LIVRO ABERTO

Os livros da vida do advogado Zanon de Paula Barros

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22 de setembro de 2010, 15h25

"Aos 3 anos e meio provei para os meus tios que sabia ler. Eles duvidaram e eu li um jornal que estava na minha mão. Não sei exatamente quando comecei a ler, mas esse episódio foi uma surpresa para todos". É assim que o advogado Zanon de Paula Barros, sócio fundador do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados começa a falar de livros, família, infância e trajetória profissional. Amante dos livros de história, geologia, religião e geografia, o caçula de dois irmãos ressalta que muito do que sabe foi contado pelos pais.

Ele nasceu em uma família simples. O pai e a mãe não tinham instrução formal, "mas sempre deram valor à leitura e à cultura". O advogado lembra que os pais eram autodidatas, estudaram sozinhos e ensinaram ele e a irmã a ler. Barros diz que aprendeu a ler por tabela. "Meus pais me contaram que minha mãe ensinava as tarefas da minha irmã e eu ficava preso em uma cadeirinha do lado acompanhando tudo e acabei aprendendo. Depois, quando entrei na escola, tive dificuldades para soletrar. Eu sabia ler e não aprendi a soletrar. Foi complicado na época", afirma.

Recorda-se que, apesar das dificuldades financeiras, sempre havia dinheiro reservado para os livros. "Éramos muito pobres, mas sempre lemos. Se eu não vivesse numa família que gostava muito de cultura tudo seria muito mais difícil", diz. E foi por este motivo que, aos 9 anos de idade, leu As Mil e Uma Noites. O livro narra o caminho de Xerazade, que para salvar sua vida conta histórias todas as noites para o rei.

Aos 11 anos já tinha lido toda a coleção de Monteiro Lobato — os livros para criança e para adultos. "Estes influenciaram muito a minha vida. Foi com eles que aprendi a ter senso crítico, a enxergar além das linhas", declara. Segundo ele, foi com o livro Os 12 Trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato, que surgiu a curiosidade de estudar sobre a mitologia grega.

Mesmo não sendo ligado a poesia e ao romance, na adolescência escreveu poemas e ganhou prêmio. Mas "aí eu percebi que com a poesia não ia dar para pagar o quarto de pensão nem a comida na lanchonete. Então, resolvi fazer outra coisa" conta sorrindo ao lembrar-se da época.

Nesse período, leu Os Lusíadas, de Luis de Camões, Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Os Sertões, de Euclides da Cunha. Este último, diz ele, é um livro simples de ler porque, apesar da época, a linguagem é muito atual. "Sem falar que Euclides da Cunha é preciso e objetivo. Escrevia para os outros e não para ele. Essa é uma qualidade que poucos têm", elogia.

Quanto aos livros jurídicos, o advogado diz que todos eles servem de "ferramenta" para o trabalho. "Leio porque preciso para trabalhar. Preciso ter conhecimento. Na minha vida pessoal, não tem importância nenhuma e nem influenciaram em nada, mas na minha vida profissional eles são essenciais". Autores como Washington de Barros Monteiro, no Direito Civil, e Sampaio Lacerda, no Comercial, "foram importantíssimos porque foi com eles que eu iniciei nessas duas áreas. Além deles, Humberto Lacerda Teixeira e Rubens Requião também influenciaram na minha vida profissional", diz.

"Os livros que influenciaram e influenciam na minha vida são os que li na época de criança. Em casa tenho mais ou menos 3,5 mil livros, incluindo um dos primeiros livros que li, chamado ABC da Aviação", recorda.

Leitor ávido, ele diz que atualmente com a internet ao alcance de todos, principalmente das crianças, tudo está muito "mastigado". Para ele, as crianças não têm mais a vontade de pegar o livro, de ler e descobrir o mundo fantástico que as páginas podem proporcionar. "A internet não é de todo ruim, mas ela acomoda as pessoas e para as crianças isso não é bom", fala com certa preocupação.

