Mercado jurídico

Empresas de seleção apontam aumento na demanda

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8 de novembro de 2010, 16h23

A profissionalização dos escritórios de advocacia e departamentos jurídicos fez com que aumentasse o volume de trabalho de empresas de recrutamento e seleção de profissionais do Direito. Segundo especialistas, a maturidade do mercado de trabalho requer advogados cada vez mais focados na área em que vão atuar. Os diferentes perfis englobam desde o advogado mais técnico ao generalista passando pelo negociador.

A precisão na escolha do profissional a ser contratado impõe ao selecionador responsabilidade de garantir a lucratividade e viabilidade do negócio do cliente. "Daí torna-se importante, principalmente para cargos mais críticos, investir em um serviço que garanta que seja encontrado o melhor profissional para o perfil desejado, minimizando perda de tempo e prejuízos", segundo Alessandra Machado Gonçalves, sócia-executiva da Gonçalves & Gonçalves Marketing Jurídico e consultora da Hudson Legal, empresa de recrutamento especializada na área jurídica.

A Hudson Legal iniciou suas atividades no mercado brasileiro em junho de 2009 e, mais recentemente, intensificou sua operação no país, explica Alessandra. Ela atua no Rio de Janeiro como consultora da multinacional e afirma que o período econômico do país também é o grande responsável pelo aumento na procura por advogados. "O momento certamente é bastante propício aos negócios, o que reflete diretamente no crescimento das empresas bem como dos escritórios empresariais, seja em faturamento como também em pessoal", observa.

Outras empresas de recrutamento veem no Brasil oportunidades de bons negócios, como a Robert Half que acaba de inaugurar sua divisão de Legal. A nova divisão nasceu apenas três anos depois de a consultoria se instalar no país e aconteceu devido ao aquecimento da demanda por advogados e da complexidade do perfil procurado por diferentes segmentos do mercado.

De acordo com a responsável pelo setor, Mariana Horno, o mercado de recrutamento de advogados amadureceu nos últimos anos e se conscientizou da necessidade de atuar em conjunto com empresas especializadas. "Hoje o mercado é receptivo, tanto por parte das empresas, que já têm hábito de utilizar os serviços de recrutamento para outras áreas além da jurídica, quanto por parte dos escritórios, que entenderam as vantagens desse serviço", afirma.

Mesmo na crise econômica o trabalho dos caça talentos não diminuiu, como afirma Fabio Salomon, headhunter da área de Legal da Micheal Page, outra empresa de recrutamento que atua no país. Ele conta que nos anos de 2006 e 2008 houve uma procura muito grande pelo trabalho das empresas de recrutamento, mas 65% dessa procura eram para vagas em departamentos jurídicos contra 35% para escritórios. Agora, no período de economia aquecida, tanto escritórios quanto departamentos jurídicos estão interessados no recrutamento feito por especialistas.

"A partir da crise, houve uma sensível mudança. Muitas empresas fizeram cortes, inclusive nos departamentos jurídicos e o trabalho voltou a ser terceirizado. Então houve uma procura maior pelo advogado com perfil contencioso, recuperação judicial, trabalhista (coletivo e sindical) e tributário pra encontrar saídas para as empresas que passavam por dificuldades", lembra.

A Inrise consultoria em Marketing Jurídico também percebeu um acréscimo quando a crise passou. Segundo a consultora Débora Pappalardo, "de dezembro de 2009 até hoje houve grande aumento da demanda de escritórios de advocacia. E este ano foi muito bom. A tendência é mantê-lo".

Nos meses de férias é menor a procura pelo trabalho dos selecionadores, mas se engana quem pensa que existe época certa para procurar um novo emprego. Segundo o headhunter Pedro Amaral Dinkhuysen, da Laurence Simons, o profissional pode procurar emprego o ano inteiro, ainda que esteja trabalhando. "Ele deve manter seu currículo nas redes sociais atualizado, cultivar um cadastro nas empresas de recrutamento e fazer network sempre. Não pode ficar restrito, é importante saber o que está acontecendo no mercado", orienta.

Conhecimento técnico
De acordo com os especialistas consultados pela ConJur, especializações e cursos acadêmicos como mestrado e doutorado são requisitados pelos escritórios. Ter fluência em ao menos uma língua estrangeira também é um pré-requisito amplamente solicitado.

O perfil para atuar em um escritório pequeno é diferente do escritório fullservice. Segundo Alessandra Gonçalves, "caso o perfil procurado seja para um sócio, certamente uma experiência prática com gestão, em maior ou menor grau, se mostra importante, pois um sócio deve assumir responsabilidades na gestão do escritório". "De qualquer modo, cabe ressaltar que ter um book of business (clientes que possa levar consigo aonde for) agrega muito", recomenda.

Para Pedro Dinkhuysen, o perfil do advogado que trabalha em um escritório "é uma pessoa de ambição comedida, que saiba se portar na frente do cliente, com especialização técnica no limite, experiência anterior e conhecimento da língua inglesa".

As preferências dos sócios para um novo contratado também estão diretamente relacionadas ao perfil do escritório, como explica Débora Pappalardo. "O escritório com sócios mais jovens buscam parceiros igualmente jovens, assim como os escritórios mais tradicionais com sócios mais experientes procuram advogados seniores", aponta. Também influencia no perfil desejado o tipo de trabalho que será desenvolvido, completa.

Ela conta também que algumas áreas do Direito sobram profissionais, porém sem qualificação. "Quando abrimos uma vaga para trabalhista recebemos muitos currículos, mas se colocarmos a exigência da língua inglesa restam pouquíssimos candidatos", revela.

Advocacia preventiva
Os advogados que esperam preencher as vagas disponíveis nos departamentos jurídicos de empresas e indústrias devem em primeiro lugar gostar do mundo dos negócios. Segundo Fabio Salomon, o profissional será um bom executivo com conhecimentos jurídicos. "No ambiente corporativo, o advogado precisa ter um bom relacionamento interpessoal, trânsito bom com os clientes internos. Hoje, a empresa busca um negociador, dá ideia e toma decisões", destaca.

"Em outras palavras, um advogado que tenha conhecimentos amplos do Direito, mas não necessariamente o conhecimento técnico detalhado, somado com experiência prática em gestão, principalmente se estivermos falando de um cargo de diretor ou gerente jurídico", explica Alessandra Gonçalves.

Esse profissional também terá de ser um bom gestor e com capacidade de lidar com números. "Atualmente, os gerentes jurídicos provisionam custos dos departamentos, além de ajudar nos negócios", endossa Pedro Dinkhuysen.

Mariana Horno lembra que o profissional do departamento jurídico participa das decisões para viabilizar o negócio juntamente com outros setores dentro da empresa como o marketing. Eles podem ajudar na elaboração de um projeto visando minimizar os riscos e posteriormente, auxiliando a resolver os problemas provenientes deles.

Advogado do banco
Segundo os especialistas, as contratações para bancos e mercado de capitais são as que mais se diferenciam no mercado. O perfil do profissional de banco difere tanto da dos escritórios quanto dos departamentos jurídicos. Apesar de também ter uma visão de negócios, a pressão sobre o profissional é muito maior, e consequentemente o salário também.

"Os bônus oferecidos para este profissionais são agressivos", observa Dinkhuysen. Segundo ele, os advogados que atuam em bancos de investimento, por exemplo, decidem onde aplicar o dinheiro de clientes, geralmente, milhões.

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