Escolas de Direito

Escondida, USF enfrenta queda na procura por vagas

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21 de fevereiro de 2009, 7h52

“Aqui é a Faculdade de Direito da Universidade São Francisco, e não do Largo São Francisco [USP], tá?”, esclarece calmamente o coordenador da faculdade de Direito, Cicero Germano da Costa, logo no primeiro contato feito pela reportagem. A confusão é comum. A USF fica na região do Pari, em São Paulo, antigo centro industrial. Seu curso funciona, desde 1990, no mesmo prédio que o quase centenário colégio Bom Jesus Antônio do Pari. As turmas de Direito do período matutino dividem corredores com crianças do ensino fundamental. Nesta semana, a série de reportagens Ensino de Direito fala sobre a USF.

Do metrô até a faculdade são quinze minutos de caminhada. O coordenador diz que são constantes as discussão sobre implantação de transporte para buscar e levar os alunos da estação de metrô Armênia até a faculdade. A localização, a confusão do nome com o da faculdade pública, a concorrência com mais três faculdades nas proximidades (Unip, Uniban e Faculdade Cantareira) são as razões da queda na procura pela instituição, que há dois anos tinha quatro candidatos concorrendo por uma vaga e hoje tem apenas um. Nos dois últimos semestres não foram instaladas turmas matutinas, pois as 70 vagas oferecidas para o turno não foram preenchidas.

Apesar desses contratempos, o coordenador afirma que o ensino não deixa nada a desejar. Procurador da Fazenda aposentado, ele atua como advogado e está à frente da faculdade de Direito há um ano, coordenando 1.400 alunos e 31 professores, que em sua maioria são advogados.

Fórmulas de aprendizado

Costa afirma que uma preocupação constate é com a atualização do aluno. Em dois semestres do curso há uma matéria optativa, onde a instituição oferece disciplinas voltadas à atualidade. Um exemplo são as aulas de Direito Eleitoral.

Como a instituição é religiosa, o aluno cursa a disciplina chamada Estudo do Homem Contemporâneo, onde se discute a comunidade, a formação do homem, a visão franciscana e a justiça social. “A grande diferença da USF é que formamos com a missão de difundir conhecimento para libertar o ser humano, através do diálogo entre as ciências, a fé e a fraternidade. Incentivamos a prática do bem e a construção da paz.”

O aluno do quinto ano, Marcelo Vanadio, diz que o ambiente reflete na sala de aula. “Os professores tratam os alunos com particularidade, são próximos, olham as dificuldades e ajudam”, disse. O estudante aprova o método de ensino, mas reclama da falta de títulos na biblioteca.

A diferença

No campo jurídico uma particularidade da USF, segundo ele, é a interdisciplinaridade, ou seja, a abordagem do mesmo assunto em diferentes disciplinas. O conteúdo prático começa no sétimo semestre, com produção de peças jurídicas e o acompanhamento de 10 audiências, no mínimo. Esse estilo de atividade é feito nos quatro últimos semestres. Em cada um deles, os alunos devem conhecer uma área diferente: cível, criminal, empresarial e trabalhista.

Dois pontos a serem melhorados no ensino, conforme reconhece o coordenador da faculdade, são: o índice de aprovação de Exame de Ordem, a última registrada pela faculdade foi 2007 com 20% de alunos aprovados, e a nota do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) onde registrou 2 pontos. A nota máxima é cinco. O próximo exame nacional de ensino para as faculdades de Direito deve ser esse ano.

Atendimento à comunidade

Nas dependências da faculdade há um Centro Integrado de Atendimento à Comunidade, local onde os alunos de Direito, Serviço Social e Psicologia atendem a comunidade. Pela atuação social, o centro recebeu o Prêmio Cidadania Sem Fronteira, organizado pelo Instituto da Cidadania Brasil e pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino.

Nesse espaço funciona também o Escritório Modelo, onde são atendidos os casos da comunidade. A participação do aluno não é obrigatória, é uma espécie de atividade extracurricular. O coordenador diz que é uma chance de o aluno ter contato com a realidade jurídica. Os clientes são atendidos sempre em duplas e com auxílio de um coordenador.

Visão social

A mensalidade do curso de Direito da USF é R$ 524, mas há possibilidades de bolsa com os incentivos federais: Financiamento Estudantil (FIES) e ProUni ( Programa Universidade para Todos).  Pessoas carentes e negros podem conseguir bolsa por meio da Educafro (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes). Os funcionários da Universidade e seus filhos têm bolsa integral. Para entidades que tem convênio como Sindicato dos Bancários há descontos parciais.

“O perfil do aluno da USF são jovens formados pelo ensino público que trabalham para pagar faculdade”, diz o coordenador. Marcelo Vanadio está no quinto ano do curso e faz estágio na área. Um dos fatores que o fez escolher a USF foi ter conseguido bolsa. Além da Universidade São Francisco, ele prestou vestibular em mais três faculdades.

A faculdade disponibiliza 95 computadores, tem biblioteca com 4.315 títulos jurídicos e 11.848 exemplares. Um novo espaço está sendo concluído. Nesse feriado de Carnaval, a biblioteca muda para uma sala maior. Há também uma nova sala para a simulação do tribunal de Júri.

A Universidade São Francisco tem quatro campi. São Paulo e Bragança Paulista oferecem o curso de Direito, as unidades Campinas e Itatiba já conseguiram autorização no Ministério de Educação e Ensino, mas ainda não abriram vestibular para o curso.

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