Repetição e sedentarismo

Juízes dizem que processo eletrônico piora a saúde

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22 de agosto de 2011, 20h43

Os juízes federais do Rio Grande do Sul estão preocupados com os efeitos do processo eletrônico em sua saúde. Do início do ano passado para cá, quando foi instalado o primeiro software por lá, quase 80% deles perceberam piora em sua saúde e bem-estar em decorrência do trabalho. E pior: 95% dos magistrados federais gaúchos acham que daqui pra frente o processo eletrônico vai piorar ainda mais sua saúde.

As informações são de pesquisa conduzida pela Associação de Juízes Federais do Rio Grande do Sul (Ajufergs). O estudo ouviu 92 juízes, entre 23 de maio e 8 de junho deste ano, sobre as condições de trabalho com o advento do processo eletrônico. O levantamento foi enviado, em papel, a todos os 167 magistrados ativos da Ajufergs, e teve uma taxa de resposta de 55%.

Dos juízes ouvidos, 20% disseram não sentir nenhuma mudança em seu trabalho, enquanto apenas 1% acha que houve melhora. Entre os problemas relatados, 73% reclamaram da visão e 54% de dores físicas. Quarenta e sete por cento se referiram a cansaço, dor de cabeça ou problemas no sono.

Entre os problemas de visão, 86% afirmaram sentir dificuldades de enxergar, como ardência ou cansaço nos olhos e aumento de grau nos óculos. Os que falaram em dores físicas, 50% sentiram as mãos, os dedos e os punhos, 47% reclamaram de dores nas costas, 41%, pescoço, e 37%, nos ombros.

Quanto à mente e bem-estar, 44% relataram cansaço, stress, nervosismo ou preocupação excessiva, 33% falaram de dores de cabeça e 14% disseram sofrer de ansiedade ou depressão.

Movimentos repetitivos
Outra reclamação dos juízes federais do Rio Grande do Sul é sobre as mudanças no processo eletrônico na Justiça Federal da 4ª Região. Enquanto a taxa de satisfação com a primeira versão do software, o Eproc1, é de 58%, a do Eproc2 é de apenas 19%. Os magistrados reclamam de não terem sido consultados sobre uma mudança que acabou por atrapalhar seu trabaho. Quase 70% dos juízes acham que o Eproc2 dificultou seu trabalho, pois exige mais tempo e esforço.

Na opinião do coordenador do estudo, juiz federal Cândido Leal, há dois grandes problemas com o processo eletrônico. O primeiro é a visualização das páginas dos processos, feita por meio de uma tela de computador, que exige um clique a cada mudança de página. Em um processo com 20 volumes, de acordo com Leal, a tarefa se torna exaustiva. O segundo problema é o sistema de assinatura digital, que exige, segundo ele, 11 cliques.

Outra queixa é o sedentarismo a que o computador força os juízes. Leal relata que, com os processos em papel, os juízes são obrigados a levantar e transportar os volumes das estantes até suas mesas. Com o computador, não é mais necessário sair da cadeira. Ao mesmo tempo em que isso aumenta a produtividade, é um agravante para problemas físicos relacionados a postura e movimentos repetitivos.

Leal também aponta para decisões tomadas à revelia dos juízes. O coordenador da pesquisa conta que não houve consulta sobre o que deveria ter no novo software, ou o que os novos equipamentos precisam. Reflexo disso está no relatório: 82% dos magistrados estão insatisfeitos com a conexão e estabilidade do sistema e 43% estão insatisfeitos com os equipamentos físicos, os hardware. Por conta disso, 98% dos juízes federais gaúchos disseram que deveriam — e devem — ter sido consultados sobre as decisões de informática.

Clique aqui para ler a pesquisa.

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