Ele finaliza ressaltando a importância da leitura, independentemente da profissão. "É preciso ler com espírito crítico, pois só assim é que se terá uma opinião sobre determinado assunto e dizer se isso ou aquilo é bom ou ruim. Além disso, foi a leitura que facilitou a minha vida. Como dito antes, meus pais não tinham formação e eram pobres, mas foram meus professores e deram-me a base de tudo. Isso desmistifica a ideia de que o pobre não tem vez. Pelo contrário, meus pais foram prova de que isso é um mito", assegura.


Primeiro Livro

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As mil e uma noites - Mansour Challita - ReproduçãoComo começou a ler muito cedo, aos 9 anos "saboreava" o livro As Mil e Uma Noites, histórias e contos populares originárias do Médio Oriente e do sul da Ásia. As histórias que compõem a obra têm várias origens, incluindo o folclore indiano, persa e árabe. "Não existe uma versão definida da obra. O que é invariável nas distintas versões é que os contos estão organizados como uma série de histórias em cadeia narrados por Xerazade, esposa do rei Xariar", diz ele.


Literatura e História

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Os Doze trabalhos de Hércules - Monteiro Lobato - Reprodução

Os doze trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato, são uma série de episódios arcaicos ligados entre si por uma narrativa contínua, relativa a uma penitência que foi cumprida por um dos maiores heróis gregos, Héracles, mais conhecido em português como Hércules. Os antigos gregos atribuíam o estabelecimento de um ciclo fixo de doze trabalhos a um poema épico, já perdido, escrito por Peisândro de Rodes, e que dataria de 600 a.C.

Da maneira em que são conhecidos atualmente, os trabalhos de Hércules não são contados num único lugar. Foram reunidos a partir de fontes diferentes e de acordo com os mitólogos Carl A. P. Ruck e Blaise Daniel Staples. Não há uma maneira específica de interpretar os trabalhos. Todos os trabalhos seguiam o mesmo modelo: Hércules era enviado para matar, subjugar ou buscar uma planta ou animal mágico para Euristeu, representante de Hera.

"Essa obra me fez querer saber mais sobre a mitologia Greco-romana", diz o advogado.

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Os Sertões - Euclides da Cunha - Reprodução

Os Sertões conta sobre a Guerra de Canudos (1896-1897), no interior da Bahia. "Euclides da Cunha presenciou parte desta batalha como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, e ao retornar escreveu a obra de forma objetiva e clara. Pode ser entendido como uma obra de Sociologia, Geografia, História ou crítica humana. Mas também não é errado entendê-la como uma epopeia da vida sertaneja em sua luta diária contra a paisagem e a incompreensão das elites governamentais", detalha ele.


Livro Jurídico
Os livros jurídicos são "ferramentas" de trabalho do advogado. E nessa área autores como Washington de Barros Monteiro, no Direito Civil, e Sampaio Lacerda, no Comercial, Humberto Lacerda Teixeira e Rubens Requião "foram e são importantes na minha vida profissional", diz Barros.


Li e recomendo
"Todas as obras de Monteiro Lobato até hoje são válidas. São obras que possuem conteúdo que pode ser aplicado em qualquer época de sua vida".

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Cose di Cosa Nostra de Giovane Falcone - Reprodução

Mas além dessas, Zanon Barros, indica a obra do magistrado italiano Giovanni Falcone, Cose di Cosa Nostra. Segundo o advogado, o livro é um relato sobre a máfia italiana — "a verdadeira máfia". "No livro, Falcone conta que a máfia é uma organização com regras e preceitos morais, dentre as quais e a mais importante é que nenhum membro dela pode em momento algum desestruturar a família, pois esta é a base de tudo e protegida de tudo", conta Barros. "Esta é uma obra para quem gosta de Direito Criminal", sugere.

Além disso, "é bom quando puder ler a Bíblia, mas sempre com espírito crítico", indica.

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