Júri e espetáculo

Clamor público marca Júri do casal Nardoni

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22 de março de 2010, 17h28

Rua lotada, segurança reforçada, réus tensos e população clamando por Justiça com faixas e camisetas. Foi nesse clima que começou o Júri popular dos protagonistas Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, no Fórum de Santana, Zona Norte de São Paulo. Os dois respondem por homicídio triplamente qualificado pela morte da menina Isabela, filha de Alexandre, além de fraude processual. O crime aconteceu em março de 2008.

Jurados, jornalistas, estudantes de Direito e familiares esperavam ansiosos o início do julgamento, que começou com mais de duas horas de atraso. O pai e a irmã de Alexandre Nardoni, Antônio Nardoni e Cristiane Nardoni, falaram com a imprensa e demonstraram esperança no resultado. O pai continua defendendo a inocência do filho e compara o caso ao da Escola Base, em que donos de uma escola foram acusados indevidamente de abuso sexual de crianças. O avô de Isabela ainda defendeu um Júri televisionado. Segundo ele, toda sociedade deveria ter acesso. Os advogados do casal não deram declarações à imprensa.

O promotor Francisco Cembranelli já disse e repetiu o tempo todo que quer Justiça. O promotor, em entrevistas anteriores ao Júri, fez questão de reforçar que já atuou em mais de mil júris e teve sucesso em 95% dos casos. Durante o sorteio dos jurados, o promotor recusou a participação de uma jurada. A defesa também recusou uma jurada. O motivo não foi explicado. O corpo do Júri é formado por quatro mulheres e três homens. Das 40 pessoas sorteadas, 28 compareceram e sete foram escolhidas para compor o Júri.

Outro ponto incerto do julgamento também foi esclarecido logo pela manhã. O pedreiro que estava desaparecido se apresentou ao Fórum. Ele deu entrevista para a Folha de S.Paulo dizendo que a construção na qual trabalhava, próxima ao edifício onde aconteceu o crime, foi arrombada. A declaração pode reforçar a tese da defesa de que uma terceira pessoa entrou no apartamento e matou Isabela.

O julgamento do casal Nardoni envolve 23 funcionários de cartório do júri, 12 agentes de fiscalização, dois médicos, uma enfermeira, três estenotipistas (responsáveis por transcrever na máquina de escrever a fala das pessoas), 16 oficiais de Justiça, três funcionários da administração, quatro funcionários da copa e cinco assessores de imprensa do Tribunal de Justiça. Ainda não é possível saber como essa estrutura reflete em despesas, mas depois de encerrado o júri a contabilidade será feita. A previsão é que o Júri dure de três a cinco dias.

Do lado de fora
A movimentação frente ao Fórum já era grande desde as 4h30 da manhã quando estudantes de Direito de diversos pontos do estado chegaram para tentar um lugar no Plenário. As 10 primeiras pessoas que chegassem poderiam ter o direito de assistir ao júri. Por volta de 8h20, chegou o comboio com Alexandre e Anna Carolina Jatobá. Na frente do Fórum, encontraram um jovem amarrado a uma cruz, pedindo Justiça e moradores do bairro da mãe de Isabela, com camisetas e cartazes com a mesma finalidade.

Segundo o ex-juiz Luiz Flávio Gomes, que irá acompanhar o julgamento, nenhum procedimento desperta tanta curiosidade das pessoas como o Júri popular. Prova disso, é que a procura para fazer parte dos jurados cresceu 400% depois do caso Isabela, lembra ele, que a todo o momento postou mensagens em seu Twitter sobre o Júri.

Luiz Flávio Gomes disse que esse julgamento marcará época, pois nunca nos últimos 50 anos, o 2º Tribunal do Júri teve julgamento parecido.

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