Livro Aberto

A biblioteca básica de Ives Gandra da Silva Martins

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29 de julho de 2009, 15h16

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Ives Gandra da Silva Martins lê diariamente desde os oito anos de idade. Na hora da leitura obrigatória, que permeou toda a sua infância e adolescência e também a de seus três irmãos, ele se debruçava sobre livros de formação moral, romances, poesias, filosofia e história. Por influência do pai, adora ler e escrever poesias. A primeira fez aos 12 anos. A última, há uma semana, para a mulher Ruth, enquanto ela lia debaixo do guarda-sol na beira da piscina.

Hoje, aos 74 anos, o advogado tem 30 mil livros na biblioteca. Um andar inteiro da sua casa teve de ser adaptado por uma decoradora para abrigar as obras. No escritório, os livros estão distribuídos em dois andares. Não faz muito tempo sabia de cabeça onde encontrar cada um deles. Agora, conta com a ajuda da arquivista Claudia Midori para organizá-los e encontrá-los.

De 1956 a 2009, o tributarista publicou 81 livros. No romance Um advogado em Brasília, ele se inspirou no advogado meio detetive Perry Mason, personagem criado pelo americano Erle Stanley Gardner. “O ponto de vista ético de Mason e o fato de nunca desistir da defesa de seus clientes me influenciaram”, diz Ives Gandra, ao revelar que decidiu ser advogado depois de ler algumas histórias do personagem.

A presença de clássicos escritores franceses e portugueses na sua formação também foi marcante: Émile Zola, Albert Camus, Júlio Verne, Camões, Antero de Quental, Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz.

Para não perder o hábito, Ives reserva no mínimo 15 minutos de leitura diária. Lê muitos livros ao mesmo tempo, misturando romance, economia, direito, música e artes. Na juventude, gostava muito de ler o maranhense Humberto de Campos Veras e desde aquela época traz a lição de que deve ler sobre muitos assuntos ao mesmo tempo “como forma de descansar a cabeça”. Era o que dizia o escritor.

Entre os livros a que está se dedicando atualmente está Uma Breve História do Século XX, do australiano Geoffrey Blainey. “Na história narrada, existem três grandes vertentes: a cronológica, a sociológica e a vertente do cotidiano, que é mais uma linha francesa. Neste livro, Geoffrey mistura as três”, conta. Ives não gosta muito de matemática, física, mas gosta de ler Stephen W. Hawking. O Universo Numa Casca de Noz está na sua seleção atual.


Primeiro livro

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Quincas Borba - DivulgaçãoUm escritor que sempre chamou a atenção de Ives foi Machado de Assis “Até hoje, sou um profundo admirador. Sempre gostei daquele estilo mais seco. Não diria cínico, mas cético, em relação à convivência na sociedade naquela época”, diz, citando Quincas Borba, Memorial de Aires e Memórias Póstumas de Brás Cubas como os mais marcantes.

No tempo em que foi para a França estudar perfumaria (em 1953, ainda achava que iria seguir os negócios do pai), sempre que tinha dinheiro, comprava livros de Machado de Assis traduzidos para dar aos amigos franceses. “Machado de Assis me influenciou muito. E eu entregava o livro aos meus amigos como forma de registrar a importância da literatura brasileira.”


Livros jurídicos

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Lições Preliminares de Direito - DivulgaçãoO professor Miguel Reale foi o que mais impressionou Ives, “sempre”. Depois da faculdade, quando já era um tributarista reconhecido, tornaram-se muito amigos e companheiros no Clube da Poesia. A primeira obra que leu do professor Reale foi Lições Preliminares de Direito. A partir dali, Ives não deixou mais de acompanhar as suas lições.

Eles se davam muito bem, segundo Ives. E, o melhor, é que tinham posições semelhantes em matéria de política. Quando assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Filosofia, assumiu a cadeira deixada pelo amigo Miguel Reale. “Era um homem insubstituível e que influenciou muito na minha vida profissional.”


Literatura básica
A obra de José de Alencar faz parte da vida de Ives. Quando prestou vestibular para entrar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, a prova era composta de três matérias: português, uma língua estrangeira e latim. Passada a prova dissertativa, o candidato tinha ainda pela frente a prova oral, com três examinadores. Na segunda etapa do vestibular, um dos examinadores foi o professor Waldemar Ferreira. Ele perguntou a Ives quais livros tinha lido de José de Alencar. “Quantos romances ele escreveu?”, perguntou Ives. A resposta do professor foi também a sua resposta. Já tinha lido a obra completa do romancista.

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As Aventuras do Capitão Hatteras no Polo Norte - Júlio Verne - Divulgação

Outro escritor marcante na vida do tributarista foi o francês Júlio Verne, que lia na língua original. Até hoje, tem todos os 82 livros publicados. “Naquela época, não tinha televisão. Estamos falando da década de 1940, 1950. Júlio Verne representava ver o futuro”, explica. Para Ives, Júlio Verne era um visionário, suas histórias eram emocionantes.

“Eu fiquei impressionado ao ler As Aventuras do Capitão Hatteras no Polo Norte”, conta. O capitão era obcecado pelo Polo Norte e quando consegue chegar perto, toda a tripulação cai e ele é obrigado a voltar. O livro termina com ele velho, morando na ponta de um continente, que formava um cabo. Todos os dias, ele caminhava em direção ao norte e só voltava no final do dia.

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Robur, O Conquistador - Divulgação

Robur, O Conquistador, em que o francês “tem praticamente a visão do que seria o avião moderno”, também foi mencionado por Ives. Do livro O Castelo de Cárpatos, publicado em 1889, o advogado lembra muito bem das cenas em que as pessoas que chegavam ao castelo eram monitoradas por uma televisão. Essa visão do futuro sempre caiu no gosto de Ives. A série Star Trek para ele é como Julio Verne nos livros. Além de explorar todas as regiões do mundo, Star Trek é cheia de noções de moral. “Já consegui fazer os meus netos gostarem da série. Sempre que assistem comigo, peço para tirarem a lição de moral daquele episódio”, conta.


Li e recomendo

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Forja, Caminho e Sulco - Júlio Verne - DivulgaçãoNa mesa da sala de espera, na mesa da sala de reunião e na sua mesa de trabalho, Ives Gandra Martins deixa um exemplar de livros de São Josemaria Escrivá, fundador da Opus Dei. Em Forja, Caminho e Sulco o leitor encontra pontos de meditação e pensamentos curtos.

“Gosto do seu lema de apóstolo: Trabalhar sem descanso” e “Por que essa precipitação? Não me digas que é atividade; é estouvamento” foram frases encontradas aleatoriamente durante a entrevista.

Em 2002, Ives foi até Roma acompanhar a cerimônia de canonização de São Josemaria Escrivá.

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