Satiagraha e Abin

Lacerda diz que não sabia da quantidade de agentes

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20 de março de 2009, 15h14

Em depoimento à Corregedoria da Polícia Federal, o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, Paulo Lacerda, disse que não sabia que agentes colaboraram com o delegado Protógenes Queiroz no Rio e em São Paulo. Lacerda também tentou descolar sua imagem à do delegado. As informações são da Folha de S.Paulo.

Se for confirmado o depoimento, Lacerda admite que não tinha controle sobre sua equipe, já que conhecia apenas a participação de agentes em Brasília. Por isso, justificou, quando depôs à CPI dos Grampos em 2008 afirmou haver cedido "entre quatro e seis agentes". Um mês depois de deflagrada a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, Lacerda disse que a Abin teve "participação eventual".

Mas investigações apontaram que a participação de agentes da Abin foi superior à equipe formada por policiais federais. Segundo as investigações, eram os agentes que analisavam as escutas telefônicas e outros dados sigilosos.

Depois de as investigações terem apontado irregularidades na operação, Lacerda procurou descolar sua imagem da do delegado. Na época em que era Lacerda era diretor-geral da PF, Protógenes foi escolhido para comandar a operação. Segundo Lacerda, a escolha se deu por uma eventualidade. "Ele não tinha qualquer missão", disse o ex-chefe da Abin. Com isso, ele tenta desconstruir a versão corrente na PF de que Protógenes tem sua confiança.

Lacerda afirmou, ainda, que Protógenes "adotou estilo próprio", e que não tinha controle sobre os rumos da investigação, já que o delegado não "reportava" a ele as descobertas. Segundo Lacerda, Protógenes "talvez seja o delegado mais fechado" que conheceu.

O ex-diretor-geral da Abin também mudou a versão dada de que não teve acesso a documentos da Operação Satiagraha. Lacerda admitiu que examinou relatório da operação, um "calhamaço impresso, cerca de 30 e poucas páginas", que lhe foi entregue pelo agente Márcio Seltz.

À CPI Seltz disse que entregou a Lacerda um pen drive com parte dos grampos da Satiagraha. À época, Lacerda declarou que se encontrou com Seltz, mas que o documento não foi lido nem entregue a ele.

"Mais do que nunca, ele deve ser indiciado", disse o presidente da CPI dos Grampos, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ). Itagiba defende que a comissão sugira indiciamento do delegado e do ex-número dois da Abin José Milton Campana, sob a acusação de falso testemunho.

Nova função

O ministro da Justiça Tarso Genro foi questionado sobre as viagens que o Protógenes tem feito. Genro disse que os deslocamentos têm autorização da direção geral da PF. Protógenes tem viajado para dar palestras no país todo. Algumas delas a convite do PSOL. "Se vai mudar ou não essa liberalidade em relação ao delegado, vai ser resolvido a partir de agora com indiciamento e eventual abertura, se o diretor-geral determinar, de inquérito disciplinar", disse.

Protógenes foi indiciado pela Corregedoria da Polícia Federal. Ele é acusado de vazar dados da Satiagraha e por ferir a Lei de Interceptações ao escalar agentes para degravar e analisar grampos.

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