más condições do sistema correcional também são problemáticas.

Argentina
O país obtém uma baixa classificação em várias dimensões do Estado de Direito. Os mecanismos de controle do governo são fracos, em parte por causa do fraco desempenho dos órgãos governamentais nas investigações de má administração, bem como da interferência política nos órgãos de manutenção da ordem pública e no Judiciário. As entidades regulamentadoras são percebidas como ineficazes (54º lugar entre 66 países do mundo e de terceiro a último na região) e as demandas tomam um longo tempo para serem resolvidas (60º lugar no mundo). Outra fraqueza é a alta taxa de criminalidade. De acordo com uma pesquisa de opinião pública, 18% dos entrevistados em Buenos Aires, Córdoba e Rosário declararam que já foram vítimas de roubo nos últimos três anos. De todos os casos citados, apenas 4% resultaram em punição do criminoso. No lado positivo, o Judiciário, apesar de lento e não totalmente independente, é acessível. A esse respeito, os cidadãos da Argentina têm maior acesso à assistência jurídica, em disputas civis, do que as pessoas de alguns países desenvolvidos, como o Canadá e os Estados Unidos.

Peru
O país tem uma alta classificação em controle do Poder Executivo, bem como em proteção aos direitos fundamentais, incluindo liberdade de pensamento e de religião e liberdade de opinião e de expressão. Os órgãos governamentais são transparentes, embora não sejam tão eficientes como em outros países de renda média. No entanto, o sistema de Justiça Civil é percebido como lento, caro e inacessível, particularmente pelos grupos menos favorecidos. Outra fraqueza é a Justiça Criminal (36º lugar entre os 66 países do mundo pesquisados), o que pode ser explicado pela prática da corrupção e pelas deficiências nos sistemas de investigação criminal e de julgamento.

Colômbia
É um país de contrastes agudos, com classificações muito altas em algumas dimensões do Estado de Direito e muito baixas em outras. Posiciona-se como um dos países mais abertos da América Latina (segundo lugar entre os países de renda média e 18º lugar no mundo, na área de governo aberto). Os cidadãos da Colômbia desfrutam de melhor acesso a informações oficiais e maior grau de participação na administração das leis, do que as pessoas na maioria dos países. A Colômbia também se classifica bem em outras áreas, incluindo execução eficaz das leis (quarto lugar na América Latina) e em mecanismos de controle do governo. O Judiciário é independente e livre de influências indevidas. E é um dos mais acessíveis e econômicos da região. Entretanto, é prejudicado por atrasos e falta de eficácia na investigação e no processo judicial de crimes. O pior desempenho da Colômbia está na área da ordem e segurança (64º lugar em 66 países pesquisados), o que é parcialmente atribuído às altas taxas de criminalidade e à presença de organizações criminosas poderosas. Abusos policiais, violações dos direitos humanos e péssimas condições das instituições correcionais são também problemas significativos. Conflitos civis também são um desafio para o país.

Bolívia
O país enfrenta desafios em termos de transparência e controle das instituições públicas, o que reflete um clima caracterizado pela impunidade, corrupção e interferências políticas nos órgãos responsáveis pelo cumprimento da lei, no Legislativo e no Judiciário. O sistema jurídico é ineficaz e afetado pela corrupção. Também existem preocupações quanto à discriminação (11º lugar na região) e às restrições à liberdade de opinião e de expressão (12º lugar na região). Os direitos à propriedade são fracos e os abusos policiais continuam sendo um problema significativo. No entanto, a Bolívia está bem classificada nas áreas de governo aberto (quinto lugar entre os países de sua faixa de renda) e baixos custos de serviços jurídicos.

