Outra vítima

Estado deveria primeiro dar chance a cidadão

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28 de setembro de 2009, 17h45

Sérgio Ferreira Pinto Junior, brasileiro, 24 anos, desempregado, pai de uma filha. É só o que se sabe do homem que foi morto em uma “ação policial bem sucedida” (clique aqui para ler mais). Também se sabe que, além da filha, tinha também mãe e irmã e que seu corpo só foi enterrado 3 dias após seu falecimento por absoluta falta de recursos. Aliás, Sérgio não foi morto, foi “neutralizado” com o disparo de um sniper (clique aqui para ler mais).

A neutralização de Sérgio ocorreu em frente às câmeras e foi transmitida para o mundo inteiro quase que em tempo real. Após, o que se viu foram aplausos. Nada muito diferente dos tempos vetustos onde, em praça pública, pessoas eram executadas debaixo de gritos e manifestações de euforia por parte de uma população que hoje consideramos ‘selvagem’ e ‘pouco desenvolvida’.

Em que diferimos daqueles? Somente quanto ao fato de que hoje, esse ‘espetáculo’ pode ser transmitido e visto por muito mais pessoas. Continuamos selvagens, ou pior: cruéis.

Não vou, aqui, entrar na seara da discussão do que é certo ou errado em termos de uma negociação onde há a vida de um refém em risco. O perigo ali era real e concreto. O que quero, caro leitor, é questionar, refletir, colocar para fora um sentimento estranho que nem sei nominar.

Quem era Sérgio?! Alguém que estava desempregado há três anos, que talvez tenha sido uma criança travessa como tantas crianças, que talvez tenha tomado escolhas erradas, mas que era um ser humano.

Na televisão, nas rádios, nos jornais, nos sites, só se viu a alívio pela ‘neutralização’ de Sérgio. Não se indagou se tinha dependentes, em que situação estava, o que o levou a tal lugar. Sérgio sequer tinha nome; era “o assaltante com a granada na mão”.

Colocar toda a culpa em Sérgio é fácil, afirmar que ser pobre não justifica entrar na criminalidade também. Difícil é ver a situação sob a perspectiva de Sérgio. Que escolhas ele teve? Que escolhas lhe foram dadas? Quem lhe deu uma chance?

Não sei. O que sei é que o mesmo Estado que ‘neutraliza’ seus cidadãos deveria, antes – e bem antes, quando Sérgio ainda era apenas aquele menino travesso – ter-lhe dado a chance de agir diferente, sem a pressão de estar sob a mira de um sniper (o novo nome dos antigos carrascos).

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