Livro Aberto

A biblioteca básica de Flávio Bierrenbach

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3 de março de 2010, 16h03

Flávio Bierrenbach - SpaccaSpacca" data-GUID="flavio_bierenbach.jpeg">Depois de passar uma década de sua vida julgando processos no Superior Tribunal Militar, o ministro aposentado Flávio Bierrenbach ainda não estabeleceu uma rotina em São Paulo, mas garante que está próximo de entrar no ritmo. Por enquanto, usa o tempo livre para finalizar as 200 notas de rodapé da sua nova obra: Dois Séculos de Justiça. Ele escreveu uma biografia sobre os onze ministros formados pelo Largo São Francisco que o antecederam no STM. O ministro recebeu, na última semana, a reportagem da Consultor Jurídico em seu aconchegante apartamento para falar dos livros e autores que marcaram a sua vida.

Bierrenbach ficou com os olhos marejados ao lembrar-se de suas primeiras leituras, na casa de suas avós, em Sorocaba, interior de São Paulo. Foi lá onde começou a sua paixão por livros. A de pilotar veio depois, na pós-adolescência. O maior hobby do agora advogado é pilotar seu próprio avião, um tecoteco de 1946, que ficou esses anos todos esperando a disponibilidade de seu dono para pilotá-lo.

Ele conta que seus avôs paternos, por serem professores, já cultivavam uma bela biblioteca e era lá, naquele espaço ímpar, que passava parte de suas férias e feriados prolongados acompanhado de Monteiro Lobato. “Eu era a única criança, o neto mais velho, e a casa era muito grande, coisa típica do interior. Então, numa fase que não havia televisão e o rádio ficava ligado praticamente o dia todo, o jeito era ler muito”, contou saudoso. Hoje, o ministro também é avô, mas, infelizmente, sua biblioteca não chama a atenção dos netos quando se tem um computador por perto. “Quando eles [netos] estão aqui, passam o dia nos joguinhos eletrônicos”.

O tempo que passou no colégio Mackenzie, durante o ensino fundamental e médio, também marcou a vida de Flavio Bierrenbach. Ele sabe citar com precisão nome e sobrenome dos mestres que influenciaram diretamente a sua formação cultural. Gostava, em especial, dos de Língua Portuguesa. É que, segundo ele, não tem a menor vocação para matérias exatas. “Sou péssimo em Química, Física e Matemática. Gosto das ditas ciências humanas”, confessou. Ele, curiosamente, vem de uma família de engenheiros. É o único advogado da família. Sua filha também fez Direito, mas não advoga. É diplomata e está nos Estados Unidos.

Ainda durante a conversa, o ministro aposentado do STM falou com orgulho de seu primeiro cliente no retorno à advocacia, o Centro Acadêmico XI de Agosto. “O cliente solicitou um trabalho, já o fiz e está entregue”, disse entusiasmado ao reforçar que advogar é sua sina. Ouvir música clássica americana é também outra paixão. “Sou muito chato para música. A maior parte daquilo que se houve hoje não é música, é ruído”.

Vale destacar, ainda, que Bierrenbach foi um dos principais arquitetos da célebre Carta aos Brasileiros, lida em 1977 pelo professor Goffredo da Silva Telles Jr. O ministro também ajudou a impulsionar a carreira de nomes como Celso de Mello, que hoje é um dos ministros mais garantistas do Supremo Tribunal Federal; Luiz Antonio Guimarães Marrey, atual secretário de Justiça de São Paulo; e Pedro Dallari, reconhecido advogado e professor. Os três trabalharam no gabinete de Bierrenbach quando ele foi deputado estadual em São Paulo, pelo então MBD, a partir de 1978.

Primeiro livro

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Sítio do Pica-Pau Amarelo - Monteiro Lobato - DivulgaçãoQuando questionado qual livro marcou mais a sua infância, Bierrenbach não hesitou em dizer rapidamente o nome do seu autor preferido: Monteiro Lobato. Tanto que não soube apontar qual volume gostou mais. Para ele, a coleção toda é mágica. Ainda garante que o autor é um dos cinco grandes prosadores da Língua Portuguesa no Brasil. “Aliás, é uma leitura a qual volto com muita freqüência”, acrescentou.


Literatura

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Quincas Borba - DivulgaçãoLiteratura brasileira é uma das preferidas do ministro, que já leu obras dos principais prosadores nacionais. Ele adverte, contudo, que não é muito afeiçoado a poesia. Diz ter constatado não ter a sensibilidade que uma pessoa precisa para entender de poesia. Superada a auto-análise, ele conta à revista ConJur que a obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, é o maior livro de literatura brasileira. Ele classifica a obra como a de número 1. “É um livro fundamental, na forma e no conteúdo”. Bierrenbach também cita Quincas Borba e Dom Casmurro que, para ele, são livros de leitura essencial. Faz questão também de reforçar que tem toda a obra de Machado de Assis.

 


Livro didático

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A Luta Pelo Direito - Rudolf Von Ihering - Divulgação“Eu tive um ginásio e um curso médio de primeiríssima categoria, com quatro professores de português excepcionais e até hoje tenho seus livros, que volta e meia eu volto a lê-los. Um deles é Gramática Expositiva de Eduardo Carlos Pereira. Está aqui na minha estante, desde a época de ginásio”, conta com orgulho o ministro. Já na faculdade, outros três livros ajudaram a formar as crenças de Flávio Bierrenbach. O primeiro foi A Democracia na América, de Alexis De Tocqueville. O outro é Cidade Antiga, do francês Fustel de Coulanges. E o terceiro é a Luta pelo Direito, obra básica do jurista positivista alemão Rudolf von Ihering.


Livro jurídico

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Direito e a vida dos Direitos, de Vicente Rao - DivulgaçãoGoffredo da Silva Telles Junior, morto em julho de 2009, foi um dos professores que mais influenciaram na formação intelectual do ministro aposentado, com o livro A Formação do Direito. Ele foi seu professor no primeiro ano e com o qual manteve laços de amizade até a sua morte. Depois foi a vez da obra O Direito e A Vida dos Direitos, de Vicente Rao, que foi muito importante também para Bierrenbach. “Esse um livro de leitura lenta, demorada. O resto, os livros de Direito, não são para ler. Eles são para consultar”, disse.


Li e recomendo

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O Homem Que Roubou Portugal - DivulgaçãoFlavio Bierrenbach, como bom leitor que é, está lendo três livros simultaneamente: Rio das Flores, título do segundo romance do escritor português Miguel Sousa Tavares, lançado no final de 2007. A segunda obra é O Homem que roubou Portugal, que conta a história do maior golpe financeiro de todos os tempos. Já a terceira indicação é Fé na Luta, da socióloga Maria Victoria de Mesquita Benevides. Na obra, ela reconstrói a trajetória da Comissão Justiça e Paz de São Paulo (CJP-SP), criada em 1972. O livro resgata o papel fundamental da comissão na militância pelos direitos humanos, desde do período sombrio da ditadura militar até o início do século XXI. Ele diz que os três são boas dicas de leitura.


 

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