Venezuela
Está bem classificada em termos de liberdade religiosa (15º lugar), acesso aos tribunais civis (21º lugar) e proteção aos direitos trabalhistas (27º). Entretanto, tem o pior desempenho no mundo em mecanismos de responsabilização e controle do Poder Executivo. A corrupção parece ser predominante (54º), crimes e violência são comuns e o sistema de Justiça criminal é ineficaz e sujeito a influências políticas (66º). O país também tem sérios problemas no que se refere a garantias de direitos individuais, particularmente na área de liberdade de opinião e de expressão e no direito à privacidade. Por outro lado, enquanto os direitos de propriedade das empresas são geralmente fracos, os direitos de propriedade dos cidadãos parece ter uma proteção significativamente maior.

El Salvador
A área de execução eficaz das leis é uma das forças de El Salvador (segundo lugar entre os países de renda média-baixa e 24º, mundialmente). Os piores desempenhos do país estão nas áreas de Justiça criminal (54º lugar no mundo) e governo aberto (10º, na região). Os tribunais civis são geralmente acessíveis, mas lentos. E a corrupção no Judiciário é uma causa constante de preocupações. Os abusos policiais e as más condições das instituições correcionais são também considerados como problemas significativos.

Guatemala
O país apresenta fraquezas na área de acesso à Justiça, o que pode ser atribuído, entre outros fatores, à falta de informações, a barreiras idiomáticas para grupos menos favorecidos, à longa duração dos processos e à corrupção. Os direitos trabalhistas são fracos e a criminalidade é um problema sério (63º lugar, entre os 66 países pesquisados). Embora os mecanismos de controle do governo sejam fracos (53º lugar no mundo), a Guatemala se sai bem nas áreas de liberdade religiosa e proteção eficaz dos direitos de petição ao governo, quando comparadas com outros países da mesma faixa de renda.

México
O desempenho do país é variado. O México tem uma longa tradição constitucional, uma forte proteção à liberdade de expressão e à liberdade religiosa e forte independência do Judiciário. O México também se sai relativamente bem na questão da abertura do governo (27º lugar no mundo e quarto na região), bem como na eficiência de seus órgãos administrativos e reguladores (35º lugar). No entanto, a corrupção é um problema sério em todos os poderes do governo (53º lugar) e as forças policiais do México ainda têm dificuldades para garantir a segurança de seus cidadãos contra o crime e a violência (58º). O sistema de Justiça Criminal é deficiente (63º lugar, entre 66 países), principalmente por causa da fraqueza dos sistemas de investigação criminal e de julgamento, da discriminação predominante contra grupos vulneráveis, corrupção entre juízes e autoridades encarregadas do cumprimento da lei e violações sérias do devido processo da lei e dos direitos dos acusados (64º lugar). A incapacidade de processar autoridades governamentais, que cometem violações e atos de corrupção, também são causas de preocupação no país (59º lugar).

Jamaica
O país é forte na garantia da liberdade de religião e da liberdade de privacidade, embora os abusos policiais e as más condições das instituições correcionais permaneçam como uma fonte de preocupação. O sistema judicial é independente e relativamente livre de corrupção, mas também é lento e ineficaz. As maiores fraquezas do país estão nas áreas de segurança (14º lugar entre os países de renda média-alta) e de governo aberto (19º lugar, no mesmo universo). A justiça paramilitar e o crime organizado são áreas que precisam de atenção.


República Dominicana
O sistema de Justiça civil é relativamente eficiente da República Dominicana. De acordo com uma pesquisa geral da população, 64% das pessoas que foram aos tribunais para cobrar dívidas tiveram seus problemas resolvidos em menos de um ano. Esse percentual é bem mais alto do que o da média da Argentina (24%), México (37%) e mesmo da Espanha (30%), onde os processos são mais lentos. Entretanto, o acesso a assistência jurídica e a interferência do governo no Judiciário são áreas que ainda requerem atenção. A criminalidade e a justiça paramilitar, a ausência de responsabilização de autoridades governamentais por má administração, a corrupção das forças de segurança e as violações dos direitos humanos estão entre as fraquezas da República Dominicana.

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