Política no tribunal

Interferência do juiz na política tem sido assídua

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20 de fevereiro de 2010, 10h57

Editorial do jornal Folha de S. Paulo deste sábado (20/2).

O Distrito Federal, centro político da República, está à deriva. Não bastasse o ineditismo de ver seu governador, José Roberto Arruda, preventivamente trancafiado, eis que outra tempestade se abate sobre seu vice, o empresário Paulo Octávio.

Acossados por denúncias, ambos respondem a processos de impeachment, ao mesmo tempo em que se configura a perspectiva de uma insólita vacância em série do cargo, com os sucessores legais do governador e do vice se esquivando de antemão de futuras responsabilidades.

Para adensar as nuvens de incerteza que pairam sobre Brasília, aguarda-se ainda a palavra do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido de intervenção apresentado pela Procuradoria Geral da República.

Na hipótese de a Corte decidir pela ação federal, algo que o Planalto não parece ver com bons olhos, o imbróglio político passará a uma nova etapa.

O quadro em Brasília inspira preocupações e expõe os males que debilitam a instituição política brasileira, cuja legitimidade se esvai em sucessivos escândalos. A escalada da desmoralização já chegou às instituições encarregadas de fiscalizar ou coibir desmandos, como os conselhos de ética dos Legislativos. Aos olhos da população, políticos cada vez mais são comparáveis a gângsteres e a vida pública tornou-se sinônimo de enriquecimento ilícito e fácil.

Essas circunstâncias favorecem o avanço de lideranças personalistas e as soluções emanadas da Justiça. Não há dúvida de que o Poder Judiciário tem um papel a cumprir em questões relativas à vida política do país, mas sua presença nessa esfera parece tornar-se mais assídua do que o desejável. Melhor seria se o próprio organismo político produzisse suas defesas e fosse capaz de impedir a propagação de desvios como esses que ora atingem a capital federal.

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