LIVRO ABERTO

A biblioteca básica de Luís Roberto Barroso

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7 de outubro de 2009, 12h13

Spacca
Luis Roberto Barroso - Spacca

O advogado constitucionalista Luís Roberto Barroso devora livros desde que se entende por gente. Todo dia pela manhã, dedica algumas horas a leituras acadêmicas, entre livros clássicos, artigos e teses de doutorado e mestrado. À noite, tenta conseguir uma brecha para ler um pouco de literatura. Isso sem contar, é claro, as horas de espera na ponte-aérea entre o Rio de Janeiro e Brasília, cidades onde Barroso tem escritório, também dedica à leitura.

Luís Roberto Barroso tem quatro bibliotecas, dividas entre os escritórios e casas do Rio e Brasília. Por isso, não sabe quantos livros tem. São muitos. As obras são dispostas por temas, o que deixa um confortável espaço entre as diversas pilhas. Na casa de Brasília, são dois ambientes dedicados à leitura. Diversos livros são marcados e frases são grifadas e comentadas. A biblioteca tem de tudo: grandes obras teóricas do Direito até livros sobre como passar em concurso público tem na biblioteca, que o advogado leu e tirou proveito de um trecho que citava o poeta Vinicius de Moraes. A poesia, aliás, é um dos gêneros favoritos do constitucionalista. A lista é longa. Numa tacada, Barroso cita Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Luís de Camões, Mario Quintana, Paulo Leminski e Carlos Drummond de Andrade.

Quando decidiu fazer Direito na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o Brasil vivia o auge da Ditadura Militar, na década de 1970. Barroso integrou o movimento estudantil Construção, a ala mais moderada da esquerda da Uerj. Naquele tempo, contudo, não queria ser advogado. Como muitos jovens, a sua paixão era a música. E aí veio a ideia de unir a poesia ao amor pela música. “Eu queria ser compositor, mas meu talento musical era limitado”, lembra. Restou então ouvir a poesia de Chico Buarque, Caetano Velloso e Luís Gonzaga Júnior.

O advogado recomenda dois livros fundamentais para a vida universitária. Para quem acabou de entrar na faculdade, Barroso sugere conhecer o trabalho de Marilena Chaui, com o Convite à Filosofia. Para quem vai ingressar em breve na advocacia, o professor recomenda livros que expliquem a vida humana. Em especial, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, do filósofo Emmanuel Kant. Para o advogado, as ideias de Kant sintetizam a dignidade humana. “Kant ensinou que todo homem é um fim de si mesmo, ninguém pode ser um meio para o fim alheio. E essa é a dignidade do homem moderno.”

Foi na Uerj que o advogado leu os clássicos como Karl Marx, Nicolas Maquiavel e Jean-Jacques Rousseau. Não gostou de O Príncipe, de Maquiavel, que considera uma leitura obrigatória para entender de política. Mesmo assim, recomenda. “Não é livro prazeroso de ler. Alguns livros não são interessantes durante, mas depois da leitura. O importante é o conhecimento que ficam e Maquiavel é uma lição sobre o pragmatismo.”

Hoje, a vida de Barroso é divida entre a advocacia e o estudo do Direito. Além de advogar em grandes casos, como a extradição do ex-ativista Cesare Battisti, Barroso dá aulas na Universidade de Brasília e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Até durante as férias o cotidiano do advogado e professor é guiado pelos livros. Todo mês de julho, Barroso escolhe uma biblioteca para visitar e, durante um mês, torna-se pesquisador visitante. Nas férias deste ano, o advogado levou a família para passar um mês em Boston, onde fica a Universidade de Harvard. “E assim eu passo as minhas férias, lendo nas bibliotecas e tendo uma vida familiar.”

Para cada pergunta sobre um tema da literatura, Barroso cita diversos livros. Para cada área do Direito, dispara uma lista de nomes fundamentais. Mas, para ser advogado mesmo, Barroso recomenda a leitura das tirinhas de Mafalda, do escritor argentino Quino. A menina é conhecida pela boa argumentação, ironia e ceticismo. “Não tem como ser advogado e não ler Mafalda.”

Barroso é advogado desde 1981. É mestre em Direito pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e doutor pela Uerj. Já escreveu diversos livros, entre eles, o Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: Os Conceitos Fundamentais e a Construção do Novo Modelo, publicado este ano pela editoria Saraiva. É bastante reconhecido pela comunidade jurídica. Sempre que abre uma vaga para ministro do Supremo Tribunal Federal, seu nome figura como um dos favoritos.


Primeiro livro

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Meu pé de laranja lima de José Mauro de Vasconcelos - DivulgaçãoO clássico Meu pé de laranja lima, do escritor fluminense José Mauro de Vasconcelos, foi o primeiro grande livro da vida de Luís Roberto Barroso. “É uma bela história de amizade”, comenta. O livro conta a história de um menino de cinco anos chamado Zezé, que pertencia a uma família pobre e numerosa. Antes do livro de José Mauro, Barroso lia também os gibis do Bolinha e Luluzinha.


Livros didáticos

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Toda Mafalda - Quino - DivulgaçãoO advogado recomenda diversos livros de Machado de Assis a Érico Veríssimo. Em relação a Machado de Assis, Barroso lembra de Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. “Mas eu só fui apreciá-los mais tarde, no final da adolescência. São livros cheios de nuances que exigem maturidade para perceber.” De Érico Veríssimo, o advogado lembra-se de Incidente em Antares, lido quando ele tinha 18 anos. “É um livro que deve ser lido ainda hoje.” Publicado em 1971, Incidente em Antares é o último romance de Érico Veríssimo. De sentido claramente político, o romance faz um panorama sócio-político do Brasil daquela época. Barroso recomenda, também, o livro Toda Mafalda, com a coleção completa das tirinhas da menina argentina eternizada pelo cartunista Quino.


Livros jurídicos
Para cada área do Direito, Barroso cita pelo menos três autores, mas não gagueja na hora de citar o livro que até hoje mais leu: Curso de Direito Constitucional Positivo, de José Afonso da Silva. “É um livro fundamental. Além da leitura completa, é uma obra que serve para consultas.” Barroso sugere também o Curso de Direito Constitucional, de Afonso Arinos de Mello Franco. “Foi um dos primeiros livros que me causaram uma impressão relevante”, lembra.


Li e recomendo

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1808, de Laurentino Gomes - DivulgaçãoDos típicos best-sellers, Barroso já leu de tudo. “Sempre leio no original em inglês, porque aí me serve para praticar o idioma”, explica. Ele tem, por exemplo, mais de dez livros do romancista John Grisham. Dos livros nacionais, Barroso gostou de 1808, de Laurentino Gomes. “Ver o tanto que o país evoluiu nesses 200 é alentador. A realidade de 1808 era precária.” Atualmente, o advogado lê O conto da ilha desconhecida, do português José Saramago. “Confesso que não gosto dele, mas uma aluna me deu esse de presente e disse que era um livro que eu ia gostar.”

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