General democrata

Aos 88 anos, morre o general Ivan de Souza Mendes

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18 de fevereiro de 2010, 9h19

Ivan Mendes - SpaccaSpacca" data-GUID="ivan_mendes.png">Aos 88 anos de idade, morreu por volta das 7h desta quinta-feira (18/2), o general Ivan de Souza Mendes. Último ministro-chefe do Serviço Nacional de Informações, o general Ivan teve papel preponderante na transição do regime militar para a volta dos civis ao poder. Ele ocupava o alto Comando do Exército e foi um dos personagens que conteve a tentação do então ministro do Exército, Walter Pires, que pretendia engajar as Forças Armadas na candidatura Paulo Maluf. No governo Sarney, seu papel foi o de esvaziar o outrora temido SNI, promovendo a operação de desmonte da máquina de bisbilhotagem em que se transformara o órgão.

Mendes foi hospitalizado na última quinta-feira na casa de Saúde Santa Lúcia. O diagnóstico, provável causa da morte, foi uma infecção generalizada em decorrência de perfuração no intestino. Nos últimos anos, ele enfrentara problemas de hidrocefalia e de próstata. O general completaria seu 88º aniversário na próxima terça-feira, dia 23.

Ele deixa a viúva Maria Stella, as filhas Márcia, Sônia e Leila; nove netos e duas bisnetas. A família atenderá seu desejo de ser cremado. A cerimônia deve ocorrer no Cemitério do Caju, nesta sexta-feira (19/2), na cidade do Rio de Janeiro. O velório está marcado para às 17 horas no Cemitério São João Batista.

Numa época em que ainda vigoravam muitas incertezas e o medo era latente, o general teve um papel muito positivo, lembra o deputado federal José Genoíno (PT-SP) — ele próprio um dos agentes da transição, mas no Congresso. “O general Ivan era um homem lúcido e equilibrado”, depõe. “Ele segurou muitas barras e amenizou crises de alto potencial explosivo”, lembra o deputado, para frisar que guarda “as recordações mais positivas possíveis” do militar. Quando os dois se encontraram, já no governo Fernando Henrique Cardoso, em um seminário que discutiu estratégia e políticas nacionais, o general lembrou a ele os períodos delicados do final do regime militar. “Era você no Congresso segurando os radicais de lá e eu do lado de lá segurando os meus”, disse-lhe o general.

Para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), é uma perda lamentável. “O general Ivan cumpriu um papel importante no processo de redemocratização do Brasil. Em um momento tenso, quando era preciso ter nas Forças Armadas pessoas favoráveis ao processo de abertura e normalização das instituições brasileiras, ele foi fundamental”, afirmou o petista.

Direção oposta
Em sua última entrevista, dada à revista Consultor Jurídico, quando o governo Lula enfrentava seus piores índices de popularidade com a eclosão do episódio do “mensalão”, Ivan de Souza Mendes contrariou a voz corrente e elogiou a administração petista, ressalvando que a novidade não era o troca-troca da política, mas o fato de a barganha vir a público (Clique aqui para ler a entrevista).

Durante a entrevista, publicada em outubro de 2006, o general disse não se surpreender com escândalos como o do mensalão. “Essas coisas que estão ocorrendo aí são terríveis, mas elas sempre existiram. Políticos envolvidos com dinheiro sempre houve. É quase a mesma coisa que havia lá atrás, por baixo dos panos. Acho que agora aparece mais, mas o Congresso sempre foi mais ou menos assim”, disse.

Souza Mendes esperava que o governo Lula fosse um desastre. Mas se surpreendeu. "Estou admirado como ele conseguiu dar uma certa respeitabilidade ao governo", disse, e acrescentou tratar-se de um governo sério, declaração feita em uma época que o presidente não estava em suas melhores fases. "O curioso é que ele falhou na ética, onde era bom e acertou na economia, onde era mal."

Nascido em Cordeiro, no Rio de Janeiro, Ivan de Souza Mendes pertencia à Engenharia do Exército. Sua existência foi espartana e austera. Após o golpe de 1964, ele foi designado prefeito de Brasília pelo general Castelo Branco, indicado pelos irmãos Geisel (Orlando e Ernesto). Instado a seguir no cargo, renunciou para não prejudicar sua carreira militar. Quando Ernesto Geisel tornou-se ministro-chefe do Gabinete Militar da Presidência, levou-o para ser seu chefe de gabinete. Anteriormente, ele já servira no mesmo gabinete, no governo Jânio Quadros.

[Notícia alterada às 14h25 do dia 18/2 para acréscimo de informação.]